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Enfrentando preços altos, argentinos buscam Nikes e Big Macs mais baratos no exterior

06/01/2025 11h10

Por Eliana Raszewski e Renato Spyrro

SANTIAGO/RIO DE JANEIRO/BUENOS AIRES (Reuters) - Nos shoppings de Santiago do Chile e nas cidades de praia do Brasil, os argentinos estão comprando roupas, eletrônicos e caipirinhas aproveitando os preços mais baratos no exterior, uma vez que os custos em dólares na Argentina aumentam com o fortalecimento da moeda local.

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O peso argentino se fortaleceu na segunda metade do ano passado nos mercados paralelos que a maioria dos argentinos usa para contornar os rígidos controles monetários do governo. A taxa oficial desvalorizou, mas muito mais lentamente do que a inflação de três dígitos, aumentando o custo dos produtos.

"A Argentina ficou cara", disse a economista Marina Dal Poggetto, da consultoria EcoGo, sediada em Buenos Aires, estimando que, em termos reais, o peso estava três vezes mais forte agora do que em meados de 2023, quando o país era o destino mais barato da região. Ao mesmo tempo, o real do Brasil caiu para uma mínima recorde.

"Este ano, os argentinos vão passar as férias no Brasil", disse Dal Poggetto.

Do lado de fora do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, a argentina Fernanda Montaño, que estava de férias, disse que a viagem para o exterior foi mais barata devido à taxa de câmbio favorável.

"Foi muito mais barato para nós passar férias aqui do que na Argentina", disse ela, acrescentando que seu maior arrependimento foi não poder levar uma mala maior para comprar mais produtos para levar para casa.

"Fomos às compras ontem e ficamos muito surpresos com a diferença de preços dos eletrodomésticos. Não podemos levar muita coisa conosco, pois viemos de avião, mas é muito mais barato!"

A mudança drástica ocorreu desde que o presidente libertário da Argentina, Javier Milei, assumiu o cargo no final de 2023, introduzindo duras medidas de austeridade e uma iniciativa de corte de custos "déficit zero", que ajudou a fortalecer o peso.

As mudanças estabilizaram as finanças públicas do país produtor de grãos, que está saindo de uma recessão dolorosa. A inflação está começando a arrefecer.

NIKE, MCDONALD´S E LANCOME

Os preços de alguns produtos na Argentina têm sido distorcidos há muito tempo por controles cambiais e altos impostos, mas agora quase tudo está mais caro.

Um Big Mac do McDonald's -- frequentemente usado como um índice lúdico dos preços locais -- é vendido por até 7.600 pesos na Argentina (7,37 dólares pela taxa de câmbio oficial), contra cerca de 4,49 dólares no Brasil, 5,56 dólares no México e 6,89 dólares no Brooklyn, em Nova York. Os preços variam entre os pontos de venda, mesmo dentro da mesma cidade.

No Chile, na época do Natal, os argentinos estavam lotando as lojas para comprar jeans Levi's e tênis Nike, dizendo que poderiam economizar centenas de dólares.

"Acabei de comprar um par de botas para um dos meus filhos aqui na Nike e paguei cerca de 25 dólares. No meu país, o mesmo calçado custa de 100 a 150 dólares", disse a argentina Melanie Galarza em um shopping de Santiago.

A Reuters viu uma popular garrafa térmica da marca Stanley à venda em Santiago por 55.000 pesos chilenos (56 dólares) contra 140.000 pesos argentinos em Buenos Aires (135 dólares). Uma caixa luxuosa de maquiagem e cremes faciais da Lancome custava cerca de 160 dólares no Chile e 726 dólares na Argentina.

O McDonald's Corp, a Nike Inc, a L'Oreal SA, proprietária da Lancome, e a Stanley não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

O peso oficial da Argentina enfraqueceu cerca de 22% no ano passado, enquanto a inflação foi estimada em cerca de 118%. Isso fez com que os restaurantes, as lojas e o combustível ficassem muito mais caros em dólares do que eram há apenas alguns anos.

Essa tendência é uma possível dor de cabeça para o governo, que está tentando preservar as reservas esgotadas no país. O déficit do setor de serviços da Argentina aumentou em outubro, impulsionado pelos gastos dos viajantes com passagens e compras no exterior. O peso forte também aumenta a pressão para a desvalorização.

Mas o governo de Milei argumenta que os preços domésticos acabarão caindo com uma concorrência mais aberta. Milei é um grande defensor dos mercados livres, mesmo que isso tenha um custo de curto prazo. Suas políticas permaneceram amplamente populares entre uma população cansada de anos de disfunção econômica.

O banco central, por sua vez, estava tranquilo com relação à tendência, disse uma autoridade do banco que pediu para não ser identificado. Os gastos dos argentinos no exterior estavam "dentro das estimativas" e grande parte deles foi feita com fundos privados trocados por meio de mercados paralelos de moeda, o que significa que não atingiram as reservas, disse a autoridade.

Paula Cristi, gerente geral para a Argentina e o Uruguai da empresa de viagens Despegar, disse que estava vendo mais argentinos atraídos para lugares como o Brasil, à medida que a temporada de verão estava começando impulsionada pela taxa de câmbio favorável.

"Aqui é muito caro", disse Cecilia Cugnaso, preparando-se para partir para o Brasil de um aeroporto em Buenos Aires. "Na Argentina, tudo o que você compra é caro. No Brasil é praticamente a metade do preço."

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