Rússia e Ucrânia concordam com uma trégua marítima e energética; EUA buscam sanções mais brandas
Por Steve Holland e Anastasiia Malenko
WASHINGTON/MOSCOU/KIEV (Reuters) - Os Estados Unidos fecharam acordos nesta terça-feira com a Ucrânia e a Rússia para interromper seus ataques no mar e contra alvos de energia, com Washington concordando em pressionar para suspender algumas sanções contra Moscou.
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Os acordos separados são os primeiros compromissos formais dos dois lados beligerantes desde a posse do presidente Donald Trump, que está pressionando pelo fim da guerra na Ucrânia e por uma rápida reaproximação com Moscou que alarmou Kiev e os países europeus.
O acordo dos EUA com a Rússia vai mais longe do que o acordo com a Ucrânia, com Washington se comprometendo a ajudar a buscar o levantamento das sanções internacionais sobre a agricultura russa e as exportações de fertilizantes, há muito tempo uma demanda russa.
O Kremlin disse que os acordos do Mar Negro não entrariam em vigor a menos que os vínculos entre alguns bancos russos e o sistema financeiro internacional fossem restaurados.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, disse que isso não era verdade e que os acordos não exigiam alívio das sanções para entrar em vigor.
"Infelizmente, mesmo agora, mesmo hoje, no próprio dia das negociações, vemos como os russos já começaram a manipular", disse Zelenskiy em seu discurso noturno em vídeo. "Eles já estão tentando distorcer os acordos e, de fato, enganar nossos intermediários e o mundo inteiro."
Ambos os países disseram que contariam com o governo norte-americano para fazer cumprir os acordos, ao mesmo tempo em que expressaram ceticismo de que o outro lado os cumpriria.
"Precisaremos de garantias claras. E dada a triste experiência de acordos apenas com Kiev, as garantias só podem ser o resultado de uma ordem de Washington para que Zelenskiy e sua equipe façam uma coisa e não a outra", disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
Zelenskiy disse que os acordos de trégua entrariam em vigor imediatamente e que, se a Rússia os violasse, ele pediria a Trump que impusesse sanções adicionais a Moscou e fornecesse mais armas para a Ucrânia.
"Não temos fé nos russos, mas seremos construtivos", disse ele.
Os acordos foram alcançados após telefonemas separados na semana passada entre Trump e os dois presidentes, Zelenskiy e Vladimir Putin.
Putin rejeitou a proposta de Trump de um cessar-fogo total com duração de 30 dias, que a Ucrânia havia endossado anteriormente.
"Estamos fazendo muito progresso", disse Trump aos repórteres nesta terça-feira, acrescentando que havia uma "tremenda animosidade" nas negociações.
"Há muito ódio, como vocês provavelmente podem perceber, e isso permite que as pessoas se reúnam, sejam mediadas, arbitradas e vejam se podemos acabar com isso. E acho que isso vai funcionar."
Washington suavizou sua retórica em relação à Rússia nos últimos dias, com o enviado de Trump, Steve Witkoff, dizendo que não "considerava Putin um cara mau", alarmando as autoridades europeias que consideram o líder russo um inimigo perigoso.
O ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, disse que Kiev consideraria qualquer movimento de embarcações militares russas fora da parte oriental do Mar Negro como uma violação e uma ameaça, caso em que a Ucrânia teria o direito total de autodefesa.
PAUSA NOS ATAQUES ÀS INSTALAÇÕES DE ENERGIA
A Rússia atacou a rede elétrica da Ucrânia com mísseis e drones durante toda a guerra, argumentando que a infraestrutura de energia civil é um alvo legítimo porque ajuda a capacidade de combate da Ucrânia.
Mais recentemente, a Ucrânia tem lançado ataques de longo alcance contra alvos russos de petróleo e gás, que, segundo ela, fornecem combustível para as tropas russas e renda para financiar seu esforço de guerra.
O Kremlin disse que a pausa nos ataques à energia duraria 30 dias a partir de 18 de março, quando Putin discutiu o assunto pela primeira vez com Trump. A Ucrânia havia dito na semana passada que aceitaria essa pausa somente após um acordo formal.
O acordo sobre uma trégua no mar aborda uma questão que foi crítica no início da guerra, quando a Rússia impôs um bloqueio naval de facto à Ucrânia, uma das maiores exportadoras de grãos do mundo, agravando uma crise alimentar global.
Mais recentemente, as batalhas marítimas têm sido apenas uma parte comparativamente pequena da guerra desde 2023, quando a Rússia retirou suas forças navais do leste do Mar Negro após uma série de ataques ucranianos bem-sucedidos.
Kiev conseguiu reabrir seus portos e retomar as exportações em níveis próximos aos do pré-guerra, apesar do colapso de um acordo anterior de transporte marítimo no Mar Negro mediado pela ONU, mas seus portos têm sido alvo de ataques aéreos regulares. Zelenskiy disse que o acordo impediria tais ataques.
Moscou disse que o acordo exigiria o alívio das sanções, incluindo a restauração dos vínculos entre o banco de exportação agrícola da Rússia e o sistema de pagamentos internacionais Swift. Essa e outras medidas poderiam exigir a concordância dos países europeus.
Trump está pressionando os dois lados para pôr um fim rápido à guerra, uma meta que ele prometeu alcançar quando concorreu à Presidência dos EUA no ano passado.
A Ucrânia e seus aliados europeus temem que Trump possa fechar um acordo apressado com Putin que prejudique sua segurança e ceda às exigências russas, inclusive para que Kiev abandone suas ambições na Otan e ceda a totalidade de quatro regiões reivindicadas pela Rússia como suas.
(Reportagem de Katharine Jackson e Steve Holland em Washington, Anastasiia Malenko em Kiev e Dmitry Antonov em Moscou)