Por que a entrada da Colômbia na Otan preocupa latino-americanos?
Letícia Fonseca, correspondente da RFI em Bruxelas
Alguns especialistas latino-americanos acreditam que a cooperação pode ser interpretada como uma decisão de continuar bloqueando a influência venezuelana na região. Mas, em geral, a parceria colombiana com a aliança militar é vista como um alarme para a América Latina. Seria um sinal de que os Estados Unidos, ao lado dos europeus, estariam dispostos a interferir em questões sul-americanas.
Em junho de 2013, durante o primeiro mandato do presidente colombiano Juan Manuel Santos, quando a Colômbia e a aliança militar assinaram um acordo de intercâmbio de informação e segurança, vários governos vizinhos mostraram preocupação, inclusive o Brasil, na época governado por Dilma Rousseff. Desta vez, o governo Temer preferiu não comentar, argumentando ser uma “questão soberana” da Colômbia.
Já a Venezuela voltou a reprovar a cooperação militar. Caracas afirmou que a parceria com a Otan viola acordos bilaterais e regionais assinados pela Colômbia com organizações como a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) que declararam a região “zona de paz”.
Discurso antagônico de Santos
A Colômbia é o primeiro país sul-americano concluir um acordo de cooperação com a Otan. Ao receber o Prêmio Nobel, há dois anos, pelo acordo de paz assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, afirmou que, com o acordo, “a América é uma zona de paz do Alasca à Patagônia”.
Nesta quinta-feira, ao formalizar a parceria de seu país com a Otan, o discurso é bastante antagônico. Um dos possíveis motivos desta cooperação poderia ser o medo dos Estados Unidos da influência russa na Venezuela.
O governo de Caracas está extremamente frágil e as relações entre os presidentes Nicolás Maduro e Vladimir Putin se fortalecem cada vez mais. A Venezuela importa armas russas e Moscou apoia a construção de uma fábrica de metralhadoras e munições em território venezuelano. Washington receia que esta relação se aprofunde em uma aliança estratégica.
Interesse mais americano que europeu
No acordo entre a Colômbia e a Otan não está prevista nenhuma cooperação muito avançada com bases e exercícios militares, mas o fortalecimento do papel dos Estados Unidos através da aliança militar em questões de segurança na América Latina é altamente simbólico.
A Europa também tem interesse na Colômbia. Por exemplo, a União Europeia criou um fundo fiduciário para apoiar o processo de paz na Colômbia. Mesmo assim, a entrada da Otan na Colômbia deve ser um interesse americano mais do que europeu.
Ao usar a aliança atlântica, os Estados ficam um pouco menos expostos. Para os europeus, concordar com esta iniciativa pode ser uma maneira de encorajar Washington a permanecer engajada na Otan. No entanto, o papel dos americanos na aliança atlântica tem sido muito questionado, principalmente durante a administração do presidente americano, Donald Trump.
Como será a parceria da Colômbia com a aliança atlântica
A cooperação em assuntos relacionados à segurança eletrônica, marítima, crime organizado e terrorismo que será formalizada entre a Colômbia e Otan nesta quinta-feira, na sede da aliança militar, em Bruxelas, começou em 2013. Desde então, o Ministério de Defesa colombiano participou um programa da organização que ajuda países a melhorarem a transparência e a prestação de contas em suas instituições de defesa.
A Colômbia permitiu que a Otan trabalhasse em profundidade na instituição militar local e levou equipes a cursos da aliança militar na Alemanha e no Instituto de Defesa da Otan, em Roma, na Itália. Representantes da Colômbia também estiveram em inúmeras conferências militares de alto nível relacionadas à organização. Em 2015, a Colômbia contribuiu com um navio para a operação Ocean Shield da Otan para combater com a pirataria na região do Chifre da África.
Outros países que fazem parte da mesma categoria “sócios globais” da Otan são Afeganistão, Austrália, Iraque, Japão, Coréia do Sul, Mongólia, Nova Zelândia e Paquistão.
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