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Em Paris, irmã de Marielle Franco afirma que "defesa dos direitos humanos no Brasil só vai piorar"

31/10/2018 14h12

Acontece em Paris até esta quarta-feira (31) a Cúpula Mundial dos Defensores de Direitos Humanos 2018, reunindo 150 militantes do mundo todo.

O convite veio dos organizadores do evento e da Anistia Brasil e Anistia França, órgãos que, segundo Anielle Franco, estiveram presentes desde a morte de sua irmã, prestando assitência à sua família. A jovem ativista participou de palestras durante sua visita em Paris, onde discutiu o crime contra Marielle, o aumento das violências políticas no país e o recente resultado da eleição presidencial no Brasil, que deu vitória a Jair Bolsonaro.

Em entrevista à RFI, Anielle Franco confessou seu medo com o novo governo. “O que tenho dito à imprensa aqui é que estou muito assustada, óbvio. Já que ele [o presidente eleito] deixa bem claro que vai acabar com qualquer tipo de ativismo”, afirma. “Ele é contrário a tudo o que a gente prega e tem feito. Ele é contrário a nosso povo, às mulheres negras, aos homossexuais, aos pobres, ele deixa claro isso”.

Anielle lembra que as investigações sobre a morte de Marielle Franco continuam sem conclusão. “Não sei se existe justificativa para tanta demora, mas gostaria de saber”. Em seu encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron – que, segundo ela, foi motivado pela gravidade do crime contra sua irmã –, Anielle pediu apoio da França para dar mais visibilidade e apelo para que a justiça seja feita.

Visibilidade internacional foi de extrema importância

Após o crime, a prefeitura de Paris expôs durante semanas uma foto de Marielle Franco em uma das entradas de seu prédio no centro da cidade, afirmando que a capital francesa não esqueceria a vereadora brasileira. Um símbolo do choque que o caso provocou na comunidade internacional, algo vital para a visibilidade da atrocidade, de acordo com Anielle.

“O fato de que o caso da Marielle repercutiu no mundo inteiro nos deu uma força grande porque, se tivesse ficado só no Brasil, não teríamos alcançado tudo o que a conseguimos até agora”, disse a ativista, que conversou com outros defensores dos direitos humanos em Paris. “A troca foi maravilhosa, mas há muitos casos tristes. Aprendi mais do que falei”, declara.

Questionada sobre o rumo que os movimentos sociais vão tomar no Brasil e quais os conselhos para quem pretende fazer oposição ao governo de Jair Bolsonaro – que disse ter a pretensão de “varrer” seus adversários –, Anielle diz que é preciso ter cuidado.

Acho que os jovens têm que ter muita cautela com o que forem fazer agora, porque esses caras não estão para brincadeira. Olha quantos crimes políticos têm acontecido, desde o estupro [da estudante da Universidade de Fortaleza] até as mortes de homossexuais e transexuais. Essa violência de dedo na cara, de empurrões, é muito assustador. Acho que a tendência é só piorar, esperava que não, mas não tem muita saída”, afirma.