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RFI acompanha último combate dos curdos contra Estado Islâmico na Síria

25/01/2019 17h15

Qual o futuro dos curdos no nordeste da Síria? Desde o anúncio da retirada das tropas dos Estados Unidos, os soldados são claramente ameaçados pela Turquia. Ancara considera as Forças Democráticas da Síria (FDS) como terroristas. As FDS ainda se encontra envolvido na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), apoiadas por Paris e Washington. A RFI enviou um jornalista à província de Deir Ezzor, no leste da Síria, para acompanhar os curdos, que lutam sua última batalha contra o Estado Islâmico (EI).

Qual o futuro dos curdos no nordeste da Síria? Desde o anúncio da retirada das tropas dos Estados Unidos, os soldados são claramente ameaçados pela Turquia. Ancara considera as Forças Democráticas da Síria (FDS) como terroristas. As FDS ainda se encontra envolvido na luta contra o grupo Estado Islâmico (EI), apoiadas por Paris e Washington. A RFI enviou um jornalista à província de Deir Ezzor, no leste da Síria, para acompanhar os curdos, que lutam sua última batalha contra o Estado Islâmico (EI).

Por Sami Boukhelifa, enviado especial ao front de Hajin

Os confrontos são esporádicos, mas o perigo é permanente. No front de Hajin não existe uma linha divisória clara entre as Forças Democráticas da Síria (FDS) e os jihadistas. É um mosaico de posições controladas por um lado, ou por outro.

"Aqui, lutamos nas trincheiras e nas aldeias", explica Haval Simko, à frente de uma unidade de combatentes das FDS. Nós vamos de casa em casa, é uma guerrilha urbana. Os terroristas estão escondidos, eles conseguem se camuflar para não serem vistos por aviões. Mas nós controlamos várias posições militares por até dois quilômetros daqui.", diz o militar.

Na frente, os tratores entram em ação. A recuperação dos terrenos facilita o avanço das tropas. Para Haval Simko, "a situação é boa na frente, avançamos bem! O EI agora controla apenas duas aldeias, é tudo o que restou: M'rachda e Baghouth. O combate está atualmente concentrado em Baghouth", avisa.

Se Simko acredita que a recuperação de M'rachda "levará um pouco mais de tempo", o fim dos jihadistas já está próximo, segundo ele. Mas "ainda há civis do outro lado, não podemos deixá-los em nenhum lugar; eles têm que passar pelo corredor que colocamos no local. Existem muitos terroristas que se misturam com civis. Devemos permanecer vigilantes e realizar o trabalho de inteligência", avalia.

Esta semana, mais de 5.000 pessoas, a maioria composta por famílias de jihadistas, passaram por este corredor. As Forças Democráticas da Síria têm que lidar com esse fluxo maciço de pessoas, além dos combates em Hajin. Ao mesmo tempo, outro perigo espreita os curdos. Uma nova frente terrorista poderia ser aberta em Manbij. E, no noroeste da Síria, a Turquia está preparando uma ofensiva.

"Como eles podem nos apoiar contra o EI e permitirem que a Turquia nos invada?"

Para o presidente Recep Tayyip Erdogan, é impensável que sírios curdos ganhem autonomia. Estas não são palavras vazias; há exatamente um ano, em janeiro de 2018, o exército turco tomou medidas para controlar a curdos sírios em Afrin. De acordo com Mirvan Haval, um comandante das FDS, é graças à Turquia que os jihadistas têm reforçado suas posições no leste da Síria.

"Estávamos prestes a erradicar o grupo Estado Islâmico quando a Turquia lançou sua ofensiva contra Afrin”, denuncia. “Então, nós fomos forçados a retirar nossas tropas de elite do combate contra o EI, enviando-os para o norte para proteger nossas fronteiras e apoiar nossos irmãos. Durante esse tempo, o EI reuniu suas forças, remobilizou suas tropas e, eventualmente, lançou uma ofensiva utilizando uma nova estratégia"

Um ano depois, o anúncio da retirada dos Estados Unidos do leste da Síria transformou novamente a situação. Haval Mirvan teme um desengajamento militar dos EUA, mas tenta permanecer positivo: "62 países ainda estão na coalizão internacional. E entre eles há duas grandes potências, a França e a Grã-Bretanha", analisa.

"Mas, ao mesmo tempo”, acrescentou, “a saída dos EUA terá consequências desastrosas. Se os norte-americanos saírem, os turcos lançarão uma ofensiva para conquistar nossos territórios. É ilógico: como podem nos apoiar de um lado contra o os terroristas e permitir que a Turquia, responsável pela criação dos jihadistas, nos invadam?", disse o comandante.

Para Haval Mirvan, a Turquia abriu há anos sua fronteira e deixou passar milhares de terroristas, cujos elementos, especialmente vindos da ala mais radical, agora se encontram entrincheirados no leste da Síria.