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Petroleira russa Rosneft é fiadora misteriosa do governo Maduro, estima Le Figaro

31/01/2019 10h16

Em meio à crise na Venezuela, o jornal Le Figaro se interroga sobre o papel da companhia russa de petróleo Rosneft no país sul-americano. "A estatal russa é uma simples parceira industrial da Venezuela ou o banco que sustenta Nicolás Maduro?", questiona o jornal.

Em meio à crise na Venezuela, o jornal Le Figaro se interroga sobre o papel da companhia russa de petróleo Rosneft no país sul-americano.

Segundo reportagem do Le Figaro, a petroleira russa já investiu desde 2003 US$ 8,7 bilhões na Venezuela. Quando Hugo Chávez ainda era vivo, em 2010, o ex-presidente venezuelano vendeu ações que a PDVSA possuia em quatro refinarias alemãs para a companhia russa, numa operação de US$ 1,6 bilhão. Além disso, a Rosneft é acionista minoritária de cinco empresas filiais da PDVSA e, assim, participa da exploração de uma série de campos de petróleo na Venezuela.

De acordo com o levantamento do Le Figaro, o Kremlim teria investido nos últimos 12 anos US$ 17 bilhões na Venezuela. Não conseguindo obter o retorno desses empréstimos, a Rússia teria decidido "se reembolsar" por meio da Rosneft. Um contrato recentemente assinado entre os dois países obrigaria a PDVSA a entregar para Moscou 80.000 barris de petróleo a mais por dia, ou seja, o equivalente a 380.000 barris. A própria Rosneft declara ter US$ 3,1 bilhões a receber do Estado venezuelano.   

Segundo Mikhail Kroutikhin, da consultoria RusEnergy, ouvido pelo Le Figaro, as atividades da Rosneft na Venezuela "não são nada transparentes".

As sanções americanas comprometeram ainda mais as finanças das duas companhias. Atualmente, nem a Rússia nem os dirigentes das duas petroleiras comunicam sobre a saúde financeira da Rosneft, e é de conhecimento do mercado que a estatal russa é uma companhia altamente endividada.

Imprensa francesa analisa a crise

O jornal Ouest France, um dos títulos de maior tiragem no país, diz que há uma situação instável em torno do presidente Nicolás Maduro, inclusive entre os militares que apóiam o chavista. Os venezuelanos não querem uma intervenção externa nem uma guerra civil, mas a intensa pressão feita pelos Estados Unidos pode criar uma situação fora de controle, estima este diário.

O jornal católico La Croix, favorável à saída de Maduro, também adverte para o risco de agravamento da violência. A publicação defende uma transição coordenada com o apoio dos militares que já sinalizaram estar dispostos a abandonar Maduro. Na avaliação do La Croix, a oposição está muito dividida na Venezuela e, um primeiro momento, não seria capaz de conduzir o país a uma situação de estabilidade. Nesse caso, a melhor opção continua sendo uma transição negociada e todos os atores internacionais, incluindo os europeus, devem trabalhar diplomaticamente para esta solução.

Para o Le Figaro, Maduro tenta retomar o controle da situação ao propor a realização de eleições legislativas, descartando uma nova eleição presidencial. Porém, esse suposto sinal de abertura de Maduro foi rapidamente neutralizado pela proibição de saída do país do presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, assim como o bloqueio das contas bancárias do opositor.