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"Colapsologia", a nova teoria do fim do mundo, ganha cada vez mais adeptos na França

26/06/2019 13h06

A revista Yggdrasil, lançada nesta terça-feira (26) na França, é a mais recente iniciativa dos adeptos da "colapsologia". O conceito, baseado na convicção de que o planeta enfrenta uma crise climática e de abastecimento da qual não sairá ileso, tem conquistado cada vez mais franceses. Os adeptos se organizam em associações ou seguem os preceitos de "neo profetas", que se apoiam em estudos científicos para anunciar um colapso da civilização industrial.

A revista Yggdrasil, lançada nesta terça-feira (26) na França, é a mais recente iniciativa dos adeptos da "colapsologia". O conceito, baseado na convicção de que o planeta enfrenta uma crise climática e de abastecimento da qual não sairá ileso, tem conquistado cada vez mais franceses. Os adeptos se organizam em associações ou seguem os preceitos de "neo profetas", que se apoiam em estudos científicos para anunciar um colapso da civilização industrial.

O ideia de "colapsologia" começou a se popularizar em 2015 com o lançamento do livro Comment tout peut s'effondrer (Como tudo pode desmoronar, em tradução livre), do engenheiro agrônomo Pablo Servigne e do pesquisador Raphaël Stevens. Na obra, que virou um best-seller na França, eles definem um novo objeto de pesquisa: o colapso do mundo. Baseados em estudos científicos multidisciplinares bastante pessimistas sobre questões climáticas, escassez energética e penúria de alimentos, eles alertam para um cenário preocupante.

Para os autores, o debate sobre o desenvolvimento sustentável estaria ultrapassado e o "colapso" do mundo já estaria em curso. Ao contrário de cientistas como o francês Jean Jouzel, especialista em questões climáticas, que dizem que a população tem pouco mais de dez anos para reagir, Servigne e Stevens defendem, de forma quase profética, que o fim da civilização industrial chegará mais rápido do que imaginamos, inclusive para as gerações atuais. A lógica tem motivado muitos jovens, conscientes de que já viverão esse contexto, a se manifestarem pela proteção do planeta.

Se preparando para esse fim "inevitável", no ano passado os autores lançaram, junto com Gauthier Chapelle, o livro Une autre fin du monde est possible -Vivre l'effondrement et pas seulement y survivre (Um outro fim do mundo é possível. Viver o colapso em não apenas sobreviver a ele, em tradução livre). Trata-se de uma espécie de guia filosófico de como enfrentar o fim desse mundo tal qual conhecemos.

Teorias sobre extinção de Vikings e Maias inspiraram autores

Ambos os livros anunciam o fim dos recursos naturais e se baseiam em um modelo de ecologia radical, com menos dependência de produtos industrializados e tentativas de autonomia alimentar. Eles se inspiram, entre outros, nos trabalhos de Jared Diamond, autor do célebre Colapso - Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, livro publicado em 2005 no Brasil. O intelectual americano, que ganhou o Pulitzer com Armas, germes e aço, parte do exemplo dos Vikings e dos Maias para mostrar como a exploração excessiva dos recursos naturais teria contribuído para a extinção desses povos. A tese de Diamond já foi contestada por vários cientistas. Mas isso não impediu que os autores franceses o usassem como referência e se reivindicassem criadores de uma ciência interdisciplinar.

Regada pelos debates sobre o aquecimento climático nos últimos anos, a "colapsologia" vem ganhando adeptos. Os vídeos de Pablo Servigne publicados na internet têm milhares de visualizações e o autor dá conferências em auditório lotados pelo país, além de conceder inúmeras entrevistas.

Com o objetivo de propagar suas ideias, ele também é um dos idealizadores de Yggdrasil, uma publicação trimestral que acaba de ser lançada na França. O nome vem da mitologia nórdica e poderia ser traduzido como "a árvore-mundo que conecta céu e terra, mortos e vivos". Ecológica, impressa em papel reciclado, a revista terá apenas 12 edições e desaparecerá em seguida.

Associações à espera do colapso

Mas antes mesmo do lançamento do primeiro livro de Servigne e Stevens, algumas pessoas já se preparam para esse cenário catastrófico anunciado pelos autores. É o caso da associação francesa Adrastia, criada em 2014 e que tem mais de 400 membros. "O projeto nasceu da constatação da crise global que atravessamos. Essas crises, ecológica, energética e climática, não poderão ser resolvidas apenas com mais tecnologia", explica Dominque Py, representante da Adrastia. "Nós avançamos rumo a um declínio ou a um colapso da civilização industrial, que não poderá mais assumir seu próprio funcionamento", sentencia.

Ela concorda com as teorias de Servigne e Stevens e diz que é preciso se preparar para o momento em que a população mundial não terá mais agricultura ou eletricidade abundantes e baratas. "É preciso aprender a viver de maneira mais sobria e menos consumidora de energia, evitando situações de caos e tensão que vão surgir em razão dessas penúrias. Temos que nos organizar coletivamente para antecipar os choques que enfrentaremos nas próximas décadas".

Tinder para quem não quer enfrentar o fim do mundo sozinho

Mas será que é possível ser "colapsologista" e otimista?  "A tomada de consciência do colapso do mundo é mais uma questão de lucidez do que algo ligado ao fato de ser otimista ou pessimista", insiste Dominique Py. "Independentemente de se ver o copo metade cheio ou metade vazio, o mais importante é tentar analisar a situação com lucidez e não se iludir", finaliza.

Os "colapsologistas" já aceitaram esse preceito e há até quem busque seus semelhantes para não enfrentar o fim do mundo sozinho. Um grupo chegou a ser criado no Facebook para promover encontros entre os que seguem as teorias do desmoronamento da civilização industrial. Intitulada Adopte un colapso - Rencontrons nous avant la fim du monde (Adopte um colapsologista - Vamos nos encontrar antes do fim do mundo), a página funciona como uma espécie de Tinder para os desiludidos do planeta. Iniciada em tom de piada, ela reúne cerca de 3 mil membros e alguns casais já se formaram. Muitos se recusam a ter filhos e quase sempre se refugiam em zonas rurais, se preparando para o pior.