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Bispos querem aprovar conceito de "pecado ecológico" no Sínodo da Amazônia

26/10/2019 11h23

Os 184 bispos reunidos no Vaticano para o sínodo da Amazônia esperam aprovar neste sábado (26) um documento pedindo a introdução do "pecado ecológico", bem como a possibilidade de ordenar padres casados e ter mulheres como diáconas, temas tabu para os católicos conservadores.

Os bispos e cardeais participantes do encontro, a maioria latino-americanos representando a Igreja Católica dos nove países da Bacia Amazônica, devem votar um documento final com quase 200 pontos, incluindo alguns que gerarão muita controvérsia. Cada ponto será submetido a votação e deve exceder 2/3 dos 184 votos para ser aprovado.

Após três semanas de reuniões a portas fechadas no Vaticano, durante as quais foram discutidos os grandes males da Amazônia, os bispos consideram que chegou a hora de dar um caráter próprio à Igreja dessa imensa região ameaçada por incêndios, devastação e miséria.

Além de um "rito amazônico" para as comunidades locais, com mais de 400 povos indígenas, os religiosos propuseram a introdução do "pecado ecológico". Com isso pretendem promover uma "conversão ecológica" dos católicos, considerando a destruição do meio ambiente como um pecado contra Deus, contra os outros e contra o futuro.

"Os pecados ecológicos são algo novo para a Igreja. Devemos começar a confessá-los", pediu dom Brito Guimarães, arcebispo de Palmas (Brasil) perante os colegas. Os bispos ouviram o testemunho de indígenas, especialistas, missionários e freiras, que denunciaram a destruição da floresta, reconheceram sua preocupação com a contaminação da água com mercúrio e com a violência contra as mulheres indígenas.

"A Igreja entrou numa luta sem retorno em defesa da terra, da água e do ar; e na vanguarda da defesa climática", reconheceu o presidente da Conferência Episcopal Argentina (CEA), dom Oscar Ojea.

Rito amazônico

Junto com o pecado, se introduziria o rito amazônico, o que para alguns é uma heresia. "Não podemos continuar nos comunicando com esquemas estrangeiros", explicou à imprensa o padre mexicano Eleazar López, especialista em teologia indígena.

A ideia de usar estátuas e símbolos das populações amazônicas nos ritos litúrgicos já gerou reações, principalmente dos setores mais conservadores.

Vários objetos sagrados para os indígenas e usados durante algumas celebrações no Vaticano foram roubados na semana passada de uma igreja e lançados no rio Tibre, em um gesto de provocação que foi condenado pelo papa, que também pediu perdão.

Tudo parece indicar que o papa argentino concorda com um rito amazônico, uma vez que ao abrir o sínodo, na presença de vários representantes de comunidades indígenas, defendeu que usassem seus trajes tradicionais tanto em reuniões quanto em cerimônias.

"Não há diferença entre as penas na cabeça de um indígena da Amazônia e o chapéu usado pelos líderes da Igreja", comentou Francisco.

'Viri probati'

Entre as questões explosivas, que geram críticas entre os conservadores e que têm sido amplamente abordadas no sínodo, está a possibilidade histórica de ordenar homens casados como padres, os chamados "viri probati", muitos deles indígenas, para lidar com a falta de padres na região.

Seriam dispensas concedidas pelo papa, semelhantes às dos pastores anglicanos casados que depois se converteram ao catolicismo, disse um bispo. Um debate que poderia gerar até um cisma pela defesa do celibato dos padres em vigor desde o século XI.

Batalha das mulheres

Outra questão controversa é o reconhecimento oficial pela Igreja do papel fundamental que as mulheres leigas desempenham na difusão da fé católica na Amazônia. Parte dos bispos da região deseja criar "ministérios (funções)" para as mulheres, ou seja, mulheres diáconas, devido à escassez de padres.Seria uma tentativa de reconhecer oficialmente o que já está acontecendo em muitas comunidades na Amazônia.

Em uma carta dirigida ao papa, as 35 mulheres convidadas ao sínodo pediram para votar no documento final. Em caso de autorização, seria um fato histórico para a Igreja.

Desde que foi eleito pontífice em 2013, Francisco propôs abrir as portas para as mulheres na Igreja, nomeou algumas para postos relevantes e deu-lhes a palavra no sínodo, mas sem poder de voto.

Muitas das participantes vivem na selva, percorrem trilhas, batizam, celebram casamentos, ouvem confissões e convivem com violência, tráfico de drogas, prostituição e exploração da terra.

* Com informações da AFP