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Em Paris, delegação da Rio 2020 revela programação para o ano em que será capital mundial da arquitetura

18/02/2020 14h10

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em Paris recebeu nesta terça-feira (18) a delegação carioca responsável pelos preparativos da agenda do Rio de Janeiro para 2020, quando a cidade ostenta o título de capital mundial da arquitetura.

Porém, dessa vez, não são as belezas naturais da Cidade Maravilhosa que estarão em foco. Mas sim os seus desafios, os problemas urbanos, de uma metrópole cheia de contradições e onde muitas pessoas vivem em circunstâncias difíceis.

"Nós temos mais de mil favelas na cidade, onde reside um quarto da população", lembrou Valéria Hazan, diretora-executiva do comitê organizador Rio 2020. "A boa urbanização das cidades interfere diretamente na economia e, a partir desse olhar, acreditamos que podemos deixar um legado de educação urbana, de multiplicação de propostas pela sociedade civil, daquilo que a população quer para a sua cidade", acrescentou.

Ao vencer cidades como Paris, na França, e Melbourne, na Austrália, o Rio de Janeiro fica responsável pela organização do Congresso Mundial da União Internacional dos Arquitetos, previsto para acontecer entre os dias 19 e 26 de julho. A diversidade urbanística da segunda maior cidade brasileira foi levada em conta na escolha.

Muitas cidades em uma

Localizada entre o mar e a montanha, o Rio tem 84 quilômetros de praias, 162 bairros e uma população de mais de seis milhões e 700 mil pessoas. Um caldeirão cultural rico em história, e que ajudou a moldar a sociedade brasileira, por ter sido porto e capital do Brasil por mais de dois séculos.

"Devemos pensar globalmente e agir localmente. Nosso objetivo é achar soluções e eu acredito que os encontros no Rio, ao longo desse ano, vão trazer respostas importantes para a humanidade. Teses sobre como melhorar a vida das pessoas e como superar os grandes problemas", disse na abertura do evento na capital francesa, Antonio Fernando Cruz de Mello, coordenador de relações internacionais da prefeitura do Rio de Janeiro.

"Isso representa um aporte de ideias e influências muito importante para superar problemas e desafios enormes que o Rio, como qualquer megalópole, terá no futuro", disse à RFI o embaixador Santiago Mourão, representante permanente do Brasil na UNESCO.

Mourão ainda lembrou que a organização tem uma relação longa com a cidade do Rio que, em 2012, já recebeu o título de patrimônio cultural mundial da UNESCO, na categoria paisagem urbana.

Em 2017, o sítio arqueológico do Cais do Valongo, por onde desembarcaram milhares de escravos trazidos para o Brasil, também foi declarado patrimônio mundial. A próxima candidatura a ser defendida pelo Rio será a de transformar o Sítio Burle Marx, construído pelo paisagista e arquiteto Roberto Burle Marx em sua residência, na zona oeste da cidade, num local reconhecido como patrimônio mundial da UNESCO.

Crivella mandou mensagem

Impossibilitado de vir à Europa em razão dos preparativos para o Carnaval, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, enviou uma mensagem que foi lida durante a cerimônia em Paris. Segundo ele, a "democratização da arquitetura" é o mais importante nesse ano. "Entre os tópicos a serem abordados, devemos destacar a relevância de estudar soluções para os mais vulneráveis do Rio de Janeiro", destacou Crivella, ao convidar profissionais do mundo todo para discutir "o papel das cidades, não apenas de hoje, mas do futuro".  

Nesse carnaval, o assunto será abordado nos desfiles de pelo menos três escolas de samba do grupo especial: Unidos da Tijuca, União da Ilha e Vila Isabel.

Maior congresso de arquitetura do mundo

Mais de 15 mil arquitetos de todo o planeta são esperados no Rio de Janeiro entre os dias 19 e 26 de julho, quando a cidade sediará, pela primeira vez, o Congresso Mundial de Arquitetura, evento realizado pela União Internacional de Arquitetos (UIA) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).

"O Brasil é o país mais popular da América do Sul, com seu charme, geografia, belezas, música, dança, literatura, língua e arquitetura" destacou Thomas Vonier, presidente do UIA. "Mas também tem os desafios do século 21: pobreza e desigualdade", acrescentou.

O presidente do IAB, Nivaldo Andrade, também analisou o contexto em que as soluções precisam ser pensadas. "Um mundo globalizado, que facilita a mobilidade, mas aumenta a desigualdade e as ameaças ao meio ambiente", afirmou, acrescentando que "é preciso preservar as singularidades de cada lugar".

Uma programação intensa

Ao longo de 2020, cariocas e turistas poderão acompanhar uma extensa agenda de eventos voltados para a arquitetura, urbanismo e desenvolvimento sustentável.  

Entre os locais escolhidos para abrigar a programação estão o Centro Carioca de Design, o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, o Parque das Ruínas, as Lonas Culturais, além do Museu do Amanhã e do Museu Nacional de Belas Artes. Estão previstos shows, seminários, palestras, workshops, lançamentos de livros e de filmes. Grande parte das atividades, 71,2%, foram propostas pela sociedade civil e 28,8% por órgãos governamentais.

"Fizemos um chamamento público para a sociedade civil apresentar propostas ligadas às temáticas de eventos culturais ligados à arquitetura, urbanismo, sustentabilidade e gestão urbana. Recebemos 250 propostas, da quais 195 foram validadas", revela Valéria Hazan, diretora-executiva do comitê organizador Rio 2020. "Oferecemos o apoio institucional da prefeitura do Rio através de uma chancela, uma carta de apoio para o proponente conseguir patrocínio se for necessário", explica.

O próximo desafio será compartilhar essa experiência com Copenhague, na Dinamarca, que será a próxima capital mundial da Arquitetura, em 2023.

"O que se espera é que haja colaboração entre as cidades. Só assim poderemos avançar. Essa é a chave para melhorar os investimentos e as despesas feitas com o dinheiro dos contribuintes, com mais eficiência, inovação e atratividade", conclui Paulo Protásio, da agência de desenvolvimento FomentaRio.