Mundo pós-coronavírus será de maior poder para a economia digital
Como será o "day after" pós-coronavírus? Vai mudar tudo, ou fica tudo como dantes no quartel de Abrantes? Estamos longe de ter saído do buraco sanitário e econômico. Vamos viver meses - senão anos - com as medidas de precaução. Até descobrirem uma vacina. E não vai ser fácil relançar uma economia mundial quase parada, com centenas de milhões de desempregados, setores inteiros paralisados e milhões de empresas falidas.
Muita gente acha - alguns até esperam - que a dita "globalização" acabou. E que vamos voltar ao tempo das economias fechadas, dos Estados soberanos todo-poderosos controlando as capacidades produtivas nacionais e determinando os modos de consumo dos cidadãos.
Uma espécie de mítico revivalismo dos anos 1950-1960, idade da produção e consumo de massa, do estado de bem-estar e das tensões entre nações administradas no âmbito de uma rede de organizações multilaterais. Só que o futuro não será uma volta ao passado.
Muita coisa vai mudar, não há dúvida. O primeiro sinal é a aceleração do movimento que já existia antes da epidemia: o poder, cada vez maior, da economia digital.
Os principais setores da velha economia de massa do século XX estão degringolando: transportes aéreos e marítimos, automóveis, cadeias de produção globais lineares, turismo, milhões de restaurantes e hotéis, moda e luxo, minérios, petróleo, bens de consumo duráveis, máquinas e equipamentos....
Quem está se saindo bem da crise - fora as empresas especializadas em saúde - são as grandes companhias de alta tecnologia, sobretudo os grandes mastodontes das redes de comunicação globalizadas, como Google, Amazon, Facebook, Apple ou Microsoft, os famosos GAFAM.
Sem eles seria impossível manter os contatos durante as quarentenas, garantir as entregas a domicílio, turbinar o ensino ou o trabalho à distância, implementar uma política de testes e rastreamento para combater o COVID-19 ou acelerar a cooperação transnacional para experimentar uma vacina.
Trabalho à distância
Várias sondagens já demonstraram que bom número de pessoas confinadas estão se dando bem com o trabalho à distância. E achando até que as relações humanas com os colegas são mais profundas e interessantes do que nos frios e imensos escritórios tradicionais.
E as empresas estão descobrindo que as videoconferências e o home office custam bem mais barato e são mais produtivos do que a velha organização empresarial do século passado. Além do mais, a crise ensinou que não é prudente depender de cadeias produtivas situadas num país longínquo.
A ideia hoje é diversificar - e muito - as cadeias de insumos e aumentar radicalmente a produtividade graças às novas tecnologias: automação, Internet das Coisas, impressoras 3D, administração e inovação permanentes e ágeis através de redes de comunicação globalizadas ultra-rápidas.
O modelo dominante do futuro será o de unidades produtivas locais adaptadas para cada mercado em particular, todas globalmente conectadas online, fabricando, com custos abordáveis, bens personalizados para empresas ou consumidores individuais.
E tudo isso respeitando ao máximo o meio-ambiente. Só que nada disso é possível sem os poderosos GAFAM que garantem a infraestrutura globalizada desse novo mundo - tanto no hardware quanto no software. E são eles, junto com as futuras empresas "digitalizadas" e supereficientes, que vão devorar a parte do leão dos benefícios da nova economia-mundo.
Futuro dos governos nacionais
Apesar de mostrarem os músculos gastando bilhões para salvar suas economias, os governos nacionais não têm futuro fora dessa avassaladora globalização digital. Vários não querem aceitar essa nova e mais pesada dependência. Mas não há jeito de garantir uma vida descente aos seus cidadãos sem isso e sem profundas cooperações internacionais.
E, mais ainda, sem instâncias administrativas e políticas transnacionais, independentes desses mesmos governos. O mundo digital anuncia também o declínio do velho multilateralismo, onde alguns governos soberanos e superpotências decidiam o futuro da humanidade.
No mundo online ainda haverá espaço para arroubos nacionalistas, mas os Estados soberanos serão só administradores locais de uma sociedade global interconectada.
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