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Revista mergulha nos bastidores da busca pela cura do Covid-19 no Instituto Pasteur

22/05/2020 17h56

A revista M do jornal francês Le Monde trouxe em sua edição dessa semana uma longa reportagem nos bastidores do Instituto Pasteur, em Paris, uma das principais instituições científicas do mundo e um dos órgãos europeus mais atuantes na busca de uma vacina para a Covid-19. Os pesquisadores são otimistas e afirmam que os testes clínicos poderiam ser iniciados já no mês de julho.

Fundado em 1888 por Louis Pasteur, o inventor da vacina contra a raiva, o Instituto Pasteur não está aberto para visitas. Mas a reportagem da revista M conseguiu passar um dia acompanhando o trabalho dos cientistas na luta mundial contra a Covid-19.

Dos 2.600 funcionários, apenas 370 estão atualmente no Instituto, dos quais 300 atuam exclusivamente na busca da vacina contra o novo coronavírus. Eles trabalham cerca de 14 horas diariamente, sete dias por semana, relata a reportagem. "É uma corrida contra o tempo, que mistura uma colaboração (internacional) de proporções inéditas e uma concorrência desenfreada", descreve o texto, lembrando que mesmo se os cientistas compartilham mais do que nunca suas informações, todos também querem ser os primeiros a encontrar a vacina "blockbuster".

A revista conta ainda que apesar de reunir alguns dos pesquisadores mais experientes em virologia, o instituto francês levou um certo tempo para se dar conta do tamanho da epidemia. A mobilização do Pasteur começou apenas em 22 de janeiro, dois dias antes da França registrar os primeiros caso do vírus na Europa. Mas as pesquisas só vão se acelerar a partir de 26 de fevereiro, com a morte de um professor em Oise, nos arredores de Paris, no que se tornou um dos primeiros focos da epidemia no país, revela a reportagem.

Concorrência com grandes laboratórios privados

Diante da urgência sanitária, o Instituto Pasteur teve que acelerar todas as etapas habituais que tradicionalmente pontuam esse tipo de pesquisa. "Obter uma vacina eficaz exige geralmente entre cinco e dez anos", frisa a revista. "Mas para a Covid-19, os pesquisadores apostam em um prazo de 12 a 18 meses, o que seria inédito".

Uma das pistas mais fiáveis até agora é o da adaptação de uma vacina contra sarampo. O princípio seria o mesmo usado em testes de vacinas para o Zika ou o chikungunya, conta o texto. "Em julho, 90 voluntários efetuarão os primeiros testes clínicos no hospital Cochin, em Paris, e em uma clínica na Bélgica. Os primeiros resultados são esperados para outubro".

Mas a concorrência é grande, lembra o texto. Segundo a revista científica Nature, pelo menos 115 projetos de vacina contra esse coronavírus foram catalogados. Em meados de maio, oito testes clínicos já estavam sendo feitos em seres humanos. No entanto, entre esses mais de 100 projetos, 72% são provenientes de grandes laboratórios farmacêuticos privados, como Johnson & Johnson, Roche, Sanofi, Pfizer, GlaxoSmithKline..., e empresas de biotecnologia, como o gigante norte-americano Moderna Therapeutics ou o chinês CanSino. Somente 28% desses programas vêm do setor acadêmico ou de organização sem fins lucrativos, entre eles o do Pasteur, explica o texto da revista M.