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Com 337 novas sentenças, Turquia soma quase 3.000 condenados à prisão perpétua por tentativa de golpe

26/11/2020 12h54

Um tribunal da Turquia condenou 337 pessoas nesta quinta-feira (26), incluindo oficiais e pilotos da Aeronáutica, pela tentativa frustrada de golpe de Estado em 2016 contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, ao final de um grande julgamento em Ancara.

O anúncio do veredito, no maior tribunal da Turquia, durou 30 minutos. Sem surpresa, as penas pronunciadas foram duras contra os opositores do regime ultraconservador instaurado por Erdogan. Os acusados ??foram declarados culpados de "tentar derrubar a ordem constitucional", "tentativa de assassinato do presidente" e "homicídios voluntários". Entre os condenados, há pilotos que bombardearam vários locais na capital, Ancara, como a sede do Parlamento, e oficiais que lideraram o golpe da base militar de Akinci na madrugada de 15 a 16 de julho de 2016.

Outras 60 pessoas receberam penas menores e 75 foram absolvidas. No total, 475 pessoas eram julgadas no processo, que começou em agosto de 2017 e aconteceu na maior sala de audiências do país, construída especialmente no complexo penitenciário de Sincan, na província de Ancara.

A maioria dos réus, incluindo o empresário Kemal Batmaz, foi condenada à prisão perpétua "com agravante". Isso implica condições mais rígidas de detenção. Essa caracterização substituiu a pena de morte, que foi abolida em 2004 na Turquia. Os condenados são suspeitos de terem liderado a tentativa de golpe em estreita ligação com seu suposto líder, o pregador muçulmano Fethullah Gülen, que mora nos Estados Unidos.

Durante o levante, o então comandante do Estado-Maior e atual ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, e outros oito militares de alta patente foram sequestrados na base militar de Akinci e libertados na manhã de 16 de julho, após o fracasso do golpe. A repressão ao motim terminou com 251 mortos e mais de 2.000 feridos.

Naquela noite, caças F16 bombardearam o Parlamento turco em três ocasiões, assim como estradas ao redor do palácio presidencial, o quartel-general das forças especiais e da polícia de Ancara. Os bombardeios deixaram 68 mortos e mais de 200 feridos na capital turca. Nove civis perderam a vida em uma tentativa de resistir aos golpistas na entrada da base.

"Justiça foi feita"

Ufuk Yegin, presidente de uma associação de parentes das vítimas, considerou as penas justas. "Justiça foi feita. O Estado não deixou o sangue dos mártires e dos feridos em vão", afirmou Yegin. "Acreditamos que as sentenças foram decididas de acordo com as leis existentes", completou.

O governo atribui a tentativa de derrubar o presidente Erdogan ao pregador Fethullah Gülen, um ex-aliado que mora nos Estados Unidos há duas décadas. O religioso, que tem um pedido de extradição solicitado por Ancara, nega as acusações.

Gülen e Adil Öksüz, um professor de Teologia de Ancara que é considerado pelo governo o líder operacional dos golpistas, foram julgados à revelia. Seus casos foram separados para outro processo.

Quase 3.000 prisões perpétuas

Desde a tentativa de golpe de Estado, as autoridades perseguem de forma incessante os partidários de Gülen e organizaram expurgos sem precedentes na história moderna da Turquia. Dezenas de milhares de pessoas foram detidas e mais de 140.000 foram demitidas ou suspensas de seus cargos, ou funções. As ondas de detenções prosseguem até hoje, mas com um ritmo menos intenso cinco anos depois da tentativa de golpe.

Mais de 520 pessoas sentaram no banco dos réus em um processo relacionado com as atividades da guarda presidencial. Ao menos 290 julgamentos relacionados com a intentona golpista foram concluídos. Outros nove ainda realizam audiências. Outros julgamentos, com um número maior de acusados, estão em curso.

Os tribunais condenaram até o momento cerca de 4.500 pessoas, quase 3.000 à prisão perpétua, de acordo com dados oficiais.

Com a correspondente da RFI em Istambul, Anne Andlauer, e AFP