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"Cenas vergonhosas": líderes de todo o mundo criticam Trump e condenam invasão do Capitólio

07/01/2021 11h15

Líderes do mundo inteiro reagiram à invasão do Capitólio, na quarta-feira (6), por apoiadores de Donald Trump, após o protesto em Washington que contestou o resultado das eleições presidenciais em novembro. As imagens de manifestantes descontrolados, vandalizando a sede do Congresso dos Estados Unidos, chocaram o planeta e comoveram representantes de vários países.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, o presidente francês, Emmanuel Macron, prestou solidariedade ao povo americano. Condenando os incidentes em Washington e "partidários do presidente em fim de mandato que colocam em dúvida, com armas, os resultados legítimos de uma eleição", Macron declarou que não "se pode ceder" à "violência de alguns" contra as democracias. 

"Quero afirmar nossa confiança na força da democracia americana. Quero afirmar nossa amizade ao povo e à democracia americana. Quero dizer que nossa luta é comum para que nossas democracias saiam mais fortes deste momento que vivemos hoje", ressaltou Macron.

Já a chanceler alemã, Angela Merkel, se declarou "furiosa e triste" com o caos nos Estados Unidos e afirmou que o líder republicano tem parte de responsabilidade pelo que aconteceu. "Lamento profundamente que o presidente Trump não tenha admitido sua derrota, desde novembro e de novo ontem", criticou.

"As dúvidas sobre o resultado das eleições se reacenderam e criaram o clima que tornou possível os incidentes de ontem à noite", acrescentou. Segundo Merkel, seu choque foi compartilhado por "milhões de pessoas que admiram a tradição democrática dos Estados Unidos". 

Antigo aliado de Trump, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, denunciou o que chamou de "cenas vergonhosas" em Washington e fez um apelo por uma "transição pacífica" de poder. "Cenas vergonhosas no Congresso americano. Os Estados Unidos são os defensores da democracia em todo o mundo e agora é vital que a transferência do poder seja feita de forma pacífica e ordenada", escreveu o premiê no Twitter.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, também afirmou que "uma transição pacífica é central", insistindo no fato de que "Joe Biden venceu as eleições". Já o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, denunciou um ataque sem precedentes à democracia nos Estados Unidos e pediu respeito ao resultado das eleições de novembro.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse estar "entristecido" pelos incidentes no Capitólio. "Nessas circunstâncias, é importante que os responsáveis políticos façam seus apoiadores compreenderem a necessidade de evitar violências e respeitar os processos democráticos e o Estado de direito", afirmou, por meio de um comunicado. 

"Inimigos" de Trump

Alguns inimigos declarados de Trump também reagiram. O presidente iraniano, Hassan Rohani, alertou contra os perigos da ascensão do populismo nos países do Ocidente. "O que vimos nos Estados Unidos ontem à noite e hoje mostrou a que ponto a democracia ocidental é vulnerável e frágil", afirmou Rohani, em um pronunciamento na televisão.

O governo da China afirmou que espera um "retorno à ordem" em Washington e ironizou o caos, dizendo que as cenas do Capitólio tinham similaridade com os protestos de 2019 em Hong Kong. "No momento em que descreveram os manifestantes violentos em Hong Kong, que palavras eles usaram? Um belo espetáculo", questionou uma porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying. Desta vez, porém, "a reação de algumas pessoas nos Estados Unidos, incluindo alguns meios de comunicação, é completamente diferente", completou. 

Para a Rússia, a invasão do Capitólio é um "problema interno" dos Estados Unidos. No entanto, a porta-voz da diplomacia do país, Maria Zakharova, criticou Washington. "O sistema eleitoral dos Estados Unidos é arcaico, ele não responde às normas democráticas modernas", disse, citada pelas agências estatais da Rússia.

Na América Latina, governos de esquerda devolveram, com ironia, as críticas que historicamente receberam dos Estados Unidos. "A Venezuela expressa a sua preocupação com a violência na cidade de Washington, condena a polarização política e aspira que o povo estadunidense possa abrir um novo caminho rumo à estabilidade e à justiça social", publicou nas redes sociais Jorge Arreaza, ministro venezuelano das Relações Exteriores.

O presidente argentino, Alberto Fernández, também manifestou o seu "repúdio aos graves episódios de violência e de atropelo ao Congresso". "Confiamos numa transição pacífica que respeite a vontade popular e expressamos o nosso mais firme apoio ao presidente eleito, Joe Biden", publicou Fernández nas redes sociais.

Já a direita latino-americana preferiu elogiar os valores democráticos e interpretar o episódio no Capitólio como um fato isolado. "O Chile rejeita as ações destinadas a alterar o processo democrático nos EUA e condena a violência e a indevida interferência nas instituições constitucionais. O Chile confia na solidez da democracia estadunidense para garantir o império da lei e do Estado de direito", publicou, nas redes sociais, o presidente chileno, Sebastián Piñera.

"Vergonha", dizem ex-presidentes americanos

Os ex-presidentes americanos Jimmy Carter, George W. Bush e Barack Obama condenaram de forma veemente as ações violentas na sede do Congresso, classificando-as de "vergonha" e "tragédia", e reprovaram o presidente Donald Trump por ter estimulado o movimento.

"A história lembrará a violência de hoje no Capitólio, estimulada por um presidente que mentiu incansavelmente sobre o resultado de uma eleição, como um momento de desonra e de vergonha para o nosso país", disse Obama, em um comunicado. "Mas estaríamos nos enganando se tratássemos isso como uma surpresa total", acrescentou, enfatizando que os distúrbios violentos foram "incitados" por Trump, "que continuou a mentir sem base sobre o resultado de uma eleição legal".

O ex-presidente Bill Clinton, outro democrata, também denunciou um "ataque sem precedentes" às instituições americanas, "alimentado por mais de quatro anos de políticas venenosas". "A centelha foi acendida por Donald Trump", denunciou.

Para o ex-presidente republicano George W. Bush, a irrupção de partidários de Trump no Capitólio e a interrupção, durante horas, da sessão de certificação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial foram situações dignas de uma "república bananeira". "É assim que são disputados os resultados eleitorais em uma república 'bananeira', não em nossa república democrática", disse o ex-chefe de Estado conservador.

Aos 96 anos, o ex-presidente democrata Jimmy Carter disse ter ficado "preocupado" com o ocorrido na sede do Poder Legislativo americano, uma "tragédia nacional", segundo ele. Carter fez um apelo por uma "solução pacífica".

Na madrugada desta quinta-feira (7), o vice-presidente americano, o republicano Mike Pence, certificou o voto de 306 grandes eleitores a favor do candidato democrata, contra os 232 obtidos por Donald Trump, validando a vitória de Biden no Congresso.

A posse de Biden e da vice-presidente, Kamala Harris, está prevista para 20 de janeiro.

(Com informações da AFP)