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França reconhece que matou independentista argelino durante Guerra da Argélia

05/03/2021 12h51

O presidente Emmanuel Macron reconheceu oficialmente nesta semana que Ali Boumendjel, um ativista da independência argelina, foi torturado e depois assassinado pelo Exército francês em 23 de março de 1957, durante a Batalha de Argel. Na época dos fatos, a versão oficial foi que ele havia se suicidado. Em uma reportagem sobre esse reconhecimento histórico, a revista semanal L'Obs recorda que Macron havia prometido "atos simbólicos" para tentar reconciliar as memórias da colonização e da Guerra da Argélia (1954-1962).

A confirmação do assassinato de Boumendjel por militares franceses faz parte de um conjunto de 22 recomendações apresentadas ao chefe de Estado pelo historiador Benjamin Stora, reunidas em um relatório solicitado pelo Palácio do Eliseu sobre a colonização. A tortura sistemática de ativistas, os assassinatos e desaparecidos nesse conflito sangrento impactam até hoje a vida dos 807.500 imigrantes argelinos residentes na França, conforme dados de 2019 do Insee, o instituto nacional de estatísticas. 

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Boumendjel, natural da região litorânea de Orã, tinha 38 anos quando foi detido, torturado e morto por uma unidade de paraquedistas do Exército francês. Ele militava no grupo União Democrática do Manifesto da Argélia (UDMA).

Homem de grande cultura, nascido em uma família de professores, o advogado tinha estabelecido uma rede profissional e de amigos, vários deles intelectuais, que passaram a denunciar as atrocidades cometidas pelas Forças Armadas francesas e a defender a independência da Argélia, relata a revista. No momento de sua prisão, em 9 de fevereiro de 1957, Boumendjel era o elo entre a UDMA e o partido nacionalista Frente de Libertação Nacional, criado em 1954 para lutar pela independência da ex-colônia francesa no norte da África. 

Em 2001, o general francês Paul Aussaresses, chefe da Inteligência na época da guerra, já havia reconhecido em um livro de memórias ("Serviços especiais Argélia 1955-1957", editora Perrin) que ele havia executado dois membros da FLN: Larbi Ben M'Hidi, enforcado em uma fazenda, e o advogado Boumendjel, empurrado do sexto andar de um prédio que abrigava um centro de tortura em Argel. O general descreveu em detalhes a execução do militante pacifista: depois de uma sessão de tortura, Boumendjel foi "nocauteado com um cabo de picareta atrás do pescoço"; em seguida, seu corpo foi lançado do sexto andar para simular um suicídio. 

Em setembro de 2018, Macron já havia reconhecido a morte do matemático Maurice Audin, outro ativista da independência argelina. Professor universitário em Alger, Audin desapareceu depois de ser preso em junho de 1957 e seu corpo nunca foi encontrado. Em seu discurso sobre o caso do matemático, Macron reconheceu um "sistema infeliz, terreno fértil para atos às vezes horríveis", e prometeu maior reconhecimento por parte do Estado francês graças ao "trabalho histórico sobre todos aqueles que desapareceram na Guerra da Argélia, franceses e argelinos, civis e soldados".

Com a aproximação do 60º aniversário do fim da guerra e da independência da Argélia, que será celebrado em 2022, a "reconciliação das memórias" é uma prioridade para Paris e Argel. Macron e o presidente argelino, Abdelmadjid Tebboune, estão empenhados em trabalhar juntos nesta questão, destaca a revista L'Obs

No dia 2 de março, Macron recebeu durante uma hora e meia no Palácio do Eliseu os quatro netos de Ali Boumendjel. A mulher do ativista, Malika, que passou 63 anos lutando pelo reconhecimento do assassinato do marido, morreu em 2020 sem ter essa reparação.

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