Disputa política entre Maduro e Guaidó atrasa vacinação na Venezuela
A disputa política entre o presidente Nicolás Maduro e o opositor Juan Guaidó tem atrasado a aquisição de vacinas contra a covid-19. Embora o governo chavista tenha adquirido imunizantes da Rússia e da China, não há vacinas suficientes para imunizar sequer a metade da população. Enquanto a rixa se arrasta, os casos do novo coronavírus dispararam no país. O feriadão religioso foi transformado em semana de quarentena radical para conter o avanço da doença, e profissionais da saúde protestam para receberem a imunização.
A covid-19 avança na Venezuela. Só nas últimas horas foram registrados 1.348 casos da doença. Alguns estão infectados pela variante brasileira do novo coronavírus. Na capital Caracas hospitais públicos e particulares estão lotados.
Mesmo com a chegada das vacinas russa Sputnik V e da chinesa Sinopharm grande parte da população ainda não foi vacinada. A demora vem gerando uma série de queixas ao governo.
Atraso na vacinação
A Venezuela é um dos países mais atrasados da região na imunização de pessoas contra a covid-19. Isso se deve em grande parte à disputa política entre Juan Guaidó e Nicolás Maduro.
No mês de março a Venezuela recebeu milhares de doses da vacina Sputnik V. No entanto, na ordem das prioridades entraram políticos, entre eles o próprio Nicolas Maduro, e integrantes das forças armadas do país.
De acordo com o ministro venezuelano da Saúde, Carlos Alvarado, cerca de 98 mil profissionais da saúde já foram imunizados no país. Esse atraso levou Ana Rosario Contreras, presidente do Colégio de Enfermeiros de Caracas, a incentivar os trabalhadores da saúde a manifestar para que todos sejam vacinados. Entre os mortos pela covid na Venezuela estão mais de 400 trabalhadores da área médica.
A aquisição de vacinas pelo Covax - coalização de pelo menos 165 países para garantir acesso igualitário a uma vacina que funcione. - poderia agilizar a vacinação na Venezuela. Mas o imbróglio político vem atrasando a aquisição de vacinas desse sistema. A rixa política entre governo e oposição teve consequências diretas na mudança da diretoria da Organização Panamericana da Saúde (OPS) na Venezuela.
Informações não oficias apontam que o governo de Maduro exigiu a saída de Paollo Baladelli, anterior diretor da OPS em Caracas. Ele estava negociando com a Mesa Técnica Nacional o acesso ao sistema Covax. Além da aquisição de imunizantes, a gestão de Paollo Baladelli teria organizado com a Mesa e com parte da sociedade científica um plano nacional de imunização.
A Mesa Técnica Nacional é integrada por parlamentares eleitos para o período 2015-2020, na qual, entre outros opositores, está Juan Guaidó. Dezenas de países ainda consideram Guaidó o presidente interino da Venezuela.
Maduro veta AstraZeneca
A Mesa presidida por Guaidó chegou a aprovar cerca de 18 milhões de dólares como parte do financiamento do sistema Covax, que traria ao país vacinas do laboratório AstraZeneca.
Guaidó, que se recupera da covid-19, afirmou que "a Venezuela precisa urgente da vacina, e o sistema Covax é a melhor aproximação a uma distribuição imparcial e equilibrada das vacinas e sem nenhum tipo de discriminação".
Antes da troca de Baladelli por Gerardo de Cosío, o governo de Maduro vetou a entrada e uso da vacina AstraZeneca na Venezuela, sob a justificativa de que ela causa efeitos colaterais.
"Não vamos trazer à Venezuela nenhuma vacina que esteja causando estragos no mundo. Só traremos as que estão avaliadas cientificamente em nosso país como seguras", afirmou Maduro.
Com os recursos sob a tutoria de Juan Guaidó e sem poder pagar o acesso ao mecanismo Covax, Nicolás Maduro lançou no último domingo (28) a campanha petróleo por vacinas. Essa seria a forma de reduzir o déficit de doses do imunizante à covid-19. Mesmo assim, o sistema Covax cobriria apenas 20% das doses que o país precisa.
Novas vacinas russa e chinesa
Na busca de alternativas ao sistema Covax e à AstraZeneca, a Venezuela recebeu nesta terça-feira (30) um carregamento com 750 mil doses das vacinas russa Sputnik V e da chinesa Sinopharm.
Durante a recepção de Yuri Borisov, vice-presidente da Rússia, que está em Caracas para rever centenas de acordos com o governo, Maduro informou que a Venezuela adquiriu "uma nova vacina 100% poderosa, eficaz e segura, que é a segunda vacina russa, a EpiVacCorona".
De acordo com Nicolás Maduro os próximos a serem vacinados são idosos maiores de 60 anos e pessoas que tenham alguma doença que os torne mais vulneráveis à covid-19.
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