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Banalização da extrema direita na França ameaça eleição presidencial de 2022

28/05/2021 12h47

A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, está na capa semanal da revista semanal L'Obs. Às vésperas de eleições regionais na França, nos dias 20 e 27 de junho, pesquisas apontam que os candidatos do partido Reagrupamento Nacional (RN) têm chances de vitória em algumas regiões, e Marine aparece com vaga quase garantida no segundo turno da eleição presidencial de 2022. L'Obs busca compreender como pôde acontecer essa banalização do populismo de direita no eleitorado francês.

A líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, está na capa semanal da revista semanal L'Obs. Às vésperas de eleições regionais na França, nos dias 20 e 27 de junho, pesquisas apontam que os candidatos do partido Reagrupamento Nacional (RN) têm chances de vitória em algumas regiões, e Marine aparece com vaga quase garantida no segundo turno da eleição presidencial de 2022. L'Obs busca compreender como pôde acontecer essa banalização do populismo de direita no eleitorado francês.

A filha do líder histórico da extrema direita (Jean-Marie Le Pen) ocupou o espaço político e se enraíza no cenário eleitoral como opção invariável, diz a L'Obs. Na eleição presidencial passada, Marine já chegou ao segundo turno e agora reaparece com chances de vencer seu principal concorrente, Emmanuel Macron. "O que até hoje parecia impossível nas pesquisas anteriores não é mais", adverte a revista. "A extrema direita está realmente às portas do poder na França", destaca o editorial.

"Como chegamos nesta situação que parece uma armadilha democrática, com um duelo anunciado Macron-Le Pen que desespera muitos eleitores e poderia aumentar perigosamente a abstenção?", questiona a publicação.

Na avaliação da L'Obs, uma parte da resposta está na força da base eleitoral de Macron, que continua atraindo uma parcela dos simpatizantes da esquerda e seduz cada vez mais à direita. A taxa de rejeição ao presidente após quatro anos difíceis no Palácio do Eliseu, com a crise dos coletes amarelos, longas greves nos transportes e a pandemia do coronavírus, também reforçam Marine Le Pen.

Outro aspecto que explica essa polarização é a falta de candidaturas alternativas com credibilidade suficiente junto aos eleitores. "A esquerda continua minada por divisões e sem um líder natural, enquanto a direita se divide entre o macronismo e o lepenismo", resume a L'Obs

Há algum tempo, especialistas têm apontado que o avanço da direita e da extrema direita na Europa e no mundo não é um fenômeno passageiro. No caso da França, o que se vê é que, ano a ano, o partido de Marine Le Pen conseguiu conquistar eleitores de baixa renda e principalmente jovens, categorias afetadas pelas políticas liberais e pelos desequilíbrios da globalização. Como assinala a revista L'Obs, "a cada eleição, o voto no RN deixou de ser apenas um voto de rejeição de outros partidos, mas um voto de adesão, um nacional-populismo francês cuja força torna-se mais irresistível a cada dia", resultado de 20 anos de banalização de ideologia extremista. 

Vinte anos de "normalização" oportunista

Marine Le Pen tem muito a ver com esse sucesso, observa a reportagem. Dez anos após chegar à liderança do partido, ela foi capaz de reformular a imagem da legenda para algo aceitável, "normal", distante da extrema direita clássica. Após seu fracasso em 2017 e de debates desastrosos com Macron, Marine também conta agora com canais de televisão e comentaristas de política ultraconservadores que ajudam a propagar a ideia de que a França está à beira do caos. 

O que fazer, então, para evitar uma vitória da populista em 2022, pergunta a revista. A L'Obs recomenda aos franceses nunca esquecer que, mesmo disfarçada, a extrema direita é o que sempre foi e nunca mudou. Basta notar que todo o discurso de Marine Le Pen continua focado nos problemas de segurança pública e na rejeição aos imigrantes, principalmente africanos e muçulmanos, o velho reflexo da xenofobia. Que ela apoiou a carta aberta de militares ameaçando a França de intervenção para evitar "o declínio e o caos" no país, argumentos facciosos e não condizentes com a realidade. 

A revista aponta ainda que o programa econômico de Marine continua confuso e oportunista. O partido que já foi antieuro, anti-União Europeia, defensor do protecionismo e ultraliberal ao mesmo tempo, se apresenta agora como adepto de programas sociais, do intervencionismo do Estado, promete aumentar os salários de militares e da polícia, manter a aposentadoria aos 60 anos, sem levar em consideração a necessidade de diminuir a dívida e o déficit público, tudo para seduzir as novas categorias de eleitores: jovens pouco diplomados, sem perspectivas de futuro pela 'uberização' do mercado de trabalho; franceses pobres e da classe média atingidos pela desindustrialização do país - por erros estratégicos de governos sucessivos -; além de aposentados conservadores para quem a segurança do euro é fundamental, assinala a L'Obs.