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Partido mais à extrema direita da Itália cresce e tem 20% de intenções de voto

11/06/2021 06h30

A Itália poderá ter, nos próximos anos, o Parlamento mais voltado à direita desde o fim da Segunda Guerra Mundial, na medida em que avança a popularidade da legenda de extrema direita Fratalli d'Italia (Irmãos da Itália). Conforme as pesquisas para as próximas eleições legislativas, previstas para 2023, cerca de 20% dos eleitores pretendem escolher o partido dirigido por Giorgia Meloni.

Com seu slogan de inspiração fascista "Deus, pátria e família", a legenda FDI está prestes a ultrapassar a principal força de direita populista e anti-imigração, a Liga, nas intenções de votos dos italianos. Meloni não é modesta sobre suas ambições: "estou pronta para fazer o que os italianos me pedirem", disse, em uma entrevista em maio.

O primeiro-ministro conservador Mario Draghi permanece o político mais popular do país e todos os partidos italianos se uniram a ele quando assumiu o cargo - à exceção do Irmãos da Itália. Na prática, a sigla acabou se beneficiando por ser o único grande partido de oposição ao governo de união nacional de Draghi, que conta com o apoio da esquerda até a Liga, de Matteo Salvini.

"Sendo o único partido de oposição, você dispõe de mais tempo de palavra e pode dizer coisas que os partidos membros da coalizão não podem", explicou à AFP o analista Wolfgango Piccoli, um dos diretores da consultoria Teneo.

FDI ocupa espaço deixado pela Liga

Meloni, de 44 anos, assumiu sozinha a dianteira das críticas contra as restrições para combater a Covid-19, julgadas excessivas por uma parcela de italianos, ao mesmo tempo em que continuou a criticar abertamente a chegada de migrantes do norte da África, durante a pandemia. O FDI se coloca como a mais patriota das siglas, defensora dos valores cristãos tradicionais italianos, que julga ameaçados pelas "elites globalizadas" e os movimentos LGBT+.

Desta forma, analisa Piccoli, o partido avança ao capturar eleitores da Liga, cujo líder não tem mais a mesma liberdade de discurso, agora que seu partido faz parte da coalizão governamental e tem ministro no gabinete de Draghi. Nas pesquisas, o FDI já ultrapassa o Movimento 5 Estrelas, antissistema e principal partido no atual Parlamento, e também o Partido Democrata, de centro-esquerda.

Meloni não perde uma chance de aparecer na imprensa. Recentemente, ela publicou uma autobiografia que se tornou best seller no país, "Me chamo Giorgia", na qual revela detalhes da sua vida pessoal, como o fato de que o seu pai abandonou a sua mãe quando ela nasceu.

Na obra, a líder lamentou a morte de todos os neofascistas mortos nas violências que marcaram a Itália nos anos 1970. "Não tenho medo de reafirmar pela enésima vez que eu não cultuo o fascismo", escreveu ela, no livro.

Raízes neofasistas

Meloni cresceu em Roma, no bairro popular de Garbatella, e iniciou as atividades políticas ao ingressar no Movimento Social Italiano, partido hoje extinto que fora fundado por aliados de Mussolini depois da Segunda Guerra Mundial. Ela foi ministra do governo de Silvio Berlusconi de 2008 a 2011 e, mais recentemente, era apoiadora do ex-presidente americano Donald Trump.

"As pessoas gostam da natureza radical de algumas das suas posições, como a imigração e a família tradicional, e gostam da forma dela de falar", disse Marco Tarchi, professor de ciência política da Universidade de Florença. "Ela sabe que não vai agradar a todos os italianos, então ela se dirige claramente aos eleitores da direita", que segundo o professor, são maioria no país.

"Mas, na Itália, já vimos que astros políticos podem parar de brilhar de um dia para o outro", adverte Picoli, ressaltando que, para seguir em ascensão, o partido deve "limpar um pouco" suas raízes neofascistas e reforçar sua equipe de dirigentes.

Com informações da AFP