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Governo espanhol decide perdoar líderes separatistas catalães presos em nome da reconciliação

21/06/2021 12h34

Visando melhorar a relação com a Catalunha e relançar o diálogo entre Madri e Barcelona, o governo espanhol decidiu agraciar os nove líderes separatistas catalães presos pela tentativa de secessão de 2017. O indulto será concedido nesta terça-feira (22) anunciou o primeiro-ministro Pedro Sánchez nesta segunda-feira (21), em Barcelona.

Jordi Brescó, correspondente da RFI em Barcelona

O indulto, queera um segredo de polichinelo, foi confirmado por Pedro Sánchez durante uma cerimónia no Teatro Liceu de Barcelona. O socialista disse que irá propor ao Conselho de Ministros o perdão dos nove presos políticos envolvidos no processo de independência da Catalunha. Eles foram condenados a entre 9 e 13 anos de prisão em outubro de 2019.

Com a decisão, as penas de prisão dos condenados serão canceladas e eles serão libertados dentro de alguns dias. Mas a exoneração de cargos públicos imposta a eles continuará em vigor.

O tom do discurso do primeiro-ministro espanhol era conciliador. Sánchez deseja que este gesto seja um marco na relação entre Catalunha e o resto da Espanha, um primeiro passo necessário para superar o confronto que não resolveu nada. "Amanhã podemos mudar a vida de nove pessoas e, espero, que também comecemos a mudar a vida de toda a população da região. Catalãs e catalães, nós amamos vocês", disse ele.

Rejeição dos separatistas

O movimento de independência recebeu a visita de Sánchez com ceticismo. Os separatistas consideram o gesto do primeiro-ministro um ato de propaganda. Eles acreditam que Sánchez toma essa decisão por conveniência, já que em breve a Corte Europeia de Direitos Humanos se pronunciará sobre o recurso apresentado por um dos presos. O líder separatista Jordi Sánchez recorreu na justiça europeia solicitando sua libertação imediata.

Nenhum representante do executivo catalão compareceu ao evento. Os representantes do governo espanhol presentes deixaram o teatro vaiados por um grupo de manifestantes, que exigiam uma anistia para os condenados.

"Organizar um referendo não é um crime. Essa sentença do Supremo Tribunal foi injusta", disse Pere Aragonès, presidente regional catalão. "O que queremos é a independência, não queremos migalhas ou perdões", pediu Ángel Segura, de 18 anos.

Sánchez explicou que "mesmo compreendendo os motivos da rejeição" à medida por parte do movimento separatista, seu governo "optou por abrir caminho para a reconciliação e o reencontro".

Oposição da direita

A sentença em outubro de 2019 contra os nove líderes desencadeou manifestações em massa na Catalunha, algumas delas violentas. Representantes da direita, do Supremo Tribunal e uma maioria da população também se opõe ao indulto. Segundo uma pesquisa Ipsos, 53% dos cidadãos espanhóis são contra agraciar os separatistas, embora 68% dos catalães aprovem a medida.

A direita acusa Sánchez de tomar essa medida motivado unicamente pelo seu desejo de se manter no poder, já que seu governo minoritário precisa do apoio de parte dos independentistas no Congresso. No entanto, a campanha do governo deu frutos. Na última semana, o primeiro-ministro recebeu o apoio dos empresários espanhóis, tradicionalmente contra o separatismo, assim como dos bispos catalães para agraciar os separatistas.

Os indultos são anunciados no momento de relaxamento das medidas contra a pandemia na Espanha e acontecem muito antes das próximas eleições nacionais, previstas para janeiro de 2024.

(Com informações da AFP, Reuters e RFI)