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"Transição para energia limpa está muito lenta", alerta Agência Internacional de Energia

13/10/2021 06h36

O mundo vai sofrer não só com o aquecimento global, mas também com "turbulências" no abastecimento se não houver investimentos em massa e imediatos em energias limpas, alertou nesta quarta-feira (13) a Agência Internacional de Energia. A instituição afirma que os investimentos em renováveis devem triplicar até o final da década para se poder combater o aquecimento global com eficácia.

A agência emite "sérias advertências sobre a direção que o mundo está tomando", em seu relatório anual publicado duas semanas antes da abertura da COP26 da ONU em Glasgow.

Uma "nova economia está surgindo", envolvendo baterias, hidrogênio e veículos elétricos, observa a AIE, que é um braço da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O estudo observa que esse avanço é contrabalançado pela resistência a mudanças e predominância do uso de combustíveis fósseis, uma vez que petróleo, gás e carvão ainda representam 80% do consumo final de energia, gerando três quartos das emissões que provocam as mudanças climáticas.

Até o momento, os compromissos climáticos dos Estados, se forem mantidos, permitirão apenas 20% das reduções de emissões de gases de efeito estufa necessárias até 2030 para manter o aquecimento sob controle.

"Os investimentos em projetos de energia livre de carbono terão de triplicar em dez anos, para a neutralidade de carbono até 2050", resume o diretor do IEA, Fatih Birol.

A agência ressalta que o financiamento para países emergentes é fundamental para que o acesso à eletricidade avance, mas evitando, ao mesmo tempo, o uso de usinas elétricas a carvão, em particular.

Cenários possíveis

A IEA oferece três cenários para o futuro. No primeiro, os Estados continuam como fazem hoje: as energias limpas estão se desenvolvendo, mas a demanda crescente e a indústria pesada mantêm as emissões nos níveis atuais. O aquecimento atingiu 2,6°C em relação ao nível pré-industrial, longe dos 1,5° C, que teriam impactos menos dramáticos.

Outra possibilidade é que os Estados cumpram seus compromissos, em particular a neutralidade do carbono no caso de mais de 50 deles, incluindo a União Europeia. A demanda por combustíveis fósseis vai atingir seu pico em 2025 (por meio da eficiência energética e do boom dos carros elétricos). Nesse caso, o aumento da temperatura do planeta seria de 2,1°C até o fim do século.

A terceira opção é a neutralidade de carbono, para ficar abaixo de 1,5°C, "o que exigirá grandes esforços, mas oferece benefícios consideráveis ??à saúde e ao desenvolvimento econômico", diz a AIE.

O financiamento adicional necessário "é menos pesado do que parece", acrescenta a agência: 40% das reduções de emissões "pagam-se" pela maior eficiência energética, do combate às fugas de metano ou desenvolvimento de parques solares ou eólicos.

Necessidade de investimentos

A AIE também enfatiza que o atual déficit geral de investimentos afeta não apenas o clima, mas também os preços e a oferta, que podem gerar turbulências como a que o mundo está experimentando hoje, com as tensões pós-Covid sobre as energias fósseis.

Nos últimos anos, a desvalorização dos preços do gás e do petróleo tem limitado os investimentos no setor, ao mesmo tempo em que a transição para a energia limpa é muito lenta para atender à demanda, explica a AIE.

"O risco de aumento da turbulência para os mercados globais de energia se aproxima", disse Birol. "Não estamos investindo o suficiente para atender às necessidades futuras e essas incertezas nos preparam para um período volátil. A maneira de responder é clara: investir maciça e rapidamente em energias limpas", para garantir as necessidades de curto e longo prazo, pontua a agência.

Caso contrário, "o risco de volatilidade desestabilizadora só aumentará com o tempo", acrescenta o relatório, que destaca a importância de uma transição "acessível a todos os cidadãos".

"Uma nova economia energética está surgindo, com potencial de criar milhões de empregos", diz Fatih Birol. Ele conclama os líderes da COP26 a "fazerem sua parte, tornando a década de 2020 a década da implantação em massa de energias livres de carbono".

A AIE lembra que o encontro em Glasgow será o "primeiro teste para que os países apresentem novos engajamentos, mais ambiciosos e de acordo com o acordo de Paris de 2015". A COP 26 será a ocasião para o comprometimento com "sinais sem equívoco para acelerar a transição em direção a energias limpas no mundo".

Com informações da AFP e Reuters