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Paris acusa Londres de descumprir Brexit e diz que britânicos só entendem "linguagem da força"

28/10/2021 06h32

O tom sobe ainda mais entre os governos francês e britânico nesta quinta-feira (28), sobre os direitos de pesca no Canal da Mancha, que separa os dois países. A ministra do Mar francesa, Annick Girardin, pediu à Comissão Europeia para pressionar o Reino Unido a cumprir os compromissos feitos no acordo do Brexit, de retirada do país da União Europeia.

Em entrevista à emissora RTL, a ministra disse que vai solicitar uma reunião do conselho do órgão europeu para que os britânicos sejam oficialmente notificados. Ela alertou ainda que medidas de retaliação poderiam ser tomadas pela França.

"Não é uma guerra. É um combate. Os franceses e os pescadores têm direitos, houve um acordo assinado e nós devemos fazer com que ele seja aplicado", declarou.

Na quinta-feira (27), dois navios ingleses que pescavam em águas francesas foram autuados pela guarda costeira, informou o ministério. "Essa operação se inscreve no contexto do endurecimento da fiscalização no Canal da Mancha, dentro das discussões sobre as licenças estabelecidas entre o Reino Unido e a União Europeia", frisou um comunicado da pasta.

O secretário de Estado francês de Relações Europeias, por sua vez, acrescentou que os britânicos "só entendem a linguagem da força". "Tenho a impressão de que eles entenderam que precisaremos voltar à mesa de negociações. Mas se eles não o fizerem, continuaremos. Não fico feliz e acho que não é muito inteligente, mas quando um parceiro só compreende a linguagem da força, precisamos falar assim", explicou Clément Beaune.

Restrição à atuação de pescadores britânicos

A França anunciou que, a partir de 2 de novembro, passará a adotar "medidas pontuais" contra navios de pesca e importações britânicas. As embarcações serão proibidas de desembarcar em certos portos franceses - o que significa entrave à exportação dos produtos marítimos - e a fiscalização alfandegária e sanitária será aplicada à risca, preveniu o governo.

As medidas foram consideradas "decepcionantes" e "desproporcionais" por Londres. "Elas não correspondem ao que poderíamos esperar de um aliado e parceiro próximo", declarou um porta-voz do governo britânico, na terça-feira (26), acrescentando que as medidas "são incompatíveis" com o direito internacional e com o acordo pós-Brexit.

Nesta manhã, Girardin refutou a crítica dos britânicos de que a França, em represália ao imbróglio, estaria cortando propositalmente a energia elétrica que passa pelo território francês até o Reino Unido, mas salientou que os preços poderão ser reajustados - como parte de uma série de medidas para acentuar a pressão sobre Londres.

Entenda a disputa

Entre os temas de atrito pós-Brexit entre Paris e Londres, o da pesca continua explosivo, embora diga respeito apenas a um número relativamente pequeno de envolvidos. O acordo, concluído no final de 2020 entre Londres e Bruxelas, prevê que os pescadores europeus possam continuar a trabalhar em certas águas britânicas, desde que provem que já pescavam antes nesses locais. Mas os franceses e os britânicos discutem sobre a natureza e a extensão dos documentos a serem fornecidos.

Nas zonas de pesca ainda disputadas (6-12 milhas da costa britânica e das Ilhas do Canal), Londres e Jersey concederam um total de pouco mais de 210 licenças definitivas, mas Paris ainda pede 244. "Faltam quase 50% das licenças a que temos direito", insistiu o porta-voz do Palácio do Eliseu, Gabriel Attal. Do lado britânico, o porta-voz do governo de Boris Johnson apresenta um número muito diferente: "98% das licenças de pesca foram concedidas".

Com informações da AFP e Reuters