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Vitória de partido nacionalista na Irlanda do Norte pode resultar em ruptura com o Reino Unido?

08/05/2022 12h58

A histórica vitória do partido nacionalista Sinn Fein nas eleições locais na Irlanda do Norte provocam um terremoto com consequências ainda incertas. Neste domingo (8), Londres pediu que os líderes da Irlanda do Norte se unam para formar um executivo local e garantir a "estabilidade" da província britânica.

O Sinn Fein, a favor da unificação de Belfast com a República da Irlanda - que não faz parte do Reino Unido -, tornou-se o partido com maior bancada na Irlanda do Norte nas eleições de quinta-feira (5). O partido obteve 27 dos 90 assentos na Assembleia local, contra 25 do Partido Unionista Democrático (DUP), favorável à manutenção da Irlanda do Norte dentro da monarquia britânica.

O DUP ameaçou boicotar um novo executivo local, que deve ser coliderado por republicanos e unionistas em virtude dos acordos de paz da Sexta-feira Santa de 1998, caso as suas exigências sobre o Brexit não forem atendidas. A líder do Sinn Fein, ex-braço político do movimento armado IRA, Michelle O'Neill, disse no sábado que a Irlanda do Norte dará início a uma "nova era". A vitória deve impulsionar O'Neill ao cargo de chefe do governo local.

Os acordos de paz da Sexta-feira Santa, que em 1998 encerraram três décadas de conflito sangrento entre republicanos católicos e unionistas protestantes, estabelecem uma divisão de poder entre os dois campos. Esta é a primeira vez que o Partido Republicano lidera o parlamento regional nos cem anos desde a partilha da ilha, em 1921.

"Este é um momento decisivo para nossa política e nosso povo", disse O'Neill. "Trarei uma liderança inclusiva que celebre a diversidade e garanta direitos e igualdade para aqueles que foram excluídos, discriminados ou ignorados no passado", acrescentou.

Londres pede "estabilidade"

"Primeiro de tudo, o que queremos (...) é estabilidade", disse o vice-primeiro-ministro britânico Dominic Raab à emissora Sky News. "Queremos que se forme um executivo" e que "os partidos se unam para oferecer estabilidade ao povo", ressaltou.

Antes de se encontrar com os líderes locais na segunda-feira, o ministro britânico para a província, Brandon Lewis, disse à BBC que era um "momento importante para mostrar que todos podem trabalhar juntos".

As negociações, porém, se anunciam difíceis, já que os unionistas se recusam a integrar o gabinete enquanto persistirem os controles alfandegários entre a ilha e o resto do Reino Unido, estabelecidos pelos acordos do Brexit. Aos olhos dos unionistas, esses controles ameaçam a unidade do país, formado por quatro nações - três (Inglaterra, Escócia e País de Gales) localizadas na ilha da Grã-Bretanha e a outra na da Irlanda.

Prazo para entendimento

Dublin e Washington também pediram aos líderes da Irlanda do Norte que compartilhem o poder. O Sinn Fein e o DUP têm 24 semanas para encontrar um terreno comum. Caso contrário, novas eleições devem ser organizadas.

"É fácil imaginar todo mundo querendo levar seis meses para negociar", disse Katy Hayward, professora de sociologia política da Queen's University de Belfast. "Mas, dada a urgência da crise do custo de vida e de saúde, é necessário formar um executivo e, em seguida, outros ajustes nos acordos da Sexta-feira Santa poderão ser considerados", acrescentou.

O'Neill, que concentrou sua campanha em questões econômicas e sociais, pediu aos unionistas um "debate saudável" e estimou que a prioridade do novo Executivo deve ser o combate ao forte aumento do custo de vida. A reunificação da Irlanda ficou em segundo plano - mas as lideranças do partido não escondem que o objetivo é poder realizar um referendo popular sobre a delicada questão.

"O sucesso do Sinn Fein deve-se à debilidade do unionismo num período de grandes mudanças no Reino Unido devido ao Brexit, mas não representa uma mudança radical de opinião na Irlanda do Norte a favor da reunificação" com a República da Irlanda, apontou Katy Hayward.

De acordo com uma pesquisa publicada pela Universidade de Liverpool em abril, apenas 30% dos norte-irlandeses seriam favoráveis à reunificação da ilha.

Com AFP