Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Crise na Petrobras, nascida do nada, volta ao ponto de partida

A tensão fabricada por Lula na Petrobras veio do nada, rodopiou em círculos e retornou ao ponto de partida. Nesta quinta-feira, a assembleia de acionistas da companhia aprovou a distribuição de metade dos dividendos extraordinários referentes ao lucro de 2023. Coisa de R$ 22 bilhões. A estatal fez com quase três meses de atraso o que Lula impediu que fosse feito no início de março.

Com uma declaração inútil e um movimento extemporâneo Lula deu à crise de vento ares de ventania. "Se eu for atender apenas à choradeira do mercado, não faço nada", disse ele em março. "O mercado é um dinossauro voraz, quer tudo para ele e nada para o povo." Simultaneamente, Lula colocou Aloizio Mercadante de sobreaviso para substituir Jean Paul Prates na presidência da Petrobras.

Com sua movimentação ruinosa, Lula derrubou o valor de mercado da Petrobras em R$ 55 bilhões. Prevalecendo sobre os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), que inoculavam veneno nos ouvidos do presidente, Fernando Haddad (Fazenda) injetou racionalidade num debate vazio.

Haddad apresentou a Lula o óbvio. A retenção dos dividendos extras teria impacto zero nos investimentos da Petrobras. E a União, acionista majoritária da estatal, seria privada de receber a sua fatia do bolo. Entrarão imediatamente nos cofres do Tesouro R$ 6 bilhões. A cifra será elevada para R$ 12 bilhões com a distribuição da outra metade dos dividendos extras , a ser feita no segundo semestre.

A volta da racionalidade espanta momentaneamente o fantasma do intervencionismo, que marcou os antigos governos do PT. Na Petrobras, essa assombração produziu ruína e roubalheira. Em café da manhã com jornalistas, na quarta-feira, Lula simulou normalidade.

"Nem sempre a boca fala somente as coisas que são boas", disse ele, sem dar o braço a torcer. "Às vezes, uma palavra mal colocada gera uma semana de especulação, mas posso te dizer que a Petrobras está tranquila." A suposta tranquilidade é tão volátil quanto a disposição de Lula de manter a própria língua na coleira.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes