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"Não confiem em Putin": ex-presidente Porochenko pede garantias a soldados prisioneiros da Rússia

19/05/2022 13h03

A Rússia anunciou nesta quinta-feira (19) que 1.730 militares ucranianos que estavam entrincheirados na siderúrgica Azovstal de Mariupol se renderam, após várias semanas cercados e sob bombardeios intensos. O futuro desses combatentes, a maioria membros do batalhão de Azov, causa apreensão na Ucrânia.

Em entrevista exclusiva à emissora France 24, que pertence ao mesmo grupo que a RFI, o ex-presidente ucraniano Petro Porochenko disse que os ocidentais devem desconfiar do presidente Vladimir Putin. Nesta quarta-feira (18), deputados russos já pediram que os prisioneiros, levados para territórios ucranianos controlados pelas forças russas e pró-russas, sejam julgados por Moscou. Alguns defenderam abertamente que eles sejam torturados nas prisões da Rússia.

"Os soldados de Mariupol são um símbolo do heroísmo da Ucrânia. Imagine, eles passaram 83 dias sem comida, água ou munição, mas continuaram a combater, para impedir que 20 mil soldados russos continuassem as suas operações", ressaltou Porochenko, que concedeu a entrevista em Kiev. "Não confiem no Putin. Ele jogou na prisão os heróis ucranianos e o mundo inteiro quer saber quando esses soldados ucranianos serão libertados e estarão de volta à Ucrânia."

Futuro incerto

O ex-presidente governou o país de 2014-2019 e estava no poder quando a Rússia promoveu a primeira investida sobre a região ucraniana russófona do Donbass. Ele pediu para os europeus "fazerem pressão para saber mais sobre as condições de evacuação de Azovstal".

A Ucrânia assegura que os combatentes serão trocados por prisioneiros de guerra russos, mas Moscou não confirmou a informação. Em várias ocasiões, o Kremlin disse não considerar parte deles soldados, mas sim combatentes "neonazistas".

"Por cinco anos, eu negociei com Putin, de 2014 a 2019, e só posso recomendar não confiar nele", reiterou Porochenko. "Neste período, nós conseguimos tirar mais de 3000 civis e militares ucranianos de prisões russas. Agora, o mundo precisa se lembrar que os soldados de Azovstal lutaram pela nossa liberdade e democracia."

Entre os combatentes que entregaram as armas estão 80 feridos, que foram levados para um hospital em território controlado pela Rússia, informou o ministério russo da Defesa. O ministério divulgou um vídeo que mostra soldados saindo da usina, alguns visivelmente feridos e outros utilizando muletas.

Ucrânia não abre mão de integridade territorial

De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, "centenas de prisioneiros de guerra ucranianos" estariam na usina de Mariupol, uma cidade portuária destruída pelos bombardeios russos. Apesar da queda de Mariupol, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que a invasão russa era "um fracasso absoluto".

"28 mil soldados russos ficarão para sempre na Ucrânia para pagar o preço da ideia maluca de Putin de querer tomar a Ucrânia", sublinhou Porochenko, na entrevista à France 24. "O mundo precisa entender que não faremos concessões sobre a integridade territorial da Ucrânia. Seria como dizer para a França ceder a Provença ou a Córsega para defender a estabilidade", frisou.

G7 se reúne para definir apoio à Ucrânia

Os países do G7 reúnem-se nesta quinta-feira e sexta-feira, na Alemanha, para apoiar a economia ucraniana, com a prioridade de concluir uma nova rodada de financiamento para cobrir o orçamento ucraniano para o atual trimestre. O grupo (Estados Unidos, Japão, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Alemanha) tem que "garantir a solvência da Ucrânia", afirmou o ministro das Finanças da Alemanha, Christian Lindner, ao jornal Die Welt.

A invasão provocou um rombo nas finanças do país, com uma queda expressiva da arrecadação fiscal e um déficit de US$ 5 bilhões mensais. "500 tanques ou 1.000 blindados e 100 aviões de combates mudariam o futuro da Europa e a segurança internacional. Precisamos de armas, armas e mais armas", destacou Petro Porochenko.

A respeito de uma adesão acelerada da Ucrânia à União Europeia (UE), o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou ser contrário a conceder a Kiev um "atalho". "É um imperativo de equidade com os seis países dos Bálcãs Ocidentais que desejam há muito tempo entrar para o bloco europeu", afirmou.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, denunciou um "tratamento de segunda divisão por parte de algumas capitais europeias" a respeito da candidatura da Ucrânia à UE.

Com informações da AFP