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Invasão ao Capitólio: começa processo para julgamento de ex-assessor de Trump

19/07/2022 11h47

A justiça dos Estados Unidos escolheu, nesta segunda-feira (18), em Washington, o júri que vai examinar a recusa de Steve Bannon, amigo próximo do ex-presidente Donald Trump, em cooperar com a investigação parlamentar sobre o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro. Bannon é apoiador da família Bolsonaro.

Acusado de "obstruir as prerrogativas investigativas do Congresso", o ex-assessor pode ser condenado a uma pena que vai de 30 dias a dois anos de prisão. 

Nesta terça-feira (19), o júri, composto inicialmente de 22 pessoas, será reduzido para 12 jurados e dois suplentes para que os argumentos iniciais possam ser apresentados. No primeiro dia do processo, Bannon se manteve em silêncio, mas na saída do tribunal, denunciou uma suposta farsa jurídica envolvendo o processo.  

Steve Bannon teve papel essencial na eleição de Donald Trump, em 2016, dando à campanha do republicano um viés populista. No ano seguinte, deixou de ser seu assessor, mas continuou próximo ao então presidente. Tanto que, segundo o comitê da Câmara dos Deputados responsável por esclarecer a invasão à sede do Congresso, os dois teriam trocado mensagens nos dias que antecederam o ataque. E foi exatamente para esclarecer o conteúdo dessas discussões que Bannon foi intimado. Ele se recusou, citando o direito dos presidentes de manterem certas conversas em segredo. 

Entretanto, com a proximidade do julgamento, Bannon mudou de opinião e concordou em cooperar com os parlamentares. Os promotores denunciaram "uma reversão de última hora para evitar uma condenação" e o juiz responsável pelo caso quis manter o julgamento. Seus advogados também pediram o adiamento da análise por medo de que os jurados fossem influenciados pela transmissão das audiências da comissão de inquérito, que terá sua próxima sessão na quinta-feira (21). 

Acredita-se que o ex-presidente republicano não tenha feito nada para evitar ou deter as cenas de violência e caos que duraram quase três horas quando seus apoiadores tomaram o Capitólio, forçando autoridades a interromper a sessão de certificação da vitória de Joe Biden na eleição presidencial. 

Assessor discreto, mas influente 

Steve Bannon começou a ter destaque nos meses que antecederam a vitória eleitoral de Trump, em 2016, com as denúncias populistas de uma ordem mundial controlada por elites políticas e financeiras. Tais ideias eram defendidas no site de notícias que ele dirigia, o polêmico Breitbart, um polo da "direita alternativa", movimento associado a teses conspiratórias e composto por uma série de militantes convencidos da supremacia branca. 

Bannon foi chefe de imprensa e consultor sênior de estratégia da Casa Branca. Aos 68 anos, segue intimamente associado às ideias da extrema direita que compartilha com o ex-presidente norte-americano Donald Trump, apesar de ter se afastado do governo em 2017, após episódio de violência na cidade de Charlottesville, na Virgínia, durante uma manifestação de ativistas de direita radical. Pouco antes de sua partida, o ex-colaborador, acusado de desviar fundos supostamente destinados à construção de um muro na fronteira mexicana, recebeu o perdão presidencial. 

A chegada de Bannon à Casa Branca chegou a ser denunciada por associações antirracistas, que relembraram os inúmeros artigos publicados por seu site, beirando o antissemitismo, alimentando a nostalgia da bandeira confederada ou denunciando o multiculturalismo. Democratas citaram acusações da ex-esposa de Bannon, Mary Louise Piccard, de que seu ex-marido se recusou a colocar os filhos em determinada escola por causa da presença de judeus. Acusações que foram negadas por ele. 

Do mercado financeiro para Hollywood  

Nascido em Norfolk, no estado de mesmo nome, Bannon cresceu em uma família democrata da classe trabalhadora. Com os estudos concluídos, ingressou na marinha por vários anos como jovem oficial. Em seguida, foi banqueiro de investimentos no Goldman Sachs na década de 1980 e fundou um pequeno banco, o Bannon & Co, adquirido pela Société Générale.  

Nos anos 2000, Bannon se voltou para Hollywood, quando começou a produzir filmes políticos com tendência extremista. Na época, conheceu Andrew Breitbart, fundador do site homônimo e se juntou à guerra contra o establishment político americano. 

Nos últimos anos, Steve Bannon passou a demonstrar apoio a partidos nacionalistas ou de extrema direita pelo mundo. Na Europa, esteve com a líder francesa de extrema direita Marine Le Pen e no Brasil declarou apoio à família Bolsonaro.