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Navio chinês atraca no Sri Lanka após polêmica; Índia e EUA temem atividades de espionagem

16/08/2022 10h52

Um navio de pesquisa chinês atracou nesta terça-feira (16) no porto de Hambantota, no Sri Lanka, administrado por Pequim, informaram as autoridades portuárias. A ação acontece sob as preocupações da Índia e dos Estados Unidos de que a China esteja realizando atividades de espionagem.

O navio Yuan Wang 5 foi recebido com tapete vermelho por dançarinos e percussionistas tradicionais, além de diversos deputados. O embaixador chinês no Sri Lanka, Qi Zhenhong, declarou a repórteres durante a cerimônia que a visita do Yuan Wang 5 fazia parte de "intercâmbios normais entre os dois países". "China e Sri Lanka desfrutam de uma amizade excepcional", acrescentou.

"Viva a amizade entre a China e o Sri Lanka", saudava uma bandeira vermelha e branca pendurada no convés do navio equipado com quatro grandes antenas parabólicas. Homens vestidos com camisas brancas e calças pretas agitavam bandeiras chinesas e do Sri Lanka durante as manobras de atracação.

O Yuan Wang 5 foi autorizado a atracar com a condição de não realizar pesquisas em águas do Sri Lanka, informaram autoridades portuárias, após consultas junto à Índia, aos Estados Unidos e à China. O barco também será obrigado a manter seu Sistema de Identificação Automática ligado na Zona Econômica Exclusiva do Sri Lanka.

A embarcação é apresentada por sites especializados como um projeto de "pesquisa e estudo", mas, de acordo com o canal indiano CNN-News18, o navio tem dupla finalidade. Ele seria usado para monitorar o espaço e satélites, especificamente para lançamentos de mísseis balísticos intercontinentais.

"De acordo com a lei internacional"

Em Pequim, o Ministério das Relações Exteriores argumentou nesta terça-feira que as atividades de pesquisa marinha do Yuan Wang 5 estavam "de acordo com a lei e a prática internacionais". "[As atividades] não prejudicam a segurança ou os interesses econômicos de nenhum país", declarou o porta-voz Wang Wenbin, acrescentando que "terceiros não precisam interferir".

O Yuan Wang 5 deixou Jiangyin, na China, em 13 de julho e estava programado para escalar em 11 de agosto no porto de Hambantota, que é administrado por uma empresa chinesa. Mas a chegada teve que ser adiada diante dos protestos indianos.

No sábado (13), após intensas negociações diplomáticas, Colombo mudou seu posicionamento e anunciou que havia autorizado o barco a atracar em Hambantota e permanecer no porto até 22 de agosto.

A Índia está preocupada com a crescente influência da China no Sri Lanka, que se endivida pesadamente ao longo dos anos com Pequim para desenvolver grandes projetos de infraestrutura. Em 2017, Colombo viu-se incapaz de pagar sua dívida de US$ 1,4 bilhão contraída com Pequim para a construção de Hambantota e teve que ceder o porto por 99 anos a uma empresa chinesa.

Dívida de US$ 51 bi

A China continua sendo o principal credor bilateral do Sri Lanka, detendo mais de 10% de sua dívida externa. Colombo, que deixou de pagar sua dívida externa de US$ 51 bilhões em meados de abril, está em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um possível resgate.

O apoio de Pequim é essencial para que o país, mergulhado em uma grave crise econômica, possa reestruturar sua dívida antes de poder reivindicar a ajuda do FMI. A ilha enfrenta grave escassez de alimentos, combustíveis e remédios desde o final de 2021, devido à falta de moeda estrangeira para financiar importações essenciais.

No início do mês, as autoridades cingalesas procuraram tranquilizar a Índia, afirmando que o navio chinês atracaria para reabastecer e não exerceria qualquer atividade. O ministro cingalês Manusha Nanayakkara afirmou que navios de pesquisa chineses já fizeram 18 dessas visitas ao Sri Lanka.

Nova Délhi havia alertado contra "qualquer impacto na segurança e nos interesses econômicos da Índia [e que] tomaria todas as medidas necessárias para protegê-los". O porta-voz do governo do Sri Lanka, Bandula Gunawardena, disse que o governo queria responder "diplomaticamente" às ??"preocupações" de Nova Délhi: "Tanto a Índia quanto a China estão nos ajudando neste momento crucial em que enfrentamos uma crise econômica sem precedentes".

Na segunda-feira (15), véspera da chegada do navio, a Índia ofereceu ao Sri Lanka uma aeronave Dornier 228 para aumentar suas capacidades de vigilância marítima. O dispositivo é carregado com equipamentos para monitorar e bloquear sinais eletrônicos.

(Com informações da AFP)