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Adiada por problemas técnicos, missão da Nasa quer voltar à Lua para preparar humanos rumo à Marte

29/08/2022 11h28

Artemis I, o maior e mais poderoso foguete da história da Nasa, não decolou nesta segunda-feira (29) de Cabo Canaveral, na Flórida, por conta de "problemas técnicos". Adiado, este primeiro voo de teste não será tripulado, mas o objetivo, para os norte-americanos, é enviar astronautas de volta à Lua em 2025 para "colonizar" o asteroide, e preparar uma missão, num futuro próximo, em direção ao planeta vermelho, o misterioso e inexplorado Marte.

As próximas datas de lançamento possíveis são 2 e 5 de setembro. Mas o problema terá primeiro que ser avaliado em detalhes pelas equipes da Nasa, antes que uma nova data possa ser definida.

Os tanques do super foguete foram equipados com mais de três milhões de litros de hidrogênio líquido ultra-frio, além de oxigênio. Mas o preenchimento começou com cerca de uma hora de atraso devido a um alto risco de relâmpagos no meio da noite.

Então, um vazamento causou uma pausa no enchimento da etapa principal com hidrogênio, antes que uma solução fosse encontrada e o fluxo fosse retomado. Por volta das 7h, hora local, surgiu um novo problema: um dos quatro motores RS-25, na plataforma principal do foguete, não conseguiu alcançar a temperatura desejada - uma condição necessária para a ignição.

A contagem regressiva foi então interrompida e, após mais de uma hora e meia de espera e tentando consertar o problema, o diretor de lançamento da Nasa, Charlie Blackwell-Thompson, tomou a decisão final de cancelar o lançamento. Centenas de milhares de americanos haviam se reunido à beira da estrada com suas caminhonetes, churrasqueiras e cadeiras dobráveis, para não perder nada deste lançamento para a Lua. 

Morar na Lua

Artemis I é o foguete mais poderoso já construído pela Nasa. No topo de seus 98 metros, a cápsula Orion foi parcialmente construída pela Agência Espacial Europeia. O engenheiro francês Philippe Berthe dedicou os últimos 11 anos de sua vida a ela. "Orion é um veículo construído para orbitar a Lua e transportar astronautas, quatro astronautas que poderão ir a uma estação espacial que será construída ao redor da Lua e que será chamada de Gateway", explica.

Cinquenta anos após as lendárias missões Apollo, a ambição não é mais apenas caminhar na Lua, mas "permanecer lá". "Temos que imaginar a Lua como outro continente da Terra", diz Philippe Berthe. A idéia é estender o campo das atividades humanas, que até agora estava restrito à superfície da Terra.

Marte

A Nasa estabeleceu várias metas para as missões Artemis programadas para os próximos anos: desde a exploração dos segredos geológicos que a Lua ainda guarda, até a criação de uma base lunar tripulada e uma estação orbital, ou ainda a preparação das condições técnicas para uma futura missão a Marte, bem como a mobilização técnica de outras potências como a China.

O principal objetivo de Artemis 1 é testar o escudo térmico da cápsula, que reentrará na atmosfera terrestre a quase 40.000 km/h, e uma temperatura metade tão quente quanto a superfície do Sol.

Em vez de astronautas, manequins de plástico estarão a bordo, equipados com sensores para registrar as vibrações e os níveis de radiação. Microssatélites também serão implantados para estudar a Lua ou um asteróide. A cápsula se aventurará até 64.000 km atrás da Lua, mais longe do que qualquer outra nave espacial habitável até hoje.

Fracasso devastador

Um fracasso completo da missão seria devastador para um foguete com um orçamento enorme (US$ 4,1 bilhões por lançamento, de acordo com uma auditoria pública) e vários anos de atraso (ordenado em 2010 pelo Congresso dos EUA para uma data inicial de lançamento em 2017).

Ainda não haverá humanos nesta missão Artemis I. Este é um vôo de teste de 42 dias para preparar o Artemis II, que enviará quatro astronautas ao redor da Lua em dois anos. O astronauta francês Thomas Pesquet é obviamente um candidato.

"Todos compreendem a natureza excepcional do que está acontecendo no momento. Vamos para a Lua, já se passaram 50 anos desde que aconteceu e hoje vamos fazê-lo de uma maneira diferente. Vamos nos instalar, ficar mais tempo, não vamos apenas colocar uma bandeira, vamos fazer uma base e garantir uma presença permanente. Portanto, vai ser realmente uma aventura incrível", disse ele à RFI, no local.

Mulheres no espaço

Com seis missões espaciais, Shannon Watts passou quase um ano de sua vida no espaço. Aos 57 anos, ela é uma das astronautas mais experientes da Nasa e quando perguntada sobre a missão Artemis, seu rosto se ilumina: "É muito emocionante! Enviar pessoas para o espaço é sempre ótimo, mas será ainda melhor quando enviarmos representantes de toda a humanidade lá em cima! Eu tinha quatro anos de idade quando andamos na Lua pela primeira vez. Voltar para lá sempre foi o meu sonho de infância.", afirma a astronauta.

Mas de 1969 a 1972, as missões Apollo só enviaram homens para a Lua, doze no total. Cinqüenta anos depois, o espaço está se tornando mais feminino. Em 2025, a Artemis pretende enviar uma mulher à lua pela primeira vez. "É muito simbólico, mas não apenas isso. Mostra para as jovens o que é possível fazer. É importante dar-lhes modelos do que eles podem se tornar no futuro", acrescenta Shannon Watts.

O nome da missão, Artemis, faz eco ao programa Apollo, que levou os únicos 12 homens a caminhar na lua entre 1969 e 1972. Artemis, na mitologia grega, é a irmã gêmea de Apolo e uma deusa associada à Lua.

(Com informações da AFP e do correspondente da RFI em Cabo Canaveral, David Thomson)