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Documentário sobre favela do Jardim Panorama em São Paulo é exibido em Paris

16/09/2022 12h43

Panorama, documentário dirigido pelo cineasta Alexandre Wahrhaftig, integra a programação da 18ª edição do Festival Brésil en Mouvements (Brasil em Movimentos, em tradução livre), que acontece em Paris.

A obra tem como foco a problemática urbana da moradia em São Paulo e expõe os dramas e problemas de um grupo de moradores do Jardim Panorama que convivem com constantes ameaças de expulsão diante da pressão representada pela expansão imobiliária de empreendimentos de alto padrão.

"Panorama nasceu da vontade de ir do outro lado do muro e mostrar a vida nestes lugares e como os moradores vivem sob a pressão de seus vizinhos nobres", explica o diretor. "O filme não procura dar muitas explicações de cima para baixo, mas ouvir as pessoas que vivem em um lugar ameaçado de expulsão", relata. "Uma parte da favela já foi expulsa e outra se mantém em um estado de incerteza", acrescenta.

Rodado principalmente em 2019, o filme foi finalizado apenas em 2021, após o período mais crítico da pandemia. O trabalho tem origem em uma obra anterior de Alexandre, o curta 'O Castelo', um ensaio sobre o empreendimento Cidade Jardim, que tinha um dos metros quadrados mais caros da cidade de São Paulo.

O novo filme tem como fio condutor o relato de cinco moradores do jardim Panorama. As personagens foram definidas durante as várias visitas do cineasta pelo local. "Fomos até muitos deles e outros vieram até nós", conta. O grupo foi definido em dois núcleos, explicou Alexandre na entrevista à RFI.

O primeiro é representado por quatro jovens que participaram de mobilizações contra a instalação do empreendimento Cidade Jardim, de alto padrão, ao lado do Jardim Panorama. O segundo núcleo é representado por uma moradora de 70 anos, dona Maria, que havia vivido em diferentes favelas em diversão regiões do país. A escolha revelou não apenas um contraponto de gênero e gerações, mais também de diferentes visões e experiências de vida. O cineasta diz ter procurado fugir dos clichês vinculados aos moradores de favelas e usou a câmera para deixá-los livres para relatar suas frustrações e inquietudes.  

 "O fato de elas não saberem se poderão ou não ficar naquela terra influencia bastante nas experiências delas de viver no local. É um processo violento, excludente, mas o objetivo não é mostrar que elas são coitadas e, sim, que têm muitas formas potentes de resistir, inclusive pela arte", diz Alexandre, lembrando que os quatro rapazes participam de um grupo de rap e fazem poesia, assim como D.Maria, a quinta personagem.

O documentário Panorama já foi apresentado em diversas mostras no Brasil e pela primeira vez é exibido em um festival de cinema no exterior, oportunidade para o diretor Alexandre Wahrhaftiglevar a discussão dos problemas urbanos de São Paulo para além das fronteiras do país.