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Guerra na Ucrânia: Putin endurece pena contra desertores; China lança nova advertência a Moscou

24/09/2022 15h48

Em meio à mobilização de reservistas, o presidente russo, Vladimir Putin, aumentou neste sábado (24) para 10 anos de prisão a pena aplicada a militares que desertarem do Exército ou se recusarem a combater na Ucrânia. Putin também assinou uma lei que facilita a obtenção da cidadania russa por estrangeiros, se eles se alistarem por pelo menos um ano. Na ONU, a China enviou uma nova advertência a Moscou, ao pedir que o conflito não "transborde" para outros países.

Isolado e acumulando reveses no conflito, o líder autoritário russo ainda substituiu no sábado seu principal oficial de estratégia militar. A mudança no Estado-Maior da Rússia ocorre em meio a uma grande campanha de mobilização de soldados e a dificuldades logísticas no conflito. Kiev recupera cada vez mais territórios, desde que iniciou uma contraofensiva no início de setembro. 

"O general Dmitri Bulgakov foi dispensado de suas funções como vice-ministro da Defesa" e será substituído pelo coronel-general Mikhail Mizintsev, de 60 anos, informou o Ministério da Defesa da Rússia. A mobilização parcial anunciada por Putin na quarta-feira (21) será, provavelmente, um dos primeiros grandes desafios logísticos do novo vice-ministro, já que as centenas de milhares de reservistas convocados precisarão ser equipados e treinados antes de seguir para as frentes de combate na Ucrânia.

Entretanto, o Kremlin não tem conseguido reverter a debandada no Exército nem impedir que milhares de russos fujam para países vizinhos, com receio da convocação. Autoridades reconheceram neste sábado uma "grande" afluência de carros em direção à vizinha Geórgia. Em apenas um dos diversos postos de fronteira existentes entre os dois países, 2.300 veículos conseguiram atravessar para a República da Ossétia do Norte e faziam fila para passar pelo posto de controle Verkhni Lars, de acordo com informações do ministério do Interior da Rússia. Além da Geórgia, milhares de carros russos também atravessam as fronteiras do Cazaquistão e da Mongólia.

A comissão de inquérito da ONU sobre a Ucrânia afirmou na sexta-feira que torturas, execuções e outros crimes ocorreram no país desde a invasão russa, em 24 fevereiro. 

Novos protestos 

A polícia deteve neste sábado mais 730 pessoas que protestaram contra a mobilização de reservistas, em 32 cidades russas. O levantamento foi realizado pela ONG OVD-Info, que tem monitorado as manifestações desde o anúncio de Putin, na quarta-feira (21).

Jornalistas da AFP presenciaram a detenção de cerca de 20 pessoas que caminhavam em pequenos grupos em Moscou. Em São Petersburgo, 30 pessoas foram obrigadas a embarcar em um ônibus da polícia. Na quarta-feira, outros 1.400 manifestantes foram presos em diferentes localidades do país. 

China faz apelo a russos e ucranianos por discussões de paz

Nesse contexto cada vez mais desfavorável ao Kremlin, Putin prossegue com os referendos de anexação nas áreas controladas pelos russos em Donetsk e Lugansk, no leste, e Kherson e Zaporíjia, no sul da Ucrânia. Mas os testemunhos de moradores ucranianos, que descrevem à imprensa internacional a forma como representantes da administração de Moscou entram nas casas e os obrigam a votar pela anexação, sob ameaça de envio para territórios desconhecidos, só reforça a "farsa" denunciada por Kiev e seus aliados ocidentais. A ONU 

A votação provocou até uma reação da China, com seu ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, dizendo ao seu colega ucraniano, Dmytro Kuleba, que "a soberania e a integridade territorial de todos os países devem ser respeitadas". 

Em discurso neste sábado na Assembleia-geral da ONU, o chefe da diplomacia chinesa pediu à Rússia e à Ucrânia que não permitam que o conflito "transborde" para outros países. "Pedimos a todas as partes envolvidas que evitem que a crise transborde e que protejam os direitos e interesses legítimos dos países em desenvolvimento", declarou Wang Yi, depois de assegurar que a China "apoia todos os esforços para uma solução pacífica" da "crise ucraniana". A distância que Pequim vem tomando em relação ao conflito fragiliza ainda mais os planos de Putin. 

Depois do chanceler chinês, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, também discursou na ONU. "A russofobia oficial no Ocidente é sem precedentes, sua escala é grotesca", disse ele na Assembléia-geral das Nações Unidas. Lavrov acusou os Estados Unidos de se considerar "quase como o mensageiro de Deus na Terra".

Com informações da AFP