Lenta queda de braços e guerra de drones: russos tentam vencer pelo cansaço
A guerra na Ucrânia se tornou um conflito de resistência, uma lenta queda de braço entre os dois lados.
Pouco mais de um ano depois do início da invasão russa, Moscou parece ter encontrado sua estratégia: vencer pelo cansaço dia após dia as forças de Kiev, menos numerosas e pouco equipadas.
Frustrados, os artilheiros ucranianos enfrentam um persistente inimigo.
"Temos certeza de que eles sabem que estamos aqui. Mas eles não conhecem nossa posição exata", diz o soldado ucraniano Ivan, ex-bibliotecário, em um bosque da região de Velyka Novosilka, no Donbass.
Ele conta que foi convocado em maio de 2022. Desde o final do ano passado, ele brinca de gato e rato com a artilharia russa.
A reportagem da RFI se aproxima da artilharia ucraniana quando um militar chega em uma caminhonete para avisar que um drone russo está rastreando o local. O aviso deixa as unidades em alerta e todos correm para um abrigo próximo.
"Neste bosque estamos a seis ou sete quilômetros da linha do fronte. É muito simples para um drone ir e vir e para nós é difícil vê-los com sistemas antiaéreos convencionais", explica Ivan. "Se tiver radar tudo bem, mas a olho nu... É bem problemático", reitera.
O soldado conta à RFI que há cerca de 15 dias um bombardeio russo foi realizado na área.
"Eles registraram a posição de nossos vizinhos, uma outra brigada que não está longe daqui. Eles foram vistos por um drone e, graças a ele, os russos encontraram as boas coordenadas", diz. "A guerra na Ucrânia é uma guerra de drones e artilharia. O objetivo é um encontrar o outro para atacar", ressalta.
Dias à espera para o ataque
O grupo do qual faz parte Ivan construiu um abrigo subterrâneo, que pode ser acessado por alguns degraus de escada. No local, há algumas cadeiras e um fogão a lenha. Não há grande coisa a ser feita dentro deste cômodo, mas muitas vezes os combatentes passam o dia inteiro esperando.
Com o distanciamento do drone, a brigada autoriza a equipe da RFI a sair do abrigo. O trajeto é retomado até uma clareira, onde Ivan mostra com orgulho seu instrumento de trabalho: um velho lançador soviético de obus, modelo 2S3 Akatsya.
Longe é possível ouvir foguetes atirados pelas tropas russas. Mas quando será a vez de Ivan atirar? "Impossível dizer. Esperamos e nos contentamos em executar ordens", responde.
O soldado descreve à RFI um cenário de incertezas. "Não temos nenhuma ideia de nosso alvo e da distância dele. Apenas os superiores ou os operadores de drones podem saber o que estamos visando", explica.
Apesar de frustrado, o ex-bibliotecário diz compreender que essa é a sua missão. "Não sabemos jamais quando a infantaria vai precisar da gente. Parece que a brigada vizinha começou a trabalhar, pode ser que seja uma resposta após o bombardeio russo. Eles têm mais munições e podem atirar mais longe que a gente", conclui.
Batalha em torno de Bakhmut
Se em algumas localidades do leste o ritmo da guerra ocorre a conta-gotas, a Rússia não esconde que, nesse momento, seu objetivo principal é a cidade de Bakhmut, cenário de meses de combates violentos. As duas partes admitiram grandes perdas humanas, mas não divulgam números.
De seu lado, a Ucrânia promete continuar defendendo a cidade, embora muitos considerem que a queda da localidade é inevitável. Algumas unidades já começaram inclusive a se retirar.
"Esta cidade é um importante centro de defesa para as tropas ucranianas no Donbass. Capturá-la permitirá novas operações ofensivas, invadindo as linhas de defesa das forças armadas ucranianas", disse o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, nesta terça-feira (7), durante uma reunião com comandantes militares.
Nas últimas semanas, os russos, liderados pelo grupo paramilitar Wagner, avançaram pouco a pouco e parecem já controlar os acessos norte, leste e sul da cidade. Mas, noite de segunda-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que pediu ao Estado-Maior para "encontrar as forças adequadas" para continuar defendendo Bakhmut.
O conselheiro da presidência, Mikhailo Podoliak, também afirmou que no exército ucraniano existe um "consenso" sobre "a necessidade de continuar defendendo a cidade e esgotar as forças inimigas". Mas fora de Bakhmut, alguns soldados ucranianos acreditam que nada mais pode ser feito para não deixar a cidade cair nas mãos da Rússia.
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