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Mercenários conhecidos pela crueldade dominam territórios e ameaçam Putin

Nesta foto de arquivo tirada em 20 de setembro de 2010, o empresário Yevgeny Prigozhin mostra ao primeiro-ministro russo Vladimir Putin sua fábrica de merenda escolar nos arredores de São Petersburgo - ALEXEY DRUZHININ/AFP
Nesta foto de arquivo tirada em 20 de setembro de 2010, o empresário Yevgeny Prigozhin mostra ao primeiro-ministro russo Vladimir Putin sua fábrica de merenda escolar nos arredores de São Petersburgo Imagem: ALEXEY DRUZHININ/AFP

Do UOL*, em São Paulo

28/02/2023 04h00Atualizada em 28/02/2023 18h48

O Grupo Wagner, empresa paramilitar privada que se tornou conhecida por seu papel na Guerra na Ucrânia, tem dominado territórios e criticado abertamente militares russos. Com esse protagonismo, Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo de mercenários, passou a ser visto como uma ameaça potencial ao presidente Vladimir Putin.

Mas ele é tão influente quanto parece ser?

Prigozhin, que antes fugia dos holofotes da mídia, tornou-se o rosto da guerra em uma busca por status político e sua crescente publicidade deu origem até mesmo a especulações sobre possíveis ambições políticas. Segundo o site independente russo Meduza, ele estaria planejando lançar um movimento conservador e patriótico que eventualmente evoluiria para um partido político. O líder do Grupo Wagner, porém, negou a ideia publicamente.

Andrei Kolesnikov, do observatório de política externa Carnegie Endowment for International Peace, escreveu no jornal independente russo Novaya Gazeta que, dadas as responsabilidades que foram atribuídas a Prigozhin na guerra contra a Ucrânia, o único caminho possível para ele seria se tornar um político. No entanto, obviamente, este não é o desejo de Putin.

"Enquanto Putin for capaz de controlar sutilmente as forças políticas, ele pode retirar Prigozhin do jogo na hora certa e colocá-lo de volta em seu lugar habitual - na política clandestina", considerou.

Quem é o mercenário-chefe?

Prigozhin trilhou um caminho de empreendedor e seus negócios se expandiram ainda mais quando Putin se tornou presidente. Ele começou com carrinhos de cachorro-quente em sua cidade natal e, depois, passou para projetos maiores, como um luxuoso restaurante em São Petersburgo — que se tornou um centro para as elites russas, incluindo o então vice-prefeito Vladimir Putin.

Nascido em 1961 na antiga Leningrado, hoje São Petersburgo, ele admitiu que esteve por trás da Agência de Pesquisa na Internet, uma rede de fábrica de trolls. Segundo o FBI, a agência teria influenciado os resultados das eleições presidenciais norte-americanas de 2016, com uma ampla campanha de desinformação. Prigozhin também nega.

Em 2014, ele criou o Grupo Wagner. Assim como fez com as fábricas de trolls, Prigozhin negou qualquer envolvimento com os mercenários até setembro de 2022, quando admitiu ter formado a unidade.

O que é o Grupo Wagner?

Em entrevista à agência de notícias Deutsche Welle, Marat Gabidullin, ex-combatente da organização paramilitar russa, resumiu as funções do Grupo Wagner da seguinte forma: um grupo de combate, um acampamento base com infraestrutura e um serviço de segurança.

Mais características do grupo mercenário

  • É uma empresa paramilitar privada, cujo dono é um aliado de Vladimir Putin.
  • Uma de suas primeiras missões conhecidas foi na península ucraniana da Crimeia, no mesmo ano de sua criação, quando mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região.
  • Se tornou ainda mais conhecido por seu papel na Guerra na Ucrânia.
  • Usa táticas brutais e crueldade no campo de batalha.
  • Recrutou prisioneiros para lutarem na Ucrânia; estima-se que o Grupo Wagner tenha até 20 mil soldados lutando no país.
  • Além de atuar em territórios ucranianos, também está na África e na Síria.
  • Teria desempenhado um papel ativo na captura de cidades ucranianas como Popasna e Severodonetsk.
  • É acusado de cometer crimes de guerra e violar direitos humanos.
  • Atualmente, conta com aviões, artilharia e sua própria central de escritórios em São Petersburgo, na Rússia.
  • A empresa paralimitar, seu dono e a maioria dos seus comandantes foram alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia (UE).

Grupo operaria às custas do orçamento do Estado. Marat Gabidullin ainda afirmou que o grupo não é uma empresa, visto que não há investimento privado nele.

Na verdade, o Grupo Wagner pode ser descrito como parte das Forças Armadas com poderes especiais. Na prática, ele se tornou uma estrutura paralela de poder, não imposta por lei, mas fortemente dependente do Departamento de Defesa.
Marat Gabidullin à Deutsche Welle

Já de acordo com a BBC, alguns especialistas também sugerem que a agência de inteligência militar russa supervisiona e financia secretamente o Grupo Wagner. No entanto, a Rússia nega que os mercenários tenham qualquer relação com o Estado.

Mais de R$ 16 mil por mês. O ex-combatente citou até mesmo o salário oferecido pela organização: um combatente comum, em caso de participação em operações de combate, recebia 8 mil rublos (cerca de R$ 550) por dia, sendo possível obter 240 mil rublos (cerca de R$ 16,5 mil) por mês. Além disso, são concedidos bônus regularmente. Tudo depende da importância e duração da missão de combate.

*com informações da Deutsche Welle