Mundo precisa fazer "muito mais, agora e em todas as frentes" para cumprir Acordo de Paris, diz relatório
O mundo deve abandonar os combustíveis fósseis, atingir o pico das suas emissões de CO2 até 2025 e fazer "muito mais, agora, em todas as frentes" para enfrentar a crise climática, de acordo com um relatório ligado à ONU. O estudo, divulgado nesta sexta-feira (8), estará no centro as reuniões da Conferência do Clima de Dubai (COP28), em novembro e dezembro.
As emissões de gases com efeito de estufa dos Estados Unidos e da Europa têm diminuído há anos, mas as da China (primeiro emissor) e da Índia continuam a aumentar.
Relacionadas
Altamente aguardado, este relatório de 90 páginas e 17 "lições-chave" constitui a primeira avaliação de todos os esforços realizados ou não desde 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris sobre o Clima. O objetivo mais ambicioso do tratado é de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim deste século.
A questão é saber se a humanidade está respondendo à altura dos desafios - especialmente depois do verão mais quente já registado no mundo, com múltiplas ondas de calor, inundações, incêndios e outros fenômenos meteorológicos extremos favorecidos pelas alterações climáticas.
"O mundo não está no caminho certo para cumprir os objetivos de longo prazo do Acordo de Paris", conclui o relatório, sem surpresas. O aquecimento global já atingiu cerca de 1,2°C, em comparação com a era pré-industrial. Seus efeitos devastadores multiplicam-se a cada décimo de grau adicional de aquecimento.
"Ainda há muito a fazer em todas as frentes", resume o relatório
Inventário das ações até agora
O texto revelado nesta sexta representa um primeiro passo técnico do primeiro "balanço global" do Acordo de Paris. Este inventário ('Global Stocktake') deve ser concluído pelos países signatários na 28ª conferência da ONU sobre o clima, de 30 de novembro a 12 de dezembro nos Emirados Árabes Unidos. Com base nos relatórios científicos do IPCC, o painel intergovernamental de especialistas em mudanças climáticas da ONU, esta avaliação será a base das duras negociações da conferência.
A COP28 é anunciada como a maior COP já convocada, com 90 mil pessoas esperadas, e terá o desafio de melhor encaminhar o futuro dos combustíveis fósseis - carvão, petróleo e gás, cujas emissões de gases de efeito estufa são as principais responsáveis pelo aumento da temperatura global.
Segundo o documento revelado nesta sexta,"desenvolver energias renováveis ??e livrar-se de todos os combustíveis fósseis sem captura de CO² (gás carbônico) são elementos essenciais de uma transição energética justa para a neutralidade de carbono".
A humanidade deve "reduzir as emissões globais de gases com efeito de estufa em 43% até 2030 e 60% até 2035 em comparação com os níveis de 2019", e alcançar a neutralidade de carbono em 2050, recorda novamente o relatório.
Mas o tempo esta se esgotando. "Há uma janela que se fecha rapidamente para aumentar as ambições e implementar os compromissos existentes para limitar o aquecimento global a 1,5°C", alerta o relatório, escrito por um especialista sul-africano e por um colega americano, após anos de consultas com especialistas de países membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) e observadores de ONG ambientalistas.
Países do G20 na mira
Em resposta, o relatório descreve mais uma vez formas de aumentar o financiamento climático, principalmente nos países em desenvolvimento. "Os princípios fundamentais do Acordo de Paris ainda não são respeitados pelas 197 partes", mas "o fardo da resposta recai sobre 20 países", disse à AFP na quinta-feira o chefe da ONU para o Clima, Simon Stiell, referindo-se ao G20.
O relatório é publicado na véspera da cúpula entre os líderes das 20 principais nações do planeta, que acontece em Nova Deli neste fim de semana.
O presidente da COP28 e da companhia petrolífera nacional dos Emirados, Sultan Al Jaber, reagiu apelando à "triplicação das energias renováveis ??até 2030, à comercialização de outras soluções livres de carbono, como o hidrogênio, e ao desenvolvimento de um sistema energético livre de qualquer combustível fóssil, sem captura de CO², ao mesmo tempo que eliminamos as emissões das energias que utilizamos hoje", disse.
"O sucesso da COP28 dependerá, em grande parte, da forma como o mundo reagir aos resultados da avaliação global", reagiu Kaveh Guilanpour, do centro de pesquisas climáticas C2ES. Mas "a hora da verdade chegará no início de 2025, quando os países terão de colocar sobre a mesa novos objetivos climáticos", tal como prevê o Acordo de Paris.
Com informações da AFP