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Como melhorar a vida das pacientes depois do câncer de seio?

24/10/2023 13h23

O Outubro Rosa foi criado para conscientizar sobre a importância de prevenir e diagnosticar o câncer de mama. Mas, depois que a doença aparece, como melhorar a qualidade de vida das pacientes durante e após o tratamento?

Taíssa Stivanin, da RFI

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Antecipar soluções e colocá-las em prática é o objetivo da equipe da oncologista portuguesa Inès Vaz-Luis, do Instituto francês Gustave Roussy, uma das maiores referências mundiais no tratamento contra o câncer.

A pesquisadora catarinense Maria Alice Franzoi, 34 anos, integra esse projeto há dois anos. "Sempre me interessei por pesquisa, querendo aprender mais e oferecendo estratégias mais inovadoras para os pacientes. Sempre tive essa vontade".

Maria Alice então se candidatou para uma vaga de pesquisa clínica em câncer de mama no Instituto Jules Bordet, em Bruxelas, onde ficou por dois anos.

Em seguida, a oncologista brasileira foi convidada para trabalhar no instituto francês, há cerca de três anos. O foco de suas pesquisas é a personalização das trajetórias de pacientes com câncer de mama. "Com o avanço dos tratamentos e o diagnóstico precoce, e o conhecimento sobre a biologia molecular do câncer de mama, as taxas de cura têm aumentado muito", diz.

Mais de 90% das pacientes ainda estarão vivas após dez anos, lembra a pesquisadora. "Ao mesmo tempo, sabemos que esse pós-câncer não é tão fácil quanto parece. Cerca de 50% das pacientes vão sofrer com uma sequela física, com impacto na vida diária, 30% têm stress emocional, como ansiedade ou depressão, e 20% têm dificuldades para voltar ao trabalho, quatro anos depois do tratamento."

Personalização do tratamento

Por essa razão, uma das metas da equipe é personalizar os tratamentos. "Trabalhamos neste tópico há mais de sete anos e muitas das informações que temos vêm de um estudo de coorte (observacional), chamado CANTO. É um grande grupo de pacientes recrutados em toda a França. São cerca de 12 mil  que são acompanhadas dez anos após o diagnóstico."

Essas pacientes, explica Maria Alice Franzoi, respondem a questionários anuais sobre diversos sintomas, saúde sexual, mental, qualidade de vida e  retorno ao trabalho. O estudo, diz, possibilitou quantificar o impacto do câncer de mama e dos tratamentos na vida das mulheres.

Os dados também permitiram a criação de algoritmos de predição para que a equipe pudesse entender porque algumas pacientes tinham mais risco de desenvolver alguns sintomas do que outras. Esses algoritmos, diz, permitem estimar esse risco de sequela no momento do diagnóstico.

"Expandimos essas análises para todas as pacientes, incluindo as que foram ou não tratadas com quimioterapia." Os resultados foram apresentados na Asco, o maior congresso de oncologia do mundo, que acontece todos os meses de junho em Chicago.

Muitos dos fatores de risco identificados depois do câncer, são modificáveis, diz a oncologista. Entre eles, uma fadiga existente no momento do diagnóstico, o tabagismo, sobrepeso ou a depressão, além de outros. "Se agirmos sobre esses fatores, a trajetória dessa paciente poderá talvez ser diferente", conclui.

O trabalho da equipe busca predizer quais pacientes correm mais risco de ter sequelas e como utilizar os dados para influenciar positivamente trajetória da mulher que terá um câncer de mama. "A ideia é agir nos fatores modificáveis e empoderar a paciente o máximo possível, para que ela entenda o que é possível fazer para melhorar sua qualidade de vida e diminuir o risco de sequelas."

Em 2024, a equipe iniciará a um ensaio clínico, recrutando cerca de 150 mulheres, para testar o efeito das estratégias personalizadas identificadas nos estudos dos fatores de risco e sequelas.

"Um mecanismo muito importante, que acreditamos no grupo, é o empoderamento do paciente. Para que ele tenha informações suficientes para iniciar as discussões com a equipe médica e para que faça a auto-gestão de sua saúde. Tem várias coisas que o paciente pode, fazer, ele mesmo sem estar no hospital, para se ajudar", diz Maria Alice.

Estratégia digital

O Instituto Gustave Roussy também trabalha, desde 2011, com uma start-up chamada Resilience no desenvolvimento de uma estratégia digital.

Ela inclui um aplicativo que oferece conteúdo educacional sobre a doença, efeitos secundários a seus tratamentos e também programas de autogestão. Entre eles, exercícios físicos, meditação, yoga e terapias cognitivo-comportamentai, baseados em evidências científicas, dirigido a sintomas específicos das pacientes.

Além disso, também é possível realizar o monitoramento remoto através da ferramenta, melhorando a comunicação da paciente com a equipe médica.

"Cerca de 80% das pacientes têm o que chamamos de câncer de mama hormônio positivo e devem tomar um comprimido de hormonoterapia de 5 a 10 anos para aumentar as chances de cura e prevenir a recidiva. Entretanto, sabemos que 50% delas interrompem a medicação antes dos 5 anos por conta dos efeitos colaterais crônicos que impactam a qualidade de vida", diz a oncologista.

"Se fizermos o manejo da toxicidade (com medidas farmacológicas e comportamentais) podemos aumentar a tolerância desta medicação e melhorar as chances de cura da paciente", explica.

Durante o tratamento quimioterápico, as pacientes respondem semanalmente um questionário sobre sintomas. "Se a paciente tiver um sintoma de alto grau, é enviado um alerta à equipe de saúde que entra em contato com a paciente para resolver o problema", explica a oncologista.

A iniciativa já foi implantada em cerca 30 centros de câncer com 4 mil pacientes e visa principalmente melhorar a comunicação com o sistema de saúde. "Na maior parte do tempo, a paciente está em casa. Então ela precisa ter ferramentas para compreender sua doença, autogerir seus sintomas e contactar a equipe de saúde em caso de problemas", conclui.

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