Jornal: Empregada diz que trabalhou de forma ilegal para Neymar na França

O jornal francês Le Parisien publicou, nesta quarta-feira (15), uma reportagem sobre a acusação feita por uma brasileira, de 35 anos, mãe de quatro filhos, que exige indenização de 368 mil euros (R$ 1,9 milhão) de Neymar.

A mulher, que não possuía documentos regulares para viver na França, alega que trabalhou para Neymar em regime de sete dias por semana durante quase dois anos, quando o jogador morava no país, mas sem ser declarada por ele. Ela ameaça levar o caso ao tribunal criminal.

Procurada pela reportagem do UOL, a equipe de Neymar disse desconhecer o assunto e que o atacante não foi citado judicialmente sobre a questão até o momento.

Neymar foi denunciado ao tribunal trabalhista de Saint-Germain-en-Laye, em Yvelines, região parisiense, pela mulher, que teve sua identidade preservada pelo jornal.

Segundo a publicação, ela vivia na França sem visto ou documentos para trabalhar e o acusa de tê-la empregado ilegalmente em carga horária excessiva de sete dias por semana, de janeiro de 2021 a outubro de 2022. A brasileira alega que os pagamentos eram realizados sistematicamente em espécie para evitar declarar a empregada ao sistema fiscal francês.

"Trabalho oculto, ritmo infernal, não pagamento de horas extras, ausência de licença remunerada e acompanhamento médico... a ficha tem cheiro de escravidão moderna", diz a reportagem. Durante o tempo que trabalhou para o jogador, a empregada doméstica, grávida do quarto filho, teria sido obrigada a trabalhar até duas semanas antes de dar à luz. Ela acabou por não retornar ao seu cargo e diz não ter recebido nenhum tipo de auxílio ou contato por parte do patrão, ou seus auxiliares.

A limpeza do Monsieur, as unhas da Madame

A mansão do brasileiro na França fica na cidade de Bougival, em Yvelines, a cerca de 20 km do centro de Paris. O terreno tem mais de 5 mil m² e o imóvel de luxo cerca de 780 m². Foi nesta casa que a mulher acusa ter sido explorada pela primeira vez, na festa de 27 anos de Neymar, no dia 4 de fevereiro de 2019, quando foi recrutada como ajudante de cozinha por um homem chamado Mauro, um dos integrantes da comitiva do jogador.

O mesmo homem teria convocado a moça de volta em maio de 2020 "para trabalhar com maior regularidade para Neymar Júnior, sem atingir o período integral", segundo nota da intimação enviada ao tribunal pelos advogados da brasileira.

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Depois, a partir de janeiro de 2021, ela teria começado a trabalhar regularmente para o jogador de futebol. Ela cuidava de seus afazeres domésticos e fazia as unhas de sua namorada, Bruna Biancardi. De acordo com a intimação, a pedido de Mauro, a empregada doméstica se aproximou de Isabel J, apelidada de Bel, assistente administrativa do craque. Trocas de mensagens de texto entre as duas mulheres no aplicativo WhatsApp mostram que Bel organizou a chegada "oficial" da funcionária brasileira à casa de Neymar.

Pedia ajuda a uma associação de caridade

O horário de trabalho alegado pela denunciante era de 9 horas por dia nos dias de semana, com mais 6 horas nas noites de sexta-feira e sábado. Aos domingos, ela trabalhava 7 horas por dia. Isso representa mais de 20 horas a mais do que a jornada de trabalho padrão de 40 horas semanais para um empregado doméstico. Entretanto, o empregador nunca teria pagado adicional por horas extras. A mulher diz que recebia 15 euros líquidos por hora, cerca de R$ 80, durante a semana. Nas noites de sexta-feira e sábado e aos domingos, o valor era de R$ 160 por hora, sem nunca ter tido acesso a recibos ou declarações de pagamento.

A mulher anotava suas horas trabalhadas em um caderno escolar tabelado. Ela acusa ainda de não ter tido descanso ou férias remuneradas. Após ter o bebê e por estar sozinha na França com quatro filhos, sem contrato de trabalho escrito, precisou recorrer ao Secours Populaire, associação francesa de caridade, para morar e ao Restos du Coeur, organização que distribui alimentos, para dar de comer à sua família.

Ela também bateu à porta da Femmes de la Résistance, uma associação que ajuda mulheres brasileiras em situações precárias ou que são vítimas de violência doméstica.

A reportagem da RFI entrou em contato com a presidente da associação, Nellma Barretto, para conversar com a mulher, mas ela não quis conceder entrevista.

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"É inaceitável que, quando você se chama Neymar, se aproveite da vulnerabilidade de uma mulher sem documentos, e ainda por cima uma compatriota. Isso se chama exploração humana", lamentou Nellma para o Le Parisien.

A acusação

Em junho passado, Caroline Toby e Vincent Champetier, advogados da brasileira, enviaram uma carta registrada com aviso de recebimento à casa de Neymar na tentativa de chegar a um acordo amigável. Embora ele ainda não tivesse partido para a Arábia Saudita e ainda estivesse em Bougival, a carta ficou sem resposta. Eles também estão pedindo ao tribunal que informe o promotor público de Paris sobre o crime de trabalho não declarado, conforme exigido por lei.

"Neymar explorou a posição precária de nossa cliente para impor a ela condições de trabalho indignas, violando as regras básicas da lei trabalhista", explicam os advogados. "Lamentamos o fato de que tal personalidade possa ter demonstrado tamanha desumanidade, chegando ao ponto de expulsar nossa cliente de sua casa alguns dias antes de ela dar à luz prematuramente, quando ela estava reclamando de dores. Agora, estamos considerando tomar as medidas legais que esse caso merece", disseram ao jornal.

A assessoria de Neymar não se pronunciou sobre o assunto.

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