Governo da Venezuela repudia assassinato de Julieta Hernández no Brasil
O assassinato da Julieta Hernández ganhou repercussão na Venezuela, seu país natal. Pelas redes sociais, centenas de pessoas repudiaram o crime e manifestaram solidariedade à família da artista circense. No Brasil, onde aconteceu o crime, estão previstas manifestações para esta sexta-feira, 12, mesmo dia que o velório deve acontecer na cidade de Porto Ordaz, estado Bolívar, no sul da Venezuela, aonde a palhaça se dirigia para reencontrar a mãe, que está doente.
O Ministério da Cultura venezuelano divulgou um comunicado, na noite desta segunda-feira (8), em repúdio ao feminicídio da artista circense Julieta Hernández.
Na mensagem, o ministro Ernesto Villegas pediu punição exemplar para "este crime abominável", ao mesmo tempo que agradeceu às autoridades brasileiras pela colaboração na repatriação do corpo e do cuidado aos familiares da artista morta com requintes de crueldade em Presidente Figueiredo, estado Amazonas.
"A Venezuela perde com Julieta Hernández uma artista integral, expressão da afirmação venezuelana", ressalta o comunicado.
Julieta, que fundou a Rede Venezuelana de Palhaços, foi homenageada por colegas da profissão. Pelas redes sociais proliferaram notas de repúdio aos assassinos que destacavam o trabalho que a mulher, de 38 anos, fazia pelas comunidades onde passava com sua bicicleta.
Protestos por Julieta
Uma série de protestos estão previstos em diversas cidades de norte a sul do Brasil. A maioria acontecerá na noite de sexta-feira (12). Até o momento não há atos agendados na Venezuela.
Embora o crime tenha gerado comoção, uma série de fatores limitam a mobilização popular em torno do caso. A antropóloga Nashla Báez contou à RFI o contexto que explica esta limitação: "A própria dinâmica venezuelana nos deixa atônitos com o que acontece com os venezuelanos no exterior. Esse foi um caso muito feio, porém nos últimos meses temos visto muitos casos apavorantes de venezuelanos no exterior e tampouco houve protestos. Hoje em dia o venezuelano está protestando por temas econômicos e sociais", detalhou.
Imigração e gênero
Entre os mais de sete milhões de venezuelanos que saíram do país, segundo a Organização das Nações Unidas, cerca de 414 mil estão no Brasil. No entanto, o assassinato de Julieta Hernández foi um dos piores crimes cometidos contra um imigrante venezuelano.
Trata-se de um que grupo sofre com a vulnerabilidade, a começar pelos motivos que os levam a tomar a decisão de abandonar o país natal. A partir disso, surgem as inseguranças psicológica, social e econômica. Uma ampla parcela dos imigrantes não tem paradeiro definido ao sair da Venezuela e os grupos mais vulneráveis são as mulheres e crianças.
A diretora do observatório Caleidoscópio Humano, Gabriela Buada, destaca a violência de gênero, especificamente contra mulheres venezuelanas imigrantes no mundo.
"Foram divulgados três casos violentos, contando o caso de Julieta no Brasil, e dois nos Estados Unidos. É preciso observar, colocar uma lupa, sobre a violência de gênero e a proteção que está sendo dada nos países receptores de imigrantes, onde a maioria da imigração continua sendo a venezuelana e nos países da América Latina", ressaltou.
Para ela, é imperativo verificar "a partir da proteção dos Direitos Humanos esse sentido de proteção das vulnerabilidades das mulheres imigrantes para proteger sua integridade e, sobretudo, para a prevenção da violência de gênero", apontou Buada.
Homenagem em mural
Julieta Hernández, durante suas apresentações circenses, se transformava na palhaça Jujuba. A artista se formou com altas notas em medicina veterinária, mas foi para o Brasil estudar teatro. Chegou no Rio de Janeiro em 2015 e no país desenvolveu uma carreira itinerante que a levou a diversas cidades brasileiras.
Amigas do coletivo cultural Pé Vermei contam que "Ju se encantou nas estradas de uma forma bem poética". Nas imagens que circulam pelas redes sociais, Julieta aparece apresentando sua arte para todo tipo de público.
Para ela o importante era levar a alegria aonde quer que fosse. Sempre risonha, com alta energia, a venezuelana também fez apresentações em hospitais e em pequenas cidades do interior. Sua casa era sua bicicleta, onde carregava a bagagem.
Muito querida no meio circense, Julieta conquistou verdadeiras amizades. Foram estas que decidiram fazer uma vaquinha para procurá-la no Amazonas após perderem contato com a artista.
A pressão gerada pelos amigos mobilizou as autoridades de Presidente Figueiredo a ampliar as buscas por Julieta. Mas a trágica morte frustrou a expectativa das amigas de encontrá-la viva.
Em Boa Vista, capital de Roraima, um grupo pintou um mural com o rosto de Julieta, onde também foram colocadas velas em homenagem a artista.