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Entenda o que está em jogo nas eleições de El Salvador que podem reeleger Nayib Bukele

04/02/2024 12h17

Os 6.214.399 eleitores de El Salvador, incluindo 741.094 registrados no exterior, principalmente nos Estados Unidos, vão às urnas neste domingo (4) em quase 1.700 centros de votação para o primeiro turno das eleições presidenciais. Elogiado pelos salvadorenhos pela sua guerra contra gangues criminosas, o jovem presidente Nayib Bukele, de 42 anos, é o grande favorito.  

Com informações do correspondente da RFI em El Salvador, Carlos Herranz.  

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A Constituição salvadorenha proíbe um presidente de cumprir dois mandatos sucessivos. Mas em 2021, os juízes do Tribunal Constitucional, nomeados por Nayib Bukele, o autorizaram a concorrer novamente, se outra pessoa assumisse o poder durante os últimos seis meses de presidência. Bukele entregou o cargo a seus seguidores políticos.

Uma interpretação da Constituição que a população acabou aceitando especialmente porque, um ano depois, em 2022, o presidente lançou a sua guerra contra os bandos armados, conhecidos no país como Pandillas. Cerca de 75 mil pessoas foram presas e um estado exceção foi decretado. Como resultado, a criminalidade caiu consideravelmente. A taxa de homicídios passou de 106,3 por 100.000 habitantes em 2015, então uma das mais altas do mundo, para 2,4, em 2023. 

Os salvadorenhos continuam gratos a Bukele, mesmo que o estado de exceção tenha reduzido muitas de suas liberdades. Outro problema é que o presidente, apostando apenas na repressão, não abordou as causas da existência dos pandilleros, como são chamados os membros de gangues.  

"No início, quando comecei a minha atividade, havia um jovem que veio e a quem tive que dar dinheiro. E você tinha que pagar, senão arriscava a vida: ameaçavam você, esse tipo de coisa", conta Gustavo, um hoteleiro de 30 anos da praia de El Zonte."Parei de pagar quando teve a pandemia, quando todos os negócios pararam de funcionar, porque falaram que como não ganhávamos mais, não iam mais pedir. Depois da pandemia, quando tudo recomeçou, os pandilleros disseram que eu teria que recomeçar a pagar. Mas graças a Deus, depois teve o regime de emergência, começaram a colocar todos na prisão e pararam de me pedir dinheiro", relata. 

O economista e criminologista salvadorenho Carlos Carcach considera preocupante que a população não reaja à perda de liberdade e à concentração do poder nas mãos de Bukele. "A maioria da população, que não tem um nível de escolaridade muito elevado não entende a magnitude do que está acontecendo. Ela acredita que o presidente está resolvendo o problema de segurança e que está mais tranquila. Ela não percebe que à medida que o presidente concentrar mais poder, a democracia desaparecerá. E que vamos caminhar para um governo autoritário", teme. 

Um pacto com as gangues 

A luta contra os Pandillas também é travada por meios ilegais. O jornal salvadorenho El Faro, que teve de se exilar na vizinha Costa Rica face à pressão governamental, revelou que o governo tinha feito um acordo com gangues salvadorenhas. "Nayib Bukele está profundamente envolvido nesta questão das negociações com as gangues", diz Gabriel Labrador, jornalista do El Faro. "É uma estratégia do governo manter as estatísticas de homicídios em um nível aceitável. Em vez de adotar uma política de segurança próxima dos cidadãos ou de fortalecer a polícia, ele concluiu um pacto obscuro com as gangues. Uma investigação do El Faro mostra que este pacto é real", denuncia.  

A economia do país, contudo, ainda está em más condições. As tentativas do presidente de dar curso legal ao bitcoin e atrair turistas e investimentos estrangeiros não tiveram sucesso. Esses assuntos poderiam ter sido discutidos pela oposição nas eleições presidenciais. Porém, as vozes contraditórias são inaudíveis, observam os especialistas. 

"Nayib Bukele vencerá, e com uma pontuação muito boa: ele tem um capital político tão significativo... Não creio que os dois principais partidos da oposição, a Arena e a FMLN, possam alcançar sequer 15% dos votos", estimou o economista e criminologista Carlos Carcach antes da votação. 

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