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Macron vai condecorar líder indígena Raoni com a mais alta honraria francesa em Belém

26/03/2024 06h44

Aos 93 anos, o líder indígena da etnia caiapó e ativista Raoni Metuktire mantém a vitalidade e tem na ponta da língua o que pretende cobrar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Belém, capital do Pará. Raoni se encontra, nesta terça-feira (26), com o líder brasileiro e o presidente francês, Emmanuel Macron, no início de um périplo de três dias do líder europeu pelo Brasil.

Vivian Oswald, enviada da RFI a Belém

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"O mais importante é continuar a demarcar as terras indígenas", disse à RFI em Brasília, pouco antes de embarcar para a capital paraense, recordando a promessa que ouviu de Lula na ocasião de sua posse no ano passado.

Esta será a terceira vez que Raoni se reunirá com Emmanuel Macron, de quem se diz amigo. O líder indígena viaja acompanhado de uma pequena comitiva trazida pelo Governo Federal para o encontro em Belém, que acontece logo após a reunião de Lula e Macron a bordo de um barco na baía de Guajará. Os dois param na ilha do Combu, onde visitam a produção sustentável de cacau e chocolates amazônicos feita por mulheres. De lá, percorrem um trecho da mata e seguem para o encontro com líderes das comunidades indígenas locais e um lanche amazônico.

Este é o chamado eixo ambiental da visita bilateral de Macron, a primeira ao Brasil e à América Latina desde que assumiu o posto em 2017. O tema é típico da pauta dos presidentes, que negociam cerca de 30 atos e protocolos em Brasília, onde Macron será recebido com honras de Estado. Entre eles, "Chamado Brasil-França à ambição climática de Paris em Belém" e o "Roteiro sobre a bioeconomia e a proteção das florestas tropicais".

A cacique Watatakalu Yawalapiti, de 42 anos, líder feminina de 16 povos da região do Xingu, queixou-se de falta de voz de quem vive nas aldeias e disse que as comunidades indígenas estão fora dos debates sobre o G20, cuja presidência brasileira de um ano vai até novembro, e da COP30, que acontece em Belém em 2025, com reunião de cúpula que marcará a presidência brasileira da conferência do clima.

"Sinto falta de espaço pra quem está vivendo nas aldeias. Há representações indígenas no governo, mas é preciso levar o que só vê quem está na terra e conhece a realidade local. Não precisa ser branco, ou que fale a língua do caraíba ou ter estudado em universidades, para saber o que é nossa realidade", disse a cacique.

Falta de conhecimento sobre a realidade dos povos indígenas

Para Watatakalu, é preciso aprofundar a discussão sobre como se produzir e gerar renda sem derrubar florestas. "O que vemos é um discurso muito vazio", disparou.

A líder afirma que a falta de conhecimento sobre os povos indígenas está em detalhes elementares. "É um povo sem noção. Recebemos passagens de Brasília para Belém. Mas ninguém parece saber que existe um longo trajeto até chegar aqui (Brasília)", criticou a indígena, que relatou o longo trajeto até chegar à capital federal. Foram três horas de barco da Beira-Rio, mais seis horas de carro até Canarana e outras 17 horas de ônibus.

Ela aponta que é mais fácil saber o que se passa nas negociações internacionais a partir do exterior, do contato com autoridades e organizações de outros países. Em Belém, a cacique quer discutir a ideia de montar uma grande oca para mostrar produtos produzidos pelos povos indígenas durante a COP30.

"Queremos mostrar as coletoras de sementes que temos no Xingu", contou Watatakalu, que prefere ser chamada de líder feminina em vez de cacique.

"Lidero um movimento de mulheres. As pessoas acham que indígenas são só aqueles cocares imensos. Mas este é um símbolo de homens, e de submissão das mulheres" completa.

Condecoração francesa ao líder Raoni

No encontro com indígenas, Macron concede a mais alta condecoração francesa ao líder dos caiapós e ativista Raoni. A "Légion d'honneur" é a Ordem Nacional da Legião de Honra, instituída por Napoleão Bonaparte, que homenageia os méritos militares ou civis de uma personalidade à nação. 

Após o evento, Lula e o francês seguem para o Rio de Janeiro, a segunda das três cidades onde estarão juntos. Lula ainda o receberá em Brasília. Na etapa de São Paulo, o líder francês, depois de receber investidores brasileiros, fará um discurso de encerramento no Fórum Brasil-França, que contará com a participação de empresários brasileiros e franceses.

Macron participa ainda da inauguração do Instituto Pasteur de São Paulo e encontra o jogador de futebol Raí, festejado na França, e fundador da entidade Gol de Letra. No início da noite fará um discurso durante a recepção à comunidade francesa de São Paulo, de onde Macron seguirá para um jantar com personalidades, entre outras, da música brasileira.

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