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Caracas sedia diálogo entre governo da Colômbia e a dissidência das Farc

25/06/2024 09h16

Começou nesta segunda-feira (24) em Caracas os diálogos entre o governo da Colômbia e a Segunda Marquetália, a dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). A conversa com os ex-guerrilheiros que abandonaram o acordo de paz foi liderada por um dos ex-chefes da guerrilha colombiana, Ivan Márquez, que sofreu um atentado em 2023 e era dado como morto. As negociações buscam uma saída ao conflito armado.

Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

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Esta primeira etapa das conversas, que começaram nesta segunda-feira e vão até dia 29 de junho, servirá para definir assuntos que serão abordados durante as outras etapas dos diálogos. Em reuniões prévias realizadas também na Venezuela ambos os lados definiram que o processo de negociação "buscará por mudanças e reformas democráticas para o benefício da população, partindo da construção da paz com soluções políticas nas quais as prioridades são os territórios".       

O diálogo com a Segunda Marquetália acontece após a aprovação da lei de paz total na Colômbia e pretende permitir e renegociar com aqueles que saíram do acordo firmado oito anos atrás.

De acordo com Ivan Márquez, codinome de Luciano Marín Arango, a organização tem o mais profundo desejo de paz. Segundo ele, a Segunda Marquetália surgiu após o descumprimento do acordo de paz firmado em Havana, Cuba, em setembro de 2016, e ao indiciamento de Jesus Santich, porta-voz do grupo guerrilheiro. Márquez ressaltou que este indiciamento seria estendido a outras pessoas porque, segundo ele, "nada queriam fazer para avançar na superação das causas históricas do conflito".

Márquez ressaltou que, embora a Segunda Marquetália tenha abandonado os acordos de paz oito anos atrás, "existe toda a disposição do mundo de contribuir ao benefício comum da paz na Colômbia".

Apoio ao processo de paz 

A Venezuela vem apoiando o processo de paz da vizinha Colômbia. Desta vez foi com a dissidência das FARC, mas o país também já sediou negociações com o Exército de Liberação Nacional, o ELN, outro grupo guerrilheiro colombiano. Além disso, através dos quilômetros de porosas fronteiras entre ambos os países circulam integrantes dos grupos guerrilheiros colombianos. A relação de Caracas com eles vem desde a gestão de Hugo Chávez. O ex-presidente, que morreu em 2013, chegou a inaugurar em 2008 um busto do fundador das FARC Manuel Marulanda no bairro do 23 de Enero, localizado em Caracas e a poucos metros do Palácio Presidencial de Miraflores.

O presidente Nicolás Maduro, na abertura do diálogo, saudou os participantes através de um comunicado lido pelo chanceler Yvan Gil no qual manifestou "satisfação com o início do processo de diálogo de paz entre a Colômbia e a Segunda Marquetália como parte da política de paz total promovida pelo presidente Gustavo Petro".

Sentado ao lado de Ivan Márquez, o chanceler venezuelano destacou que "a Venezuela está comprometida radicalmente com as discussões, os processos com o Exército de Liberação Nacional. Estamos na mesa de negociação com o Estado Maior central e a partir de hoje também comprometidos com este processo da Segunda Marquetália", frisou Yvan Gil.     

Prótese após atentado

O líder da segunda Marquetália foi dado como morto desde que sofreu um atentado em junho de 2022 na região oeste da Venezuela. Não havia informações precisas sobre seu paradeiro nem sobre seu estado de saúde. O atentado foi tratado com hermetismo pelo governo de Maduro e havia poucas informações sobre o líder guerrilheiro colombiano.  

Em julho de 2023, um texto assinado por Márquez em uma página de internet causou surpresa e desconfiança sobre a veracidade da autoria do material. Em maio deste ano, um jornal da Espanha publicou um vídeo no qual Ivan Márquez aparecia apoiando a Constituinte promovida pelo presidente Gustavo Petro.

Ainda que não haja mais informações sobre o estado de saúde de Ivan Márquez, nesta segunda-feira ficou evidente que após o atentado o líder guerrilheiro ficou com problemas de visão e passou a usar uma prótese após perder uma das mãos.   

A Segunda Marquetália surgiu em meados de 2019 quando Ivan Márquez anunciou através de um vídeo o surgimento desta nova rebelião armada e dissidente das antigas FARC - que haviam assumido compromisso de paz em um acordo firmado em Cuba. Cerca de 1.600 pessoas integram esta dissidência das FARC.

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A meta da Segunda Marquetália não é atacar o Estado, mas sim conseguir o controle de territórios na Colômbia. Por este motivo, a guerrilha recém-criada entrou em conflito com outro grupo paramilitar, o Estado Maior Central (EMC), de acordo com o Comitê da Cruz Vermelha. 

Este diálogo entre o governo da Colômbia e a dissidência das FARC conta com a mediação de Cuba, Venezuela e Noruega, e com o acompanhamento da ONU e da Conferência Episcopal da Colômbia. Os diálogos com este braço das antigas FARC acontecem após o governo de Petro aprovar a lei da paz total e visa dialogar com aqueles que saíram do acordo de paz.

Desta maneira, a Colômbia busca acabar com conflitos que já mataram mais de 450 mil pessoas ao longo de 60 anos.  No próximo sábado termina a primeira etapa dos diálogos e ambas as partes devem comunicar os parâmetros das próximas negociações.

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