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Campanha francesa esquenta com agressão a porta-voz, lista de advogados 'a eliminar' e ingerência russa

04/07/2024 12h21

A três dias do segundo turno das eleições legislativas na França, a imprensa reporta a atmosfera de tensão no país. Na noite de quarta-feira (3), a porta-voz do governo, ministra Prisca Thévenot, candidata à reeleição na Assembleia pelo partido do presidente Emmanuel Macron, foi agredida quando pregava cartazes de sua campanha ao lado de sua suplente em Meudon, município da região parisiense. 

A porta-voz Prisca Thevenot concorre ao segundo turno neste distrito contra uma candidata de esquerda, depois de ficar em primeiro lugar no primeiro turno com 39,9% dos votos. Ela estava acompanhada da suplente Virginie Lanlo e de dois militantes quando avistou um grupo de pessoas rasgando cartazes eleitorais dos candidatos. "Dissemos a eles, sem nenhuma agressividade, que era proibido", descreveu ao jornal Le Parisien.

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Segundo o relato da ministra à polícia, um homem que arrancava um cartaz gritou a palavra Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, e mandou chamar outras pessoas, antes de voltar ao local acompanhado por "cerca de 20 indivíduos". O mesmo homem atacou um dos ativistas com uma patinete e feriu a suplente de raspão. As duas vítimas foram hospitalizadas. O militante teve fratura de maxilar, enquanto a suplente teve um braço ferido. A porta-voz saiu ilesa. 

Três menores e um adulto presos

Um dos suspeitos foi identificado graças a um vídeo da cena registrado pela própria porta-voz. A polícia prendeu três meninos de 15 a 17 anos e o homem de 20 anos que citou o Alcorão, que já tinha antecedentes judiciais. O suposto autor do espancamento também é suspeito de ter danificado o pára-brisa do veículo do ativista ferido.

Prisca Thevenot diz ter ficado "chocada" com a agressão. A porta-voz do governo é filha de pais nascidos nas Ilhas Maurício, arquipélago colonizado por Holanda, França e Reino Unido. 

Ingerência russa

Segundo uma reportagem do portal de notícias France Info, as eleições legislativas na França têm sido alvo de diversas tentativas de ingerência da Rússia por meio de redes sociais, sites e influenciadores. O objetivo dessas ações é favorecer a extrema direita em detrimento de outras forças políticas. Vários institutos de pesquisa respeitados relatam que agências de propaganda que operam para o Kremlin instigam influenciadores franceses a lançar debates sobre temas controversos, como a guerra na Faixa de Gaza, um tema sensível para o partido de esquerda França Insumissa, ou a guerra na Ucrânia.

Um estudo da empresa americana de cibersegurança Recorded Future, publicado no final de junho, identificou o trabalho de uma rede de influência russa chamada CopyCop para difamar a administração do presidente Emmanuel Macron, particularmente no que diz respeito à guerra na Ucrânia.

Uma semana antes do primeiro turno das eleições legislativas, o CopyCop criou dois sites de desinformação: Véritécachée.fr (Verdade escondida, em tradução livre) e Franceencolère.fr (França em revolta). Este tipo de site, que a rede já utilizou no passado, é utilizado para publicar informações falsas geradas por inteligência artificial, às vezes plagiando a homepage dos veículos tradicionais franceses para torná-los mais credíveis. 

O jornal Le Monde mostra que os partidos de extrema direita Reunião Nacional e Reconquista foram os que mais usaram a inteligência artificial em suas campanhas. A sigla de Marine Le Pen e Jordan Bardella, pretendente ao cargo de chefe de governo, publicou vários vídeos nas redes sociais de uma campanha intitulada "A Europa sem eles", que ataca Macron e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com fotos e vídeos produzidos por IA, que mostram imigrantes desembarcando em massa em praias francesas e europeias, além de homens suspeitos vestidos com roupas islâmicas típicas.

Lista de advogados "a eliminar"

O portal France Info ainda revela que o site de extrema direita Rede Livre publicou um artigo na quarta-feira (3) listando cerca de uma centena de advogados "a serem eliminados", descritos como "escória" por terem assinado uma artigo de opinião na revista Marianne, no dia anterior, contra o partido Reunião Nacional. "Para serem enviados a uma vala (...), esses advogados que declaram que não respeitarão o veredito das urnas em caso de vitória do RN", ameaça a Rede Livre. Esse grupo extremista foi revelado pelo site investigativo Street Press, no início do ano.

"Claro que não são os únicos, é a grande maioria dos advogados que precisam de ser neutralizados", diz o grupo extremista de direita. Seus membros se referem aos advogados como "vermes de toga preta", por terem denunciado em 2001 outro site de extrema direita, o SOS Racaille, que também publicou uma lista de advogados acusados ??de "defender a escória anti-França", ou seja, os imigrantes.

O ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, reagiu indignado à publicação da lista nominal de advogados. "Aqueles que querem a morte das nossas liberdades sempre começam atacando os advogados", declarou. O Ministério Público foi solicitado pela Ordem dos Advogados de Paris para abrir uma investigação.

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