Campanha para eleições legislativas francesas se encerra sob forte tensão

A campanha para o segundo turno das eleições legislativas francesas se encerra nesta sexta-feira (5), sob um clima tenso. Nos últimos dias, foram registradas dezenas de agressões contra candidatos e militantes. O Ministério do Interior da França anunciou a mobilização de 30 mil policiais para o domingo (7), temendo distúrbios no dia da votação.

Daniella Franco, da RFI

Segundo o ministro do Interior, Gérald Darmanin, "51 candidatos, suplentes ou militantes foram agredidos fisicamente" durante as três semanas de campanha das eleições legislativas antecipadas, "sem contar as agressões verbais". A forte polarização deixou a França "com os nervos à flor da pele", reiterou Darmanin, em entrevista à BFMTV nesta sexta-feira.

No total, mais de 30 abordagens motivadas por violências políticas foi registradas pela polícia durante o período. De acordo com o ministro, o perfil dos agressores é "extremamente variado", em geral "pessoas espontaneamente irritadas", entre "militantes políticos, membros da ultraesquerda ou da ultradireita e de outros movimentos".

Entre os casos de agressão mais graves está o da deputada porta-voz do governo e candidata à reeleição Prisca Thévenot e sua equipe. Na quarta-feira (3), o grupo foi agredido ao questionar jovens que estavam rasgando cartazes de candidatos em Meudon, na periferia de Paris. Duas pessoas foram hospitalizadas.

Na região da Isère, no sudeste da França, o vereador Bernard Dupré, diz ter levado um soco no rosto por pregar cartazes com o rosto do ex-primeiro-ministro e candidato Olivier Verán. Marie Dauchy, candidata do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN), suspendeu sua campanha após ter sido agredida e ameaçada de morte por um homem na região da Savoie, no leste da França.

Militantes e simpatizantes não escapam do clima tenso. Na região da Loire-Atlantique, no noroeste, três jovens afirmam ter sido alvo de violências homofóbicas ao realizarem uma operação porta a porta. Membros da equipe da candidata da esquerda Danielle Simonnet foram agredidos com socos e spray de pimenta por colarem cartazes de campanha no 10° distrito de Paris.

"Há um clima de grande violência em relação à política e em relação ao que ela representa", comentou Darmanin. "Em uma democracia, é muito importante que os candidatos, os militantes e que a política seja respeitada", reiterou o ministro francês do Interior.

Ameaças da extrema direita contra advogados

O site da extrema direita Rede Livre publicou uma matéria na quarta-feira (3), com o nome de cerca de 100 advogados descritos como "escória" e "a serem eliminados". O motivo foi um manifesto contra o Reunião Nacional (RN) publicado na terça-feira (2) pela revista de esquerda Marianne, assinado pelos magistrados visados pelas ameaças.

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"Esses advogados declaram que não respeitarão o veredito das urnas em caso de vitória do RN", afirma a Rede Livre. "Claro que não são os únicos, é a grande maioria dos advogados que precisam ser neutralizados", diz o site da extrema direita.

O ministro francês da Justiça, Eric Dupond-Moretti, expressou sua indignação à publicação da lista nominal de advogados. "Aqueles que querem a morte das nossas liberdades sempre começam atacando os advogados", declarou. O Ministério Público foi solicitado pela Ordem dos Advogados de Paris para abrir uma investigação.

A campanha também foi marcada por denúncias de polêmicos perfis de candidatos da extrema direita. É o caso de Ludivine Daoudi, excluída da campanha do Reunião Nacional depois que uma foto dela usando um quepe militar nazista veio à tona nas redes sociais. Já Annie Bell, continua na corrida pela legenda ultranacionalista, mesmo após a imprensa francesa divulgar que ela foi condenada por sequestro a mão armada, em 1995.

Outros candidatos ultranacionalistas foram alvo de polêmicas por realizar declarações racistas e xenófobas. Daniel Grenon, que afirmou durante uma entrevista que franceses originários da região do Magreb com dupla nacionalidade não deveriam jamais poder ter acesso a altos cargos na França. Paule Veyre de Soras, que briga por uma vaga de deputada em Mayenne, no nordeste da França, tentou se defender de acusações de racismo afirmando à uma mídia local: "tenho como oftalmologista um judeu. E tenho como dentista um muçulmano".

Policiamento reforçado no domingo

O clima de tensão é reforçado por um temor que os resultados do segundo turno e uma provável vitória da extrema direita não sejam aceitos por parte da população francesa. Por isso, o Ministério do Interior mobilizou 30 mil policiais em todo o país no domingo, entre eles, cinco mil apenas em Paris.

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"É um grande esquema para que a ultraesquerda e a ultradireita não aproveitem o resultado para criar uma desordem que pode, em seguida, resultar em outras desordens", justificou Darmanin. O próprio ministro reconheceu que "há algo no ar que suscita a liberação da violência".

Na quarta-feira (3), a Praça da República acolheu uma grande mobilização pacífica contra a extrema direita, na presença de estudantes, ONGs defensoras dos direitos humanos, políticos da esquerda, celebridades e personalidades, entre elas, o ex-jogador de futebol Raí, que discursou no evento.

Nesta sexta-feira, o secretário de Segurança Pública de Paris, Laurent Nuñez, indicou que um ato convocado pelo coletivo Ação Antifascista Paris e Periferia para o domingo diante da Assembleia Legislativa francesa foi proibido.

A manifestação seria realizada independentemente do resultado do segundo turno, segundo os organizadores. No entanto, os serviços de inteligência da França consideraram que grupos rivais poderiam se enfrentar durante o protesto, resultando em "riscos para a ordem pública".

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