Em jogo muito disputado, dupla brasileira deixa escapar bronze no tênis com cadeira de rodas em Paris
Um público animado, formado especialmente por estudantes, marcou presença na quadra Suzanne-Lenglen, no famoso complexo esportivo de Roland-Garros, na zona oeste de Paris, na tarde desta quarta-feira (4), onde os brasileiros Leandro Pena e Ymanitu Silva disputaram a medalha de bronze no tênis em cadeira de rodas. Eles enfrentaram os sul-africanos Lucas Sithole e Donald Ramphadi e perderam no tiebreak.
Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris
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A dupla brasileira saiu na frente, vencendo o primeiro game, mas a partir de então, sentiu a pressão dos sul-africanos, que conseguiram fechar com facilidade os outros 5 games seguidos. Quando os adversários estavam prestes vencer o primeiro set, o Brasil ensaiou uma reação, vencendo o penúltimo game. Porém, a África do Sul manteve o domínio do jogo e terminou o set com placar de 6/2.
Nessa modalidade, o jogador fica em movimento quase o tempo todo com a cadeira, para percorrer a quadra, que tem o mesmo tamanho do tênis tradicional. A rede também é da mesma altura, mas os jogadores podem deixar a bola quicar duas vezes, a segunda pode ser até fora da quadra. E as disputas de pontos costumam ser longas. Eles precisam controlar a cadeira e a raquete, ao mesmo tempo, com destreza e equilíbrio. Para evitar quedas, a cadeira tem uma roda pequena extra atrás. "O tênis em si é um esporte muito difícil e na cadeira de rodas é ainda mais complicado para chegar na bola no tempo certo", explicou Leandro à RFI.
Segundo set
No segundo set, o Brasil voltou com uma melhor finalização dos ataques e venceu o primeiro game. O jogo seguiu com muitas trocas entre as duplas e três erros seguidos dos brasileiros de bola para fora permitiram aos sul-africanos empatar em 1-1.
O Brasil buscou se recuperar na partida, avançando ao fazer 1-2 e depois 1-3. O jogo seguiu com muitas bolas de fundo de quadra e algumas belas subidas à rede. A dupla da África do Sul fechou mais dois games, dificultando o sonho dos brasileiros de subirem ao pódio. Estava tudo empatado em 3-3 no segundo set. Os brasileiros queriam uma virada e venceram mais um game, passando dos sul-africanos no segundo set, em 3-4. Yamanitu chegou a jogar a raquete no chão, após um erro de bola para fora, mostrando a tensão presente na disputa. O game-point foi muito disputado, com uma série de trocas altas. Um erro em uma bola longa de Ymanitu levou os sul-africanos ao empate em 4-4. Os brasileiros não entregaram e fizeram 4-5 e depois fecharam a segunda etapa em 4-6.
Super tiebreak
A partida foi para o tiebreak, disputado em dez pontos. O placar seguiu equilibrado 2-2, depois 4-4, 6-6, 8-8 até que os sul-africanos abriram vantagem e fecharam o jogo em 10-8 numa bola fora de Ymanitu. "A gente fica frustrado quando as coisas escapam assim das nossas mãos", lamentou o atleta em entrevista à RFI. "Foram quatro anos trabalhando para chegar até este momento e ter a oportunidade de escrever o nosso nome na história, e deixar escapar é muito frustrante. Mas a vida é feita de ensinamentos", acrescentou.
Campanha
Leandro Pena e Ymanitu Silva haviam derrotado a Turquia nas classificatórias e perderam para os britânicos na semifinal da competição, na categoria Quad, em que os atletas têm menos mobilidade nos membros superiores. É o caso de Ymanitu, que sofreu um acidente de carro, ficou paraplégico e recuperou lentamente os movimentos do braço, mas ficou com o tronco comprometido.
"A gente não podia ter deixado escapar o primeiro set. Num jogo de duplas com apenas dois sets e um tiebreak, o primeiro set vale muito e nos últimos dois jogos, não conseguimos começar bem a partida, o que deixa o oponente confiante", avalia Ymanitu.
Maior expoente do tênis em cadeiras de rodas do Brasil, Ymanitu já está acostumado ao ambiente de Roland-Garros, onde participou de vários campeonatos e foi vice-campeão de duplas, em 2022. "Eu já estive aqui neste templo sagrado do tênis por duas vezes. As duas vezes saí com o vice-campeonato de duplas e eu esperava muito sair daqui com a medalha paralímpica, por todo o carinho que nós brasileiros temos com Roland-Garros por causa do Guga Kuerten. Eu sou amigo dele, e queria muito ter esta medalha conquistada aqui, mas não foi possível".
Leandro Pena, que compete em sua primeira Paralimpíada, falou à RFI Brasil sobre a decepção desse momento. "O foco principal da gente era o jogo de duplas. Tivemos muito tempo de treino e estou sentindo muita frustração", disse. "Foi maravilhoso poder jogar uma Paralimpíada dentro de Roland-Garros, a gente teve uma bela oportunidade de levar uma medalha para casa, mas que não se concretizou", lamenta. "Tenho orgulho de estar aqui, mas a decepção fala mais alto nesse momento", conclui.