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"Assassinato de Nasrallah gerou ódio e divisões", diz ministro libanês em Paris

05/10/2024 11h25

O ministro da Informação do Líbano, Ziad Makary, está neste sábado em Paris (5), onde ocorre a XIX Cúpula da Francofonia. Em entrevista à RFI, ele conversou com os jornalistas franceses Nicolas Rocca e Robin Cussenot sobre a situação no país, que atravessa uma das piores crises de sua história.

 

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RFI: Esta é uma das crises mais graves da história do Líbano. Em Paris você veio buscar o apoio de outros membros da OIF (Organização Internacional da Francofonia)?  

Ziad Makary: Meu país está em guerra. O Líbano é um membro fundador da Francofonia, sempre participamos das cúpulas. Mas o primeiro-ministro não pôde vir, porque não pode sair do Líbano. Eu mesmo não gostaria de ter saído do Líbano, mas alguém tem que representar meu país.

É normal pedirmos ajuda e contamos muito com a França, que é o único país que tem boas intenções em relação ao Líbano. O presidente francês Emmanuel Macron já disse isso várias vezes. 

RFI: Você está satisfeito com as declarações da França? Espera uma condenação mais firme das ações de Israel em relação ao povo libanês?

ZM- Gostaríamos que houvesse uma condenação muito clara dos países francófonos. Mas, infelizmente, nem pudemos citar Israel na declaração da cúpula. Toda vez que citamos Israel, há muitos países que são solidários com Israel.

Atualmente, temos mais de 2 mil vítimas e 1,2 milhão de deslocados no Líbano. Entre essas vítimas, temos 110 ou 120 socorristas ou membros da defesa civil. Beirute é bombardeada todos os dias. 

Hoje, o Exército israelense também bombardeou o norte do Líbano. Pela primeira vez em um ano, o Exército libanês também disparou contra Israel, em retaliação. Houve muitos bombardeios, ataques à integridade do território libanês, à capital e operações terrestres no sul. 

RFI- Por que o exército libanês decidiu reagir agora?

ZM- O Exército libanês é responsável pela defesa do território libanês e reage quando é necessário reagir. Já existem dois mártires, dois soldados mortos por Israel. Em todas as frentes, as coisas não estão indo bem. Eu até li que Israel havia ameaçado a UNIFIL, a força internacional das Nações Unidas, que fica no sul. Não há limites para o que acontece.

RFI- A força de paz da ONU, justamente, parece um pouco impotente. Qual é o objetivo dos membros da UNIFIL na área?  

ZM- A presença deles no Líbano está prevista na Resolução 1701 (adotada na ONU em 2006 e que visa colocar um fim nos combates entre Hezbollah et Israel).

Desde 2006, Israel violou esta resolução cerca de 56.000 vezes pelo ar, terra e mar e por isso a UNIFIL deve permanecer no território. Mas não confio em Israel, depois de tudo o que vimos em Gaza. Eles assassinaram membros das Nações Unidas, de muitas organizações internacionais. 

RFI- Na sua opinião, qual seria a solução para solucionar o problema da fronteira sul? O que o governo libanês recomenda?

ZM- Temos um conflito entre duas partes do território libanês. O Líbano diz que as fazendas Shebaa e Kfar Shuba pertencem ao país. No entanto, elas são ocupadas por Israel. Temos que conversar sobre esse assunto e negociar. O que me assusta é que a guerra não se limita ao Líbano e pode se tornar regional.

Infelizmente também, com tudo o que está acontecendo entre o Irã e Israel, as facções armadas no Iraque, os houthis, enfim, toda a região pode acabar se envolvendo.

RFI- Já faz quase dois anos que o país oficialmente não tem governo. Quais esforços estão sendo feitos entre os partidos políticos libaneses para nomear um presidente da República e um governo? Não é tarde demais? 

ZM- Um presidente sozinho não pode resolver essa situação. Precisamos de um presidente, com certeza. Mas agoraestamos em uma guerra e há prioridades, infelizmente. A Constituição libanesa é muito complicada. Eu sempre digo que ela foi criada para complicar as coisas.

É uma classe política que representa religiões, confissões e isso complica tudo, toda vez que há eleições, que elegemos um novo presidente. Esperamos ter um presidente, mas agora há outras prioridades. O país está em guerra, temos muitos problemas econômicos, constitucionais e sociais.

RFI - A morte de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, provocou reacções extremamente diferentes entre a população libanesa. Como podemos garantir que esta crise não aumente ainda mais as diferenças entre os grupos religiosos no Líbano? 

ZM- Infelizmente, a situação interna é ruim. Além disso, o assassinato de Hassan Nasrallah gerou muitas mudanças, muito ódio, muito sangue e muitas divisões. Teremos muito trabalho depois desta guerra.

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