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Ex-aluno russo que se tornou radical islâmico, assassino de professor homenageado na França revela motivos de ataque terrorista

13/10/2024 09h49

Há exatamente um ano, em 13 de outubro de 2023, em uma escola secundária da cidade francesa de Arras, no norte da França, o professor Dominique Bernard, 57, foi assassinado a facadas em um ataque realizado por um de seus ex-alunos, Mohammed Mogouchkov, um jovem russo da Inguchétia. No último ano, a investigação revelou mais sobre os motivos do ataque. Em uma ocorrência rara nesse tipo de caso, o agressor foi preso ainda vivo e acusado de assassinato em conexão com um plano terrorista.

Mohammed Mogouchkov, que se encontra em prisão preventiva na França há quase um ano, tem escrito uma série de poemas em sua cela. De acordo com os especialistas que puderam ler seus textos, o jovem, agora com 21 anos, deseja contestar "violentamente os valores republicanos".

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"[O símbolo máximo da República francesa] Marianne, ela é linda! Mas por que ela é sagrada?", pergunta ele, antes de continuar: "Eu vejo a luz em todos os níveis, e não estou falando da luz de vocês, escritores, cuja tinta escureceu o coração de Dominique Bernard", sublinha o assassino nos textos que escreve na prisão. Mogushkov reiterou que agiu sozinho, elaborando um plano "uma a três semanas" antes de realizar o ato, e seguindo uma ordem que teria recebido, segundo argumenta, diretamente de "Alá".

"Apego ao sistema"

O agressor disse aos juízes que o interrogaram que ele havia atacado seu ex-professor por causa dos valores que ele personificava: "Paixão, amor, apego ao sistema da República em geral, democracia e direitos humanos".

Um psicólogo analisa que o jovem está agora "se autojustificando e teorizando suas ações". De acordo com o especialista, o autor do atentado é marcado "por uma provável dissociação de identidade", entre "referências familiares", personificadas em particular por seu pai, que integra a famosa lista S, onde são indexadas e vigiadas na França pessoas susceptíveis de radicalização islâmica, e foi expulso do país em 2018, e também por experiência como estudante na França. E embora ele pudesse "se beneficiar de aconselhamento psicológico", sua postura atual o torna "ainda muito inacessível".

Dominique Bernard teria percebido a "natureza perigosa" do aluno

Nos últimos meses, os investigadores também descobriram que a gravação na qual o assassino jurou lealdade ao grupo Estado Islâmico havia sido enviada a duas contas do Telegram administradas pela organização. Dois outros suspeitos, o irmão mais novo do agressor, de 17 anos, e seu primo, de 16, também continuam sendo investigados. O primeiro foi preso e o segundo colocado sob supervisão judicial.

Em uma entrevista ao Le Monde no sábado (12), Isabelle Bernard, viúva de Dominique Bernard, explicou que o professor estava preocupado com o perfil do agressor. "Quando Mohammed Mogushkov era aluno da escola e Dominique o tinha em sala de aula, a equipe de gestão fez tudo o que podia para apontar a natureza perigosa desse menino", diz ela.

Seu marido lhe disse que, ao lidar com esse aluno, "(eu) não posso dizer tudo o que (eu) quero, (eu) tenho que ser cuidadoso". Ela mesma professora, Isabelle Bernard acredita que "todos fizeram seu trabalho", que "não se pode culpar o sistema educacional francês por nada" e que "a polícia sabia que ele [Mogushkov] pretendia agir, mas não sabia quando".

Durante o ataque de 13 de outubro de 2023, Mohammed Mogushkov esfaqueou Dominique Bernard até a morte no pescoço e no ombro. Um professor de educação física tentou intervir e foi gravemente ferido no rosto, assim como dois funcionários do Lycée Gambetta. Parte do incidente foi filmado por alunos à distância. Poucos minutos depois, a polícia chegou ao local e neutralizou o terrorista usando uma pistola elétrica.

Homenagem ao professor assassinado

Textos, danças e músicas acompanharam o tributo prestado neste domingo em Arras ao Professor Dominique Bernard, comemorado diante de sua família, sobreviventes do ataque e vários ministros, um ano após seu assassinato pelo ex-aluno islâmico radicalizado.

Mais de 2.000 pessoas, muitas delas pais que trouxeram seus filhos, reuniram-se na Place des Héros, em Arras (Pas-de-Calais), no mesmo local onde milhares de arraenses perturbados se reuniram há um ano, dois dias depois que o professor francês foi morto a facadas na entrada do complexo escolar Gambetta-Carnot, onde lecionava.

Uma apresentação do quarteto K.285 de Mozart, dança contemporânea, um cover de "Les enfants paradis", de Damien Saez, um tributo às vítimas do Bataclan: a cerimônia privilegiou as artes, de acordo com o desejo da viúva de Dominique, Isabelle Bernard.

"Que melhor resposta do que músicos, atores e dançarinos", disse ela ao jornal La Voix du Nord em uma entrevista publicada no sábado, enfatizando que as outras vítimas de 13 de outubro de 2023 "também contribuíram com suas ideias para essa homenagem". 

Um amigo de Dominique Bernard leu um texto do poeta marroquino Abdellatif Laabi: "Eu atesto que o único ser humano é aquele que luta incansavelmente contra o ódio dentro dele e ao seu redor".

No palco, uma artista criou ao vivo uma grande tela retratando uma pomba voando sobre uma forma azul-branca-vermelha e as palavras "Liberté, égalité, fraternité" ("Liberdade, igualdade, fraternidade").

(RFI com AFP)

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