Lula é o segundo líder de peso a cancelar presença na cúpula do Brics na Rússia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou sua viagem à Rússia neste domingo (20) para a cúpula do Brics após sofrer um acidente doméstico, mas participará da reunião por videoconferência, informou a Presidência. Lula escorregou no banheiro na noite de sábado (19) e bateu a cabeça. Ele recebeu atendimento no hospital Sírio-Libanês de Brasília e precisou receber pontos na nuca. Além do líder brasileiro, o príncipe herdeiro da Arábia Saudita também não participará do encontro em Kazan.
O presidente Lula permanece em observação, segundo informações da imprensa brasileira. Depois de retornar ao hospital para novos exames, neste domingo (20), ele recebeu orientação para não fazer a longa viagem de avião até Kazan, onde o presidente russo, Vladimir Putin, reunirá entre 22 e 24 de outubro diversos líderes mundiais. Ao lado dos parceiros comerciais do Brics e aliados, Putin busca demonstrar o poderio russo e o fracasso da política de isolamento do Ocidente pela guerra na Ucrânia.
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"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por orientação médica, não viajará para a Cúpula dos Brics, em Kazan, devido a um impedimento temporário para viagens de avião de longa duração", disse o Palácio do Planalto, sem detalhar os ferimentos na cabeça de Lula. O presidente, porém, participará por videoconferência das deliberações e manterá sua agenda de trabalho esta semana em Brasília, acrescentou a nota.
O Itamaraty anunciou que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, irá liderar a delegação brasileira, que voará para Kazan na noite deste domingo.
O Hospital Sírio-Libanês informou que Lula deu entrada no hospital no sábado (19) "após acidente doméstico, com ferimento corto-contuso na região occipital".
Segundo a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, a queda aconteceu quando o presidente e a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, finalizavam os preparativos para a viagem à Kazan. O voo para a Rússia estava marcado para as 17h deste domingo.
A cúpula do Brics seria o primeiro encontro entre Lula e Putin neste terceiro mandato. Em setembro, os dois conversaram por telefone sobre uma proposta conjunta do Brasil e China para encerrar a guerra na Ucrânia.
No ano passado, Putin desistiu de ir à cúpula do Brics na África do Sul porque é alvo de uma ordem de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional, em março de 2023, pela deportação de crianças ucranianas. A denúncia, feita por Kiev, é investigada como crimes de guerra pelo TPI.
Na sexta-feira, o dirigente russo anunciou que não virá ao Rio de Janeiro para participar da cúpula presidencial do G20 em 18 e 19 de novembro, para não "perturbá-la".
Putin reúne mais de 20 líderes estrangeiros
A cúpula de Kazan, às margens do rio Volga, contará com a presença de diversos líderes estrangeiros e o secretário-geral da ONU, António Guterres, informou o Kremlin, saudando-a como "o evento diplomático mais importante organizado na Rússia".
A reunião ocorre no momento em que Moscou ganha terreno na Ucrânia e forja alianças com os principais adversários dos Estados Unidos, como a China, o Irã e a Coreia do Norte. O Kremlin também conseguiu garantir alianças com países que têm laços com o Ocidente.
O presidente chinês, Xi Jinping, e o presidente iraniano, Masud Pezeshkian, devem comparecer. Moscou também está contando com a presença de Narendra Modi, da Índia, e Recep Tayyip Erdogan, da Turquia.
Com a presença do iraniano Pezeshkian, em meio à escalada com Israel, os participantes da cúpula também discutirão as guerras na Faixa de Gaza e no Líbano. No entanto, a Rússia parece querer manter uma certa distância desses conflitos, limitando-se, por enquanto, a pedir moderação às partes envolvidas.
Moscou insiste em apresentar sua invasão na Ucrânia não como uma guerra de conquista - apesar de ter declarado a anexação de quatro regiões ucranianas -, mas como um conflito provocado pela hegemonia dos EUA.
"A Rússia (...) busca relações baseadas no direito internacional e não nas regras estabelecidas por determinados países, especialmente os Estados Unidos", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, reivindicando o apoio da 'esmagadora maioria dos países'.
Ao reunir o "Sul e o Leste globais" para contrabalançar o Ocidente, de acordo com a Rússia, o Brics deve "construir, tijolo por tijolo, uma ponte para uma ordem mundial mais justa", disse o conselheiro diplomático do Kremlin, Iuri Uchakov.
O Ocidente, por outro lado, considera que a Rússia está buscando dominar seus vizinhos e impor uma lei da selva no cenário internacional.
Nos últimos dias, ao apresentar seu "plano para a vitória", o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou que outros países poderiam tentar imitar a Rússia em caso de vitória. "Se Putin atingir seus objetivos rebuscados - geopolíticos, militares, ideológicos e econômicos -, outros agressores em potencial sentirão que as guerras de agressão podem beneficiá-los", alertou Zelensky.
De acordo com Uchakov, todos os países membros do Brics serão representados em Kazan, com exceção do Brasil e da Arábia Saudita, que também enviará seu ministro das Relações Exteriores.
A ausência do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, governante de fato da Arábia Saudita, que viajou para Bruxelas nesta semana, provocou especulações sobre possíveis desentendimentos entre os dois pesos pesados da energia mundial.
Com informações da AFP