Cúpula do Brics na Rússia evidencia divisões de grupo de emergentes, nota imprensa francesa

Anfitrião da 16ª Cúpula do Brics, o presidente Vladimir Putin saudou "o maior" evento do gênero já realizado na Rússia - mas o encontro de três dias na cidade de Kazan, encerrado nesta quinta-feira (24), evidenciou as divisões que marcam o grupo de potências emergentes, nota a imprensa francesa nesta sexta-feira (25).

Em longa análise sobre o encontro, a revista Le Point salienta que "os líderes do clube antiocidental tentaram demonstrar união, mas falhas importantes apareceram". Em meio a uma situação econômica fragilizada pela guerra na Ucrânia e as duras sanções internacionais contra Moscou, Putin tentou politizar ao máximo a cúpula, porém seus parceiros de bloco não deram sequência a essa ambição. A maioria deles, salienta o texto, não apenas não apoia a ofensiva na Ucrânia como fez questão de insistir pela paz, diante do anfitrião russo.

"Os Brics demonstram ser uma coalizão de interesses bem claros e não uma colusão ideológica. O Brasil de Lula, por exemplo, cultiva valores de tolerância que se situam no oposto dos códigos sociais repressivos da Rússia", observa Le Point.

A revista ressalta ainda que a segunda maior potência econômica do bloco, a Índia, "não vê com bons olhos a polarização forçada" da cúpula por Putin. Em Kazan, o premiê indiano, Narendra Modi, deixou clara a sua intenção de conservar os parceiros ocidentais, "como quando defendeu o diálogo e a diplomacia, e não a guerra", e quando salientou que "o Brics não tem vocação de substituir as instituições existentes, mas sim em reformá-las".

O resultado é que um dos maiores objetivos de Putin na pauta econômica, a desdolarização da economia mundial, não avançou.

Liderança almejada por Putin é contestada

O jornal Le Figaro afirma que a cúpula "serviu sobretudo para o presidente russo "liderar um grupo no qual a sua preponderância é contestada pela China e a Índia". "O Brics não tem nada de um grupo com competências relativas à segurança, e não impõe aos seus membros qualquer obrigação em matéria de defesa ou diplomacia", sublinha o diário.

Le Figaro também ressalta que uma nova abertura para mais integrantes, "assunto controverso dentro do Brics", foi adiada. Uma lista de países parceiros, entretanto, foi relevada - mas "Moscou mantém a cautela, porque sabe que corre o risco da sua liderança histórica se diluir na medida em que novos membros entrarem no clube".

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