'Nossos corpos, nosso futuro': mulheres marcham nas principais cidades americanas em apoio a Kamala Harris
O movimento Marcha das Mulheres levou centenas de milhares de pessoas às ruas das principais cidades dos Estados Unidos neste sábado (2), em apoio à vice-presidente e candidata democrata Kamala Harris. A apenas três dias das eleições presidenciais americanas, as mulheres reforçam a mobilização, temendo uma regressão em seus direitos com uma eventual vitória do líder republicano, Donald Trump.
Daniella Franco, enviada especial da RFI a Boston
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Em Washington, berço da célebre Marcha das Mulheres de 2017, uma multidão ocupou a Freedom Plaza, nos arredores da Casa Branca. Na mesma região, há sete anos, mais de um milhão de mulheres se reuniram para protestar contra Donald Trump, um dia depois que assumiu o poder.
Segundo a organização do movimento, atos ocorreram em todos os 50 Estados americanos. Sob o lema "Nossos corpos, nosso futuro", manifestantes bradaram slogans a favor da proteção dos direitos reprodutivos das mulheres, um dos assuntos-chave desta campanha eleitoral.
Em Boston, capital de Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos, centenas de pessoas atenderam à convocação de feministas locais. Diante da Assembleia Legislativa do Estado, mulheres de todas as idades, e alguns homens, exibiram cartazes com mensagens em favor de Kamala Harris e em defesa do direito ao aborto, revogado em varias regiões apos uma polêmica decisão da Suprema Corte em 2022.
Os manifestantes marcharam em torno do parque Boston Common, no centro da cidade, e expressaram sua aversão ao candidato republicano, Donald Trump. "O amor, não o ódio é o que faz a América grande", bradaram os participantes do ato, reformulando o slogan de campanha de Donald Trump, "Torne a América Grande Novamente".
Apelo para o voto em Harris
"Acho que o nosso país está enfrentando uma escolha muito importante, entre voltar a ter visões racistas, misóginas e sexistas, ou ir pra frente e construir uma comunidade em tanto que nação", disse a estudante Meg à reportagem da RFI. Para ela, é essencial que os eleitores impeçam a volta de Trump ao poder e compareçam em massa às urnas na próxima terça-feira (5) para votar em Harris e seu vice, Tim Walz.
A aposentada Shoshi participou do ato para defender os direitos reprodutivos de suas filhas e netas, que acredita que correm risco com uma nova administração republicana. Sua amiga, a também aposentada Roberta, preocupa-se com o futuro da democracia americana e apoia o voto "na mulher que vai unir o país e nos mostrar que temos mais valores em comum do que diferenças".
Na multidão de mulheres, alguns homens acompanhavam amigas e companheiras. É o caso de Phillip, que ressalta que os retrocessos nos direitos das americanas não o afeta diretamente, mas participou do ato em apoio às cidadãs do país. "Seria uma traição não apoiá-las. Acho que todo mundo deveria poder tomar decisões no que diz respeito a seu próprio corpo", afirma.
O jovem Dylan foi à marcha com a namorada, Rachel, e também acha que é primordial que homens respaldem as lutas das americanas. "Acho que é importante sermos solidários, para que as mulheres sejam livres para fazer escolhas sobre seus corpos. Todo mundo só tem a ganhar com isso", diz.
Voto feminino x masculino
Embora o abismo de gênero sempre tenha sido uma característica das eleições presidenciais americanas - quando mulheres tendem a votar mais nos democratas que os homens - essa diferença se acentuou na reta final desta campanha eleitoral. Se os resultados das pesquisas se confirmarem nas urnas, Kamala Harris poderá se tornar a candidata com o maior número de votos de mulheres na história das eleições presidenciais americanas.
Diversas sondagens realizadas nos últimos dias apontam para esse cenário. Em média, Kamala tem 15 pontos a mais que Trump entre as mulheres. Entre as eleitoras abaixo dos 30 anos, a preferência pela democrata chega a dobrar, segundo pesquisa do instituto Survey Monkey para a NBC News, divulgada na semana passada.
O discurso sexista do líder republicano, que pretende ser "o protetor das mulheres, quer elas queiram ou não", além de ataques violentos contra sua rival e até mesmo contra a ex-deputada republicana Liz Cheney, parecem motivar a tendência. Enquanto isso, a retórica de Harris, que conseguiu se posicionar como a defensora dos direitos reprodutivos das americanas, foi reforçada pelas gafes do ex-presidente.
No entanto, o panorama geral continua sendo de uma disputa extremamente acirrada e imprevisível. Após uma ligeira vantagem de Trump sobre Harris nas últimas semanas, a tendência se inverteu mais recentemente. A candidata democrata voltou a dominar em alguns Estados-chave com um ou dois pontos de diferença. Segundo o site da revista The Economist, que faz uma média das últimas pesquisas, a vice-presidente tem 48,7% das intenções de voto contra 47,2% para seu rival.