Marine Le Pen se distancia de excessos de Trump; europeus adotam plano de reformas

Os franceses reagiram à vitória de Donald Trump na eleição presidencial com pessimismo e um forte receio do enfraquecimento da democracia nos Estados Unidos, por causa da concentração de poder que o republicano terá, apoiado pela maioria conservadora na Suprema Corte, no Senado e talvez - ainda não acabou a apuração - na Câmara de Representantes. Embora defenda políticas semelhantes às de Trump, a líder de extrema direita na França, Marine Le Pen, preferiu não festejar a vitória de Trump.

Uma pesquisa realizada na França já apontou que 76% dos franceses estão frustrados com o retorno de Donald Trump à Casa Branca. A desconfiança é maior entre eleitores de esquerda e jovens. Mas até a líder de extrema direita Marine Le Pen manifestou uma reação sóbria, na contracorrente de outros movimentos ultranacionalistas europeus, da Alemanha, Áustria, Hungria, Espanha, que estão eufóricos com o impulso que o governo Trump dará às políticas anti-imigração, de segurança pública e nacionalismo econômico, em oposição a questões de justiça social, racial, respeito a minorias e direitos da mulher.  

O estilo imprevisível e radical de Trump não se alinha com a imagem mais moderada que Marine Le Pen busca projetar atualmente. Le Pen sabe que se quiser ser eleita na presidência francesa, seu partido precisa ampliar a base do eleitorado e ela ser vista como uma líder conservadora estável, capaz de jogar o jogo democrático, apesar de não enganar ninguém. 

Trump e Le Pen têm posições semelhantes sobre imigração e protecionismo econômico. Mas em temas como o aborto, por exemplo, Marine Le Pen apoiou a inclusão do aborto na Constituição francesa. A imagem de Trump na França é muito negativa e Le Pen quer evitar ser associada aos excessos do republicano. Ela tem uma estratégia de buscar alianças mais estratégicas e evitar a polarização no cenário político nacional. 

O partido de extrema direita francês (Reunião Nacional) elegeu um quarto dos deputados na Assembleia Nacional nas últimas eleições e eles têm procurado atuar como políticos "respeitáveis", o que os diferencia de outros movimentos de extrema direita na Europa.

Trump chega à presidência num momento em que as duas maiores economias da União Europeia, França e Alemanha, atravessam uma crise política e econômica de contextos diferentes. 

UE anuncia plano para enfrentar concorrência de EUA e China

Os 27 líderes da União Europeia anunciaram na tarde desta sexta-feira (8), ao final de uma reunião de cúpula do bloco em Budapeste (Hungria), um plano de reformas inspirado em propostas do ex-primeiro ministro italiano Mario Draghi para dar impulso à economia europeia, diante das ameaças de guerra comercial de Donald Trump. O bloco sabe que é a região do mundo que mais tem a perder com as medidas protecionistas do republicano. 

Durante a campanha, Trump anunciou que os produtos importados europeus terão de pagar tarifas extras de 10% a 20% para entrar nos Estados Unidos. 

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A presidente da Comissão Europeia, Ursula von Der Leyen, disse que irá propor "nos primeiros 100 dias" de seu novo mandato, que começa em dezembro, um pacto industrial verde para apoiar a descarbonização da indústria, medidas para reduzir o atraso europeu na área de inovação e diminuir os entraves burocráticos à atividade empresarial na Europa.

O chanceler alemão Olaf Schoz enfatizou que o bloco "precisa se modernizar para se manter competitivo".

Já o presidente francês Emmanuel Macron deixou a reunião antes da fotografia final de família dos 27, sem falar com a imprensa. Macron e Scholz divergem sobre a forma de financiar esses investimentos, a distribuição dos montantes por país e setor industrial, e o ritmo de mobilização dos recursos.    

No início de setembro, o ex-premiê Mario Draghi, que também dirigiu o Banco Central Europeu, propôs investimentos de € 750 a € 800 bilhões por ano (algo em torno de R$ 4,67 a R$ 4,93 trilhões), montante superior ao do Plano Marshall americano, que apoiou a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, para enfrentar a concorrência dos EUA e da China.

Draghi traçou um quadro sombrio e insistiu que o bloco precisava reagir, se não quisesse enfrentar um declínio econômico que condenava os europeus à agonia. No relatório, ele apontou que a renda per capita "aumentou quase o dobro nos Estados Unidos do que na Europa desde 2000". 

Esses investimentos elevados representam um imenso desafio para os 27 países europeus, num contexto em que adotam medidas para reduzir suas dívidas e elevados déficits públicos.

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Na declaração final do encontro, os líderes da UE reconhecem "a urgência de uma ação decisiva" para o aprofundamento do mercado comum, se comprometem com a união dos mercados de capitais, a implementação de uma política comercial que defenda os interesses europeus e a simplificação regulatória. Mas permanecem vagos em relação ao orçamento.

Com o retorno de Trump, institutos alemães calcularam o custo das medidas protecionistas para a Alemanha. O país poderia perder até € 180 bilhões até 2028, cerca de R$ 1,1 trilhão com as sobretaxas americanas nas exportações. O PIB alemão encolheria 1,5% em relação ao seu montante atual, sendo que o país, a primeira economia europeia, enfrenta o segundo ano de recessão.

Scholz admite antecipar as eleições 

Na quarta-feira (6), enquanto o mundo ainda digeria a vitória de Trump, a coalizão de governo alemã, formada por social-democratas, verdes e liberais, implodiu, devido a divergências de visão sobre a melhor forma de enfrentar a crise econômica. Os social-democratas defendem a recuperação da economia por meio de gastos, enquanto os liberais pregam cortes e uma disciplina orçamentária rigorosa. 

Em Budapeste, o chanceler Olaf Scholz disse aos colegas europeus que poderá antecipar as eleições legislativas. Ele queria ganhar tempo até março, mas uma pesquisa publicada ontem mostra que 65% dos alemães querem eleições o mais rapidamente possível, em janeiro. 

Os conservadores da CDU, chefiados por Friedrich Merz, lideram as pesquisas para voltar ao governo e também pressionam por um retorno às urnas acelerado. As pesquisas apontam, no entanto, que eles não teriam maioria, com a extrema direita em segundo lugar nas intenções de voto.

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A tendência é a Alemanha voltar a ter uma grande coalizão entre conservadores, social-democratas e talvez ainda precisar dos verdes ou dos liberais, mas esses últimos não têm garantia de serem eleitos no futuro Parlamento. O líder da CDU já descartou governar com o partido de extrema direita AfD. 

Essa reviravolta no cenário político na Alemanha acontece num momento em que a França continua sujeita a uma uma nova dissolução do Parlamento no ano que vem. A turbulência na União Europeia tende a durar um bom tempo.

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