Passagem de ciclone no arquipélago francês de Mayotte 'certamente deixou várias centenas' de mortos
O ciclone Chido certamente causou centenas ou até milhares de mortes em Mayotte, declararam neste domingo (15) as autoridades deste território francês localizado no Oceano Índico, no dia seguinte à passagem do ciclone, considerado o mais violento que a ilha já enfrentou em quase um século.
As autoridades haviam informado anteriormente pelo menos 11 mortes causadas pelo ciclone, que danificou gravemente ou destruiu muitos edifícios em Mayotte no sábado, incluindo o hospital e moradias precárias.
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Questionado sobre as declarações do prefeito de Mayotte, o Ministério do Interior da França afirmou que a contagem das vítimas do ciclone seria muito difícil e que, neste momento, não confirmava nenhum número.
"Quero expressar meus sentimentos aos nossos compatriotas em Mayotte que enfrentaram, nas últimas horas, algo terrível, e que, para alguns, perderam tudo, inclusive a vida", declarou o presidente francês Emmanuel Macron durante uma breve conversa com o Papa Francisco na Córsega.
As autoridades já haviam alertado no sábado que seriam necessários vários dias para estabelecer um balanço confiável dos danos humanos e materiais causados pelo ciclone, enquanto há grandes preocupações sobre o acesso a alimentos, água e abrigo emergencial.
A administração da ilha de Reunião anunciou neste domingo (15) a criação de uma ponte marítima e aérea entre a ilha e Mayotte, que estão separadas por cerca de 1.400 km, com o envio de um primeiro navio da Marinha Nacional francesa transportando 80 toneladas de materiais, incluindo medicamentos, alimentos e equipamentos para restaurar os serviços de água e eletricidade.
O ministro do Interior da França, Bruno Retailleau, que havia expressado temores de um balanço pesado de mortes em Mayotte, deve visitar o local, enquanto uma reunião de crise foi programada para ocorrer duas vezes por dia.
Ciclone sem precedentes em quase um século
Segundo a Météo France, as rajadas de vento que atingiram Mayotte superaram os 200 km/h, chegando a 226 km/h em Pamandzi, na parte sul da ilha de Petite-Terre.Os meteorologistas da agência destacaram que este foi um ciclone de magnitude sem precedentes para Mayotte em mais de 90 anos.
Imagens aéreas compartilhadas pela polícia francesa mostram as ruínas de centenas de casas precárias espalhadas pelas colinas de uma das ilhas de Mayotte, que é destino de imigração ilegal proveniente das vizinhas Comores.
Nas últimas décadas, milhares de pessoas tentaram chegar à ilha a partir das Comores, ao largo da costa da África Oriental, atraídas pelo nível de vida mais elevado e pelo acesso ao sistema de proteção social francês em Mayotte.
Mais de 100.000 migrantes sem documentos vivem em Mayotte, de acordo com o Ministério do Interior.
77% da população abaixo da linha da pobreza
Cerca de 77% da população de Mayotte vive abaixo da linha de pobreza francesa. Situada a quase 8.000 km de Paris, a ilha também enfrenta há décadas a violência de gangues e distúrbios sociais. A tensão aumentou na ilha este ano devido à escassez de água.
Neste domingo, o ciclone continuou a atingir o norte de Moçambique, mas os danos no país ainda não eram conhecidos. O NetBlocks, um observatório de monitoramento da Internet, declarou na plataforma X que fortes chuvas e ventos violentos danificaram as infraestruturas elétricas e de telecomunicações do país.
"É como se estivéssemos no Afeganistão"
Em Bandraboua, no norte da ilha, o cenário de desolação é o mesmo. Até mesmo a prefeitura foi totalmente devastada. Nos bairros, metade das casas de alvenaria perdeu o telhado, e a favela onde viviam 450 pessoas foi completamente destruída. Kamal não acredita no que vê: "Quando olho para a paisagem, é como se estivéssemos no Afeganistão, como se houvesse uma guerrilha. É realmente grave."
Assim como muitos outros moradores, Adélaïde pensou que era o fim. O telhado de sua casa foi arrancado, e ela e sua filha ficaram desabrigadas sob as rajadas de vento. "Como estávamos debaixo da mesa, e era uma mesa de jantar de madeira maciça, isso nos protegeu. Ela não se moveu, e, enquanto o olho do ciclone se aproximava, houve um momento de calmaria, e corremos para nos refugiar no térreo", conta.
Diante de toda essa destruição, os moradores do arquipélago agora só podem contar com os reforços de ajuda enviados pela França para socorrer os habitantes e reconstruir Mayotte.
(RFI com AFP)