Opositores e chavistas prometem tomar ruas de Caracas para posse de terceiro mandato de Maduro
Sob clima de tensão e incerteza, chavistas e opositores tomam hoje (09) as ruas de Caracas, a poucas horas da posse presidencial reivindicada por Nicolás Maduro e por Edmundo González. Parte da população teme mais repressão, enquanto a outra comemora. Frente a um ostensivo policiamento das ruas, ONGs denunciam novas prisões e desaparecimento de opositores. A comunidade internacional lançou alertas sobre o respeito aos Direitos Humanos frente ao evento que dará uma guinada na história recente da Venezuela.
Elianah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas
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A opositora Maria Corina Machado convocou seus seguidores para se concentrarem em quatro pontos da capital venezuelana, em defensa da vitória de Edmundo González. As manifestações acontecem em estratégicas áreas opositoras - um deles será na frente da Conferência Episcopal, forma de garantir certa segurança e incentivar o povo a ir às ruas. Apesar do descontentamento popular sobre a falta de publicação das atas eleitorais pelo Conselho Nacional Eleitoral, paira o medo. Nas manifestações de agosto passado, foram presas mais de duas mil pessoas, e pelo menos 24 pessoas morreram - a grande maioria por disparos de arma de fogo.
Na noite desta quarta-feira (8), através das redes sociais, Machado pediu aos opositores "serenidade e firmeza". Ela garantiu que estará com o povo. No entanto não deu detalhes de como sairá da clandestinidade. Desde agosto ela não aparecem em público temendo ser presa.
Para motivar a ida às ruas, Machado recorre a temas sensíveis à população. Ela fala sobre a reintegração familiar com a volta de parte dos mais de sete milhões de venezuelanos espalhados mundo afora. Corina também evoca o orgulho pátrio e vem repetindo a frase "glória ao bravo povo", do hino nacional. A líder opositora pediu aos seguidores que saiam hoje vestidos de amarelo, azul ou vermelho, as cores da bandeira do país.
Machado busca incentivar setores populares para que participem dos protestos. Nas manifestações de agosto passado, moradores das comunidades de Caracas saíram em peso para manifestar. Grande parte dessa população foi a mais afetada com o empobrecimento do país.
Nas últimas horas, Corina enviou um áudio encorajando os moradores de Petare, a maior favela da América Latina e localizada em Caracas, a irem às ruas. No entanto, desde a semana passada mais de 1.200 agentes de segurança estão nas ruas de Caracas, a mando de Diosdado Cabello, ministro de Interior e Justiça.
Edmundo González continua visitando países da região. Nesta quarta-feira, ele esteve no Panamá, onde foi recebido pelo presidente José Raúl Mulino e celebrado por centenas de venezuelanos que moram naquele país. O opositor entregou ao governo panamenho mais de 25 mil atas de votação coletadas por testemunhas opositoras. Os documentos foram guardados no Banco Nacional do Panamá. O governo da Venezuela ofereceu US$ 100 mil na semana passada a quem denunciar o paradeiro do opositor. Apesar do risco de prisão, González afirma que nesta sexta-feira tomará posse na Venezuela.
Além de Caracas, o protesto opositor acontece em pelo menos 18 cidades da Venezuela. Haverá protestos em países dos cinco continentes. No Brasil os venezuelanos protestarão em 18 cidades, entre elas estão Rio de Janeiro, Brasília e Boa Vista.
Defesa Integral da Nação
Enquanto isso, o chavismo já está nas ruas. Hoje eles irão marchar de leste a oeste da capita venezuelana, rumo ao parlamento, em defesa da terceira posse de Maduro, que deve governar até 2031. Na tarde desta quarta-feira, centenas de motociclistas circularam por Caracas agitando bandeiras com a imagem do presidente Nicolás Maduro.
Na noite desta quarta, Maduro instalou pela primeira vez o Sistema Defensivo Territorial para a Defesa da Nação. Ele afirmou que "frente à [oposição] nacional ou internacional apoiada pelo governo dos Estados Unidos, pelo violento fascismo de setores da Venezuela ou pelos governos satélites dos EUA, ativaremos o ODDI (Órgão de Direção para a Defesa Integral da Nação)".
O governo anunciou a prisão de "mercenários". Sem dar detalhes sobre o número de detidos e as circunstâncias da prisão, o presidente Nicolás Maduro afirmou que essas pessoas buscavam desestabilizar o país. Há informações de que entre os detidos estariam dois norte-americanos, dois colombianos e três ucranianos.
Diosdado Cabello, garantiu em seu programa semanal de TV na noite desta quarta-feira, que "frente às ameaças deste setor opositor fascista nós estamos obrigados a estar preparados. Não seremos pegos de surpresa. Temos que estar sempre preparados. Quem deixar o rabo do lado de fora terá "tun-tum" antes, durante ou depois". O ministro de Interior e Justiça fez referência à ação, de nome inspirado em uma canção infantil, na qual agentes de segurança adentram sem ordem judicial residências de opositores e dissidentes.
A vice-presidente Delcy Rodríguez garantiu que não serão permitidas agitações na Venezuela. "Se a enlouquecida (Maria Corina Machado), que dá uma de valente... Atrevam-se, aqui estamos para defender a Venezuela".
ONGs denunciaram que nas últimas horas pelo menos oito cidadãos, entre eles Rafael Tudares, genro de Edmundo González, e Carlos Correa, diretor da ONG Espaço Público, foram levados de forma arbitrária. Até a noite desta quarta-feira familiares denunciavam não saber o paradeiro de boa parte dessas pessoas.