Vale do Silício analisa lições aprendidas com o DeepSeek, inteligência articial "made in China"

A bolsa americana fechou em alta nesta terça (28), com ações de tecnologia ligadas à inteligência artificial (IA) se recuperando de perdas históricas do dia anterior por causa da chegada do aplicativo chinês DeepSeek. As ações da Nvidia, líder em fabricação de chips de IA, subiram 8,9%, um dia após a queda de 17%, que fez a empresa perder cerca de US$ 593 bilhões do seu valor de mercado.

Mas, apesar dessa recuperação rápida, o que permanece é o efeito desse 'Made in China' e os debates que surgiram a partir do tombo.

Diversos executivos do Vale do Silício se sentiram na obrigação de reagir imediatamente e dar uma resposta ao rombo de US$ 1 trilhão na bolsa de Nova York na segunda (27), mesmo que no dia seguinte, boa parte já tenha sido recuperada.

O discurso da maioria veio em tom de lição aprendida, que em termos gerais é: não subestime a China e a força do país que tem investido em atrair talentos globais e criar um ecossistema de inovação que combina empresas privadas, universidades e apoio governamental. O outro grande debate que surgiu, novamente, é sobre os softwares de códigos abertos.

Eric Schmidt, ex-CEO do Google, chamou o surgimento da empresa de um "ponto de virada", alertando que a China está alcançando os EUA com menos recursos, já que desenvolveu o app com menos de 1% do que a OpenAI gastou. "No caso da inteligência artificial, estamos bem à frente, provavelmente dois ou três anos, da China, o que no meu mundo é uma eternidade", disse Schmidt em maio do ano passado em entrevista à Bloomberg.

Agora, ele pede mais investimentos em IA de código aberto e infraestrutura e escreveu ainda em um artigo ao jornal The Washington Post que "o equilíbrio de poder agora parece estar mudando em torno de dois eixos principais: um, entre os Estados Unidos e a China, e outro, entre modelos fechados e de código aberto, já que no DeepSeek toda a coleção de modelos é de código aberto ? permitindo que outras empresas o acessem e desenvolvam em cima de sua tecnologia.

Já o ex-CEO da Intel, Pat Gelsinger, até agradeceu à empresa chinesa pelas lições aprendidas e disse no X: "Sabedoria é aprender as lições que pensávamos que já sabíamos", e destacou ainda que os chineses tiveram que usar a criatividade diante de poucos recursos e que quem ganha é novamente a luta pelos softwares abertos.

Meta

Mark Zuckerberg há muito tempo defende a abordagem de código aberto na sua empresa Meta para software de inteligência artificial, dizendo que ter um modelo americano como base para novos produtos era essencial para garantir o domínio dos EUA sobre a China em IA.

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Ele também já admitiu várias vezes sobre como o código aberto poderia beneficiar rivais chineses, mas sempre repetiu que acreditava que os benefícios superam os riscos. O Llama, a plataforma da Meta de IA, é de código aberto. Porém, de acordo com a mídia americana, talvez Zuckerberg lá no fundo também não acreditava que a China poderia sair na frente e que pudesse ter sido pego de surpresa.

Diversos meios de comunicação dos Estados Unidos citam fontes anônimas da Meta, que admitiram que em resposta ao sucesso estrondoso e do alto desempenho da DeepSeek, a empresa de Zuckerberg criou várias "salas de guerra" em uma tentativa desesperada de correr atrás do prejuízo. Essas equipes estariam encarregadas de analisar o DeepSeek, incluindo como ele foi construído, do que é capaz, e procurando possíveis mudanças a serem feitas no Llama. Os engenheiros já estariam apreensivos de que a próxima versão de IA ??da Meta não consiga competir com a DeepSeek. "A principal frustração é: por que não criamos isso primeiro quando temos milhares das mentes mais brilhantes trabalhando nisso?", disse um funcionário da Meta ao Financial Times.

Na semana passada, o dono do Instagram, Facebook e Whatsapp anunciou que neste ano planeja investir entre US$ 60 e US$ 65 bilhões no desenvolvimento de seus modelos de linguagem que usam IA e que 2025 é o ano decisivo para a inteligência artificial.

O novo TikTok?

Mesmo antes desse rombo na bolsa americana, os Estados Unidos já tinham proibido a Marinha de usar o DeekSeek, o que para analistas pode indicar mais uma batalha estilo TikTok, de tentativa de banimento do produto chinês.

Na última sexta-feira, uma mensagem enviada aos integrantes da Marinha já alertava sobre "preocupações de segurança e ética" sobre o novo modelo de IA chamado DeepSeek e dizia que é "imperativo" que os membros da equipe não usem esse aplicativo "para quaisquer tarefas relacionadas ao trabalho ou uso pessoal". Os destinatários deveriam "abster-se de baixar, instalar ou usar o modelo DeepSeek ", de acordo com a CNBC.

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Lembrando que a primeira proibição do TikTok nos Estados Unidos foi direcionada aos funcionários do governo que não têm permissão, até agora, para usar o aplicativo em aparelhos de propriedade do governo ou pessoais usados ??para o trabalho. Então, apesar de Donald Trump ter dito apenas que o lançamento do DeepSeek foi "sinal de alerta para nossas indústrias e que devemos nos concentrar em competir para vencer", não se sabe ainda se vencer é correr para alcançar o adversário ou baní-lo.

Autoridades do governo Trump, legisladores e especialistas em segurança cibernética estão expressando preocupação sobre o que essa tecnologia pode representar como ameaça à segurança nacional dos EUA.

"Os EUA não podem permitir que modelos do Partido Comunista Chinês, como o DeepSeek, arrisquem nossa segurança nacional e alavanquem nossa tecnologia para promover suas ambições de IA", disse o deputado republicano John Moolenaar, que preside o Comitê Especial Bipartidário da Câmara dos Deputados sobre o Partido Comunista Chinês, na terça-feira, em uma declaração compartilhada nas redes sociais. "Devemos trabalhar para rapidamente colocar controles de exportação mais fortes em tecnologias críticas para a infraestrutura de IA do DeepSeek."

Nesta terça, foi lançado também o ChatGPT Gov, uma ferramenta de inteligência artificial ajustada para uso das agências governamentais dos EUA.

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