Após visar México e Canadá, Trump volta a ameaçar países dos BRICS que criarem nova moeda com tarifas de 100%

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve decidir nesta sexta-feira (31) se irá impor tarifas de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México a partir de 1º de fevereiro. Na quinta-feira (30), Trump alertou os países do grupo BRICS contra a criação de uma nova moeda ou qualquer apoio a uma alternativa ao dólar nas transações internacionais. Segundo ele, caso isso ocorra, os países envolvidos poderão enfrentar tarifas de importação de 100%.

"Exigimos um compromisso desses países, que parecem hostis, de que não criarão uma nova moeda dos BRICS nem apoiarão qualquer outra que substitua o poderoso dólar americano. Caso contrário, sofrerão tarifas de 100%", escreveu Trump em sua rede, a Truth Social. A mensagem é quase idêntica à que ele publicou em 30 de novembro.

Na época, a Rússia havia respondido que qualquer tentativa dos EUA de impor o uso do dólar poderia se voltar contra Washington.

O bloco BRICS é composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. "Não há nenhuma chance de os BRICS substituírem o dólar no comércio internacional. Qualquer país que tentar fazer isso pode dizer adeus à América", declarou Trump.

A declaração é feita em um momento em que o ex-presidente republicano afirmou que decidirá se irá isentar produtos petrolíferos das tarifas de 25% que ameaçou impor às importações do México e do Canadá a partir de 1º de fevereiro. A medida gera preocupação, pois pode ter consequências severas para os três países da América do Norte.

Ameaça se estende também à China

Assim que retornou à Casa Branca, Trump anunciou que pretendia aplicar essas tarifas, apesar do acordo de livre comércio assinado entre os três países durante seu primeiro mandato. Na quinta-feira (30), ele afirmou que tomaria uma decisão durante a noite sobre a possível isenção do petróleo canadense e mexicano dessas taxas. A ameaça se estende também à China, que pode enfrentar tarifas de 10%. 

Especialistas alertam para os impactos econômicos dessas medidas. Apesar do crescimento robusto da economia americana ? que atingiu 2,8% em 2024 ?, a consultoria Oxford Economics estima que a imposição das tarifas poderia reduzir o PIB dos EUA em 1,2 ponto percentual e levar o México à recessão.

Segundo Wendong Zhang, professor da Universidade de Cornell, enquanto o impacto nos EUA seria menor, Canadá e México sofreriam duramente: "Nessa hipótese, o Canadá pode ver seu PIB cair 3,6%, o México 2%, e os EUA 0,3%". A China também enfrentaria dificuldades com uma escalada na guerra comercial, mas poderia se beneficiar das tensões entre os EUA e seus vizinhos.

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"Movimento de política interna"

Durante sua campanha, Trump prometeu tarifas de 10% a 20% sobre todos os produtos importados pelos EUA e até 100% sobre produtos chineses. Inicialmente, a ideia era usar as receitas das tarifas para compensar cortes de impostos, mas agora a estratégia se tornou um instrumento de negociação.

Trump justifica as tarifas como resposta à suposta incapacidade de Canadá e México de conter a entrada de drogas e migrantes nos EUA, especialmente o fentanil. Howard Lutnick, indicado para chefiar o Departamento de Comércio, afirmou que se trata de um "movimento de política interna" para pressionar os países a reforçarem suas fronteiras.

A presidente do México, Claudia Sheinbaum, mostrou confiança: "Não acreditamos que isso acontecerá. Mas, se acontecer, temos um plano."

Pressão sobre Canadá e México

A incerteza preocupa setores estratégicos, como o agronegócio mexicano, altamente dependente do mercado americano. "Cerca de 80% das nossas exportações vão para os EUA. Qualquer choque econômico nos preocupa", disse Juan Cortina, presidente do Conselho Nacional de Agricultura.

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No Canadá, a crise política se intensificou, levando à renúncia do primeiro-ministro Justin Trudeau. O ministro da Segurança Pública, David McGuinty, esteve em Washington para apresentar um plano de reforço da segurança na fronteira. Segundo Howard Lutnick, "se eles fizerem o que é necessário, não haverá tarifas".

A situação lembra as recentes tensões entre Washington e Bogotá. No último fim de semana, a Colômbia recusou o pouso de voos transportando migrantes deportados. Trump ameaçou impor tarifas de 25% e depois 50% sobre os produtos colombianos, o que levou o presidente Gustavo Petro a negociar um acordo para evitar as sanções.

(Com AFP)

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